quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mensagem subliminar do presidente

Escravos,

Infelizmente estamos no final de ano e vou ter que aturar esse maldito recesso de festas de natal e ano-novo que perduram duas semanas e me contentar com a idéia de que vocês não estarão se massacrando pelos problemas da empresa. Ao menos, tentem utilizar esse período para refletirem nas besteiras quer fizeram ao longo deste ano e o quanto vocês deixaram de contribuir.

Nossa principal desculpa em 2008 foi a crise mundial. A nossa indústria utilizou – mais do que as outras - este pretexto para justificar um pouco da incompetência corporativa generalizada. Mesmo formado por uma casta de incompetentes, nosso setor é forte e temos um exército de recrutas escravos dispostos a doar 15 horas diárias de seu tempo para que possamos sustentar esse ciclo.

Graças a esse bando de escravos e mortos de fome que são vocês, conseguimos atender aos nossos stakeholders. Graças ainda a vocês, o ano de 2009 será repleto de mais explorações e torturas corporativas a troco de quase nada.

Os azares e danos morais e psicológicos de ser mais um escravo aqui é todo seu. Tomara que chova todos os dias nestas duas semanas de vossas ausências para nunca mais pensar em sair novamente de nossos domínios. E para finalizar em bom corporatês: voltem para 2009 cheio de KY e vaselina porque a buxa vai entrar mais forte.

Impiedosamente,

Jimmy Serra Elétrica

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Interpretando a Mensagem do Presidente

Caros colaboradores ( nós adoramos esse termo!)

Estamos bem próximos das celebrações de final de ano e, para muitos de nós (por que não todos? Simples: alguns escravos “trabalharão”nos dias 24 e 31 até às 15h), esse é um momento de ficar com a família (preste atenção: encerra-se aqui às referências ao tempo com a família. Afinal, sua verdadeira família são seus colegas de báia). É tempo também de refletir sobre seus desafios e conquistas (palavras sugeridas pela diretora de RH) e sobre suas contribuições para a nossa empresa, a Alpha (isso é coisa que se fale? Pensa bem? Você pensa o tempo TODO na porra da empresa e nem no NATAL você tem sossego!).

Certamente o ano de 2008 ficará marcado pelas profundas transformações na economia mundial. Todas a indústrias sentiram o impacto destes turbulentos tempos, incluindo a nossa (sim, o bonus do cara foi pro saco nesse ano. E ele não vai se foder sozinho. Tenha isso em mente). Entretanto, precisamos nos lembrar de que trabalhamos em um setor relevante para a economia e, principalmente, em uma empresa bastante rica em talentos (encheu a bola agora, hein? Se prepare para o ano que vem: você vai trabalhar que nem um camêlo. Em empresa, ninguém elogia de graça. Vão cortar gente e, os “talentos” que ficarem, trabalharão pra cacete).

Graças a você, estamos plenamente preparados para continuar fazendo aquilo que somos melhores: oferecer as melhores soluções para os nossos stakeholders (um pouco de corporatês aqui. 9 em cada 10 empresas “oferecerem as melhores soluções”). Mais do que isso, graças a você, continuaremos contribuindo para a melhoria da saúde das pessoas e aumentando a felicidade delas (é impressionante a arrogância das empresas! Reparem nas missões, visões e valores das empresas. É um mar de arrogância!). Graças a você estamos preparados para os novos desafios e conquistas que 2009 nos reserva (mais um trecho sugerido pela diretora de RH).

Obrigado por fazer parte do nosso time (hipócrita! O cara mal sabe o nome dos diretores!). Aproveite bem as festividades de final de ano! E volte cheio de energia! Contamos com todos para fazer de 2009 um ano ainda mais repleto de realizações (resumindo, meu amigo, com diriam na quebrada: tu tá fudido. Energia + Realização = trabalho, muito trabalho).

Cordialmente (um corporatês básico para encerrar),

- Jimmy (NUNCA ninguém ousará chamar Jim Stones, o CEO, de Jimmy. Mas é preciso “celebrar a diversidade e proximidade entre alta gestão e colaboradores” dentro da corporação)

sábado, 20 de dezembro de 2008

Corporatês, o dialeto corporativo - aula 1

Uma vez trabalhando por muito tempo em uma corporação, é natural que você adquira fluência no dialeto corporativo. Até mesmo, você pode ser uma daquelas pessoas que consegue levar muito bem uma conversa agradável devido seu nível cultural elevado e sua experiência de vida. No entanto não sobreviverás por muito tempo no vilarejo das baias de seu departamento, caso não possua perfeito domínio do “corporatês”.
Saber falar com seus vizinhos de baia é mesmo que saber trocar uma idéia com os “manos lá da quebrada” – simplesmente fundamental. Há uma forma, uma entonação, uma piada na hora certa. Tal como a “vila dos mano”, na “vila do povinho da empresa” há regras de comunicação que o impedem de maiores contatos caso não as respeite.Escravos que não falam o corporatês são vistos com estranheza e, muitas vezes, de forma risível.
A Flavinha do marketing interno sempre estará fazendo, estará entregando, estará se reunindo e, ai de você se disser que a Flavinha fará, entregará ou reunirá. Certamente você “estará sendo visto” como um ET.
Engraçado mesmo, só o Renato da mesa. Ele não compra e venda ações. . .ele “TREIDA”( do verbo “treidar”). “Treida” aqui, “treida” ali, sempre “treidando”. Sua posição é mais radical. Por ser da mesa de operações, não conversa com pessoas que não “treida” e que não ganham bônus de 500.000,00 ( quando “treida” bem , leva um bônus milionário, isto segundo ele mesmo diz na mesa de happy-hour . . .nestas horas você se pergunta: poxa, se ele ganha um bônus desse, por que continua como analista Junior trabalhando 15 horas por dia???). Eu explico. O Renato não passa de uma telefonista de luxo, cadastrando, o dia inteiro, ordens de compra e venda no sistema e, no entanto, se acha um ícone fundamental nesse jogo de milhões. Neste mesmo jogo, sua desculpa oficial em caso de demissão é a crise. “EU ganho bônus, NÓS somos demitidos”. . . . Enfim, ele trEIda!
A Rê lá do marketing tem um terrível “tique nervoso”: Não fala meia frase sem despejar o seu famigerado “ANYWAY”. Pensando bem, o “anyway” jamais poderia ter significado algum em qualquer conversa, no entanto realça bem o espírito corporativo padrão, em que “de qualquer forma”, as coisas devem ocorrer. Seja qual for o motivo, ela emprega um “anyway” no início e outro no final da frase. Nem sequer percebe o quão irritante é para o ouvinte, mas, anyway...
Na mesma família, temos o pedante “whatever”. Foi muito utilizado no linguajar world business "mortadelonico" das baias no início da década, mas hoje perdeu grande “share in mind” (guardem esse termo para 2015 . .vocês parecerão verdadeiros moderninhos no meio dos novos recrutas escravos da próxima geração) para o anyway. Os dois apenas não são idênticos graças a uma peculiaridade do “whatever”. Ele é tão genérico, ambíguo e abrangente que pode ser utilizado in solo. O termo é totalmente auto-explicativo e responde qualquer pergunta. Tente você desafiar o “whatever”; faça qualquer pergunta de qualquer gênero e verás como ela pode ser respondida facilmente com um simples “whatever”. Por isso a Rebeca (responsável pelas viagens internacionais) co-assistente estagiária da Cris (secretária) guarda nas mangas um “whatever”, o qual é empregado sempre quando sua bagagem cultural já não consegue mais acompanhar a dimensão intelectual da conversa – o que acontece com grande frequência.
Paulinho consegue demonstrar sua classe até mesmo na bosta. Perceba que quando as coisas não dão certo, ele solta em alto brado retumbante no meio do departamento o seu “shit”(esta mania de merda foi adquirida nos seus tempos de mochileiro na Nova Zelândia. .ele sempre deixa bem claro esta excursão). Quando a “vaca vai mesmo para o brejo”, ele despeja o seu Bull shit. Paulinho sempre faz alguma merda, mas nunca perde sua pose de filho do amigo do diretor.
Admira-me muito o Fernando da área de business inteligence, que sempre performa muito bem. O dialeto corporatês é uma espécie de incorporação do business english com o português e isto é uma ofensa para as pessoas de bom gosto. Por que deve o Fernando “performar” bem ao invés de desempenhar bem?? Por que sua performance é melhor que seu desempenho ???? Whatever. . .
Fechando a classe dialética estrangeira do corporatês, temos o Augusto do planejamento estratégico, que graças o seu knowledge, deixa poucos pontos T.B.D (TO BE DEFINED) em seu checklist semanal e, além de tudo, não discute com os colegas por causa de “peanuts”.
Começo a perceber que falar português em corporações multinacionais (especialmente as norte-americanas) é inadequado: não soa bem tamanho provincianismo! As pessoas lá presentes não possuem nenhuma nacionalidade a não ser o de sua empresa. Certamente o Fernando, o Renato, a Rebeca e os demais são mais corporativos que brasileiros e nesta nova nação de escravos multinacionais, a língua-mãe - o corporatês - é uma grande identidade.
É importante notar que mesmo os termos e expressões idiomáticas não traduzidas para o inglês guardam relativa proximidade com a língua estrangeira: tal como nos EUA, todo mundo “estará fazendo”. Passei muitos anos refletindo sobre esta expressão do corporatês e cheguei a conclusão que ele recai como uma luva no espírito corporativo. Se o sempre “enrolão” Henrique disser que “vai fazer”, significa que não começou algo PRA ONTEM (vide próximos parágrafos) e isto pega muito mal. Mas se deixar claro que estará fazendo, "vai estar passando" uma imagem de “já estou me movimentando”. Tal como um robô corporativo, ele já está programado para estar fazendo amanhã.
Passemos para outra classe dialética do corporatês: as expressões de efeito. Teixeira (aquele que roubava caixas de caneta) era imperdoável: exigia tudo de seus escravos pra ontem. Portanto, por mais que isto o tenha sido solicitado hoje e você tenha entregado 10 minutos depois, encontra-se automaticamente um dia em atraso. Acho deveras engraçado o “pra ontem”. O boçal indiretamente faz uma auto-denúncia: se ele diz ser pra ontem e te pede hoje, muito provavelmente esta querela dormiu na mesa dele uns dois dias. Mas, bata continência! Ele é capitão do mato e você, o escravo.
Por falar em escravidão, temos dentro do sempre agressivo e imoral mundo corporativo um ditado, que pode ser considerado um dos maiores assédios morais a um funcionário por pior que ele seja. Ao som de Wagner (no melhor estilo judeus e a câmara de gás), Teixeira treina recitando estes versos diariamente na frente do espelho toda vez que deve repreender o encarregado do almoxarifado:

“Nós já te pedimos . . . não bastou
Agora estamos mandando,
se não bastar, nós te trocamos.”

Tradução: “O trabalho liberta” (Auchwitz -campo de concentração, Polônia)

O pessoal da controladoria internacional está sempre alinhado entre si e suas posições são sempre conservadoras. Quando ouço que todo mundo está alinhado, me vem imediatamente a mente, a imagem de todos os escravos da controladoria, o co-supervisor e o supervisor, em linha, fardados como combatentes de guerra contra o pessoal do comercial, principalmente na época da elaboração do “budget”.
Soa muito bem, sobretudo nas áreas financeiras, dizer que o departamento tem ou não “budget para isto ou aquilo”. Certa vez, ouvi um fulano dizendo que estava budgetando (???) determinado projeto !!! Ainda bem que ele não durou muito tempo por lá!!
O budget não me incomoda tanto quanto o “NA VERDADE”. Quando alguém inicia seu discurso com um “na verdade”, passo a ter em mente que esta pessoa vem me enganando há muito tempo. Depois de tanto ter conversado, ela me aparece com um “na verdade”, eu me sinto, mais uma vez, verdadeiramente traído no malicioso mundo corporativo.
No auge de sua agressividade, a mulher-madura Luciana.Hauber (a Lú da área de recrutamento), sempre me ataca com um belo: “ACHO QUE VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO”. Respondo em mente que só ela consegue entender suas próprias imbecilidades. Perceba que a expressão “você não entendeu” é uma forma inconsciente de rebater a própria ignorância, pois em 90% dos casos, quem acusa o outro de não ter entendido, certamente não acompanhou a velocidade do raciocínio na resposta. Concluindo: “Acho que você não entendeu” de Lú é . . .
Rolos” ou, principalmente, “buxas”, todos - sem exceção - têm várias a serem resolvidas. O preguiçoso Rubão do contas a pagar não quer ser transferido para a área de cobrança, pois lá, é só BUXA. Mário Cesar sempre fica até mais tarde, pois sempre tem umas buxas e rolos para resolver.
Mais impressionante é a conotação sádico-anal do corporatês. Freud explicou muito bem. Passei a ler algumas de suas obras para refletir e entender melhor sobre esta disfunção do povinho da empresa. Quatro a cada cinco diálogos corporativos constam sempre que: alguém “bota no do outro”; o Teixeira “tomou uma legal”; A buxa - que está nas mãos do Mário César - vai entrar na do Jeferson; A Cris vai tomar uma “carcada” daquelas do diretor. O estagiário Leandro Leal foi contratado recentemente e o Teixeira vai “socar” a planilha do praxedes nele. E, para finalizar, o vice-presidente está voltando hoje dos EUA... a galera ta piscando pois sabem que vão tomar uma “comida” geral.

É ou não de doer ?!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Antônio Saldanha, o Sales Manager carioca

Antônio Saldanha, ou apenas Saldanha, 58 anos, carioca de Saquarema. É o atual Sales Manager Executive da subsidiaria fluminense da empresa. Como essa subsidiaria no Rio de Janeiro não e mais do que um show room de luxo para mostrar aos executivos estrangeiros da empresa as belezas da cidade maravilhosa, Saldanha, o vendedor chefe, era uma especie de semi-Deus. Saldanha comecou sua carreira como funcionario publico: na decada de 70, foi indicado por um deputado estadual que lhe devia "favores" a uma vaga de gerente no entao Banerj.
Lá ficou por certo tempo, mas suas vontades nao o deixavam parar por ali. Em 1982, dessa vez por indicacao de um cunhado assessor parlamentar, assumiu o posto de tesoureiro-adjunto da Suderj. Foi ai que Saldanha deu o pulo do gato: em menos de tres anos já era tesoureiro chefe. Por ser muito bem relacionado e um grande "facilitador" de negócios, Saldanha logo mudou de vida: comprou carro importado, apartamento de frente para o mar em Ipanema e ate um pequeno Iate, "para espairecer e esquecer os problemas do dia a dia", como ele mesmo gostava de ressaltar. Flamenguista de coração, toda semana ocupava a tribuna de honra do Maracanã. Afinal, a Suderj tinha espaco reservado lá. Quem não se lembra do nome Suderj escrito na parte inferior do placar do estádio? Nas viagens mensais para Brasilia, só ia de Varig. Não aceitava outra companhia. Os tempos porem mudaram. A Suderj perdeu importância (e verbas) e Saldanha achou que era o momento de procurar novos desafios. Já não conseguia lucrar como antes no meio publico. Resolveu partir para o mercado privado.
Por ser extremamente bem relacionado com quase todo o governo carioca, pois quase todo mundo tinha um rabo preso com ele, foi logo contratado pela empresa para assumir a área de vendas públicas. Tornou-se o Public Sales Executive for Rio de Janeiro and Northeast. Mas Saldanha não se contentava apenas com isso. Queria mais. E após a visita do Latin America & Caribbean Sales Executive ao Rio, Saldanha foi promovido a chefe de todas as vendas da filial. Mas também, após o tour por boates, termas e casas de massagens em que Saldanha levara o gringo pessoalmente, essa promoção era inevitavel. Tudo com a empresa bancando, é claro. Agora como chefão, Saldanha estava com toda a pompa que adorava: duas secretarias particulares, motorista com carro de luxo, sala paricular com banheiro e frigobar, cartão corporativo sem limites, celular ilimitado, motorista para a esposa e filhos (e para a amante também), além de um telefone direto fora do Pabx da empresa, para tratar de assuntos de "ordem estratégica". Sem contar a casa de Angra dos Reis da empresa, localizada em uma bela ilha, que todo fim de semana ficava reservada para Saldanha. Com o fim da Varig, só faz viagens nacionais pela TAM e internacionais pela Emirates. De 1ª classe, lógico. Classe executiva, segundo Saldanha, e para a raia miúda. Ele se considerava um peixe grande demais para isso.

A primeira viagem internacional de Mário César, Raw Database Quality Control Coordinator Latin America

Vocês já repararam como é engraçado quando uma pessoa de cargo intermediário vai viajar pela empresa? Principalmente, aqueles que nunca tiveram a oportunidade de sair do Brasil. Vamos ao nosso caso do dia.

Mário César acabou de ser promovido a Raw Database Quality Control Coordinator para toda a América Latina, depois de 2 anos na corporação como estagiário e mais 5 como analista de sistemas, fazendo planilhas e consertando laptops de gerentes dia e noite. Esse rito de passagem (a promoção) traz consigo novas responsabilidades (ou “novos desafios”, como as menininhas do RH gostam de falar) e a chegada a um novo patamar de status corporativo. Mário César, ao se tornar Coordenador, virou, digamos, um “homenzinho” na pirâmide (de Babel) corporativa.

Seu primeiro grande desafio é fazer o treinamento de 2 dias “How to manage and guarantee the raw database quality” na matriz da empresa, na cidade de Bloogminton, Illinois, Estados Unidos.

Que orgulho! Mário César vai para A AMÉRICA! Como nos filmes! Um verdadeiro Business Man! O pior: ele realmente passa a se achar importante...

Na manhã seguinte (ele não dormiu nada a noite pensando como vai fazer para enrolar os americanos com o seu inglês aprendido num curso de 6 meses em numa escola em Osasco), começam os preparativos. O circo, mais uma vez, está montado.

A Cris (secretária da diretoria) que nunca havia falado com ele, parece uma meretriz tentando agradá-lo:

- Cesinha! Cesinha! – aparece a Cris o chamando estranhamente de forma carinhosa no meio das baias – Precisamos emitir a sua passagem ainda hoje! Pode deixar comigo, querido: sou perita em “estar emitindo” passagens para a diretoria “estar indo viajar” para os Estados Unidos.

- Obrigado, Cris. – Mário César, para que todos ouçam, em alto e bom tom, agradece.

Essa pequena prosa já garantiu com que o vôo de Mário César atrasasse 2h, tamanha a inveja e urucubaca que as pessoas que ouviram que o Mário César vai viajar jogaram nele. Mas a arrogância de Mário aumentava a cada momento. Ele passa o dia todo fazendo os preparativos para sua importantíssima viagem.

- Cris, já posso pegar os dólares com o Zé da Controladoria? – pergunta, a plenos pulmões, Mário César ao passar pela copa cheia de gente.


E assim a correria continua durante toda a semana. Marca horário com o táxi, compra um sobretudo (afinal, é esperada uma temperatura de 15º C em sua chegada), cancela a aula de espanhol na mesma escola de Osasco e avisa a TODOS os seus amigos que não poderá ir ao futebol pois VAI PARA OS ESTADOS UNIDOS A TRABALHO (letras maiúsculas para tentar mostrar o volume da sua conversa ao telefone).

Ah, e é claro! Mário César vai realizar seu grande e mesquinho sonho: criar o “Auto Reply email”. Ele senta, pensa, escreve, re-escreve e, depois de uma manhã, termina a frase: “I´ll be out of the office (Meeting in the UNITED STATES) and will not return before July, 15th”.

Enfim chegou o dia da viagem. O taxi não atrasou nem 1 minuto! O vôo foi bastante tranquilo (tirando o atraso de 2h)! Apesar dos 21º C de temperatura, o sobretudo foi usado o tempo inteiro nos seus 2 dias de estada! O curso... bem, o curso... quem se importa!?!? Vamos é detonar os chocolatinhos Lindt que ele trouxe do Duty Free!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Lu, a analista de recrutamento


Luciana Hauber
Recruitment analist South America
E-mail: Luciana.Hauber@rh-alpha.com
Phone: +55 11 2345 6789
Fax: +55 11 2345 6134

Luciana.Hauber, 28 anos, trabalha há 2 anos e 3 meses na corporação. Ingressou em um programa de trainee que selecionava calouros para a área de pessoas. Exatamente, pessoas !!! Um rhneano corporativo que se preze jamais chamaria sua área de RH. . . DP então !?!? . . .você tá louco. ..nem pensar. Eles trabalham com “people”, com talents.
Muito embora eles trabalhem com people, perceba como é um “departamento de pessoas” de qualquer empresa: parece mais um departamento anti-pessoas, tamanho o descaso, a burocracia e a falta de atenção com os talents, que neste caso, parecem mesmo é slaves. Em todos eles, há alguma divisória da repressão que impede qualquer contato mais aproximado.
Estamos em pleno século 21, passando por uma fase de profunda revisão e modernização nos conceitos e nas pesquisas a respeito da gestão de pessoas e quando tenho que falar com a área de pessoas da nossa empresa, me deparo com uma enorme divisória xenófoba anti-funcionário, sempre tendo de aguardar 5 minutos até que a LÚ me atenda, no auge de seu mau-humor matinal, sob um “bom dia, em que posso ajudá-lo”
A Luciana é uma mulher (per)feita ! 28 anos, estabelecida profissionalmente, não depende de um companheiro para sustentá-la. Isto explica o fato de estar solteira. De fato, não existe homem suficiente para este mulherão. Independente, dona de si, bem produzida, culta – afinal “morou” 6 meses na Inglaterra
Estabelecida, pois é recruitment analyst de uma grande multinacional, o que lhe confere um ar de superioridade, principalmente quando trata os estagiários. Independente, pois é dona única e exclusiva de uma bagatela mensal de R$ 1.700,00 (mês) . 1.700 limpinho, sem desconto!
Além de rica, é dona de uma beleza corporativa, marcada pela suas maquiagens e roupas de marcas. Relaciona-se com as pessoas de uma forma padrão arrogante, demonstrando sua corriqueira falsa simpatia, falsa empatia e falsa dedicação em resolver problemas alheios. Isso também lhe confere o falso perfil “high interpersonel skills”. Mas, devemos lembrar sempre que em corporações, ser falso é ser real. Você não precisa ser high interpersonel, você deve interpretar este papel.
Lu adquiriu sua “habilidade interpessoal” quando passeou pela Inglaterra. Fez um cursinho safado de inglês e lavava chão na piccadilly circus. Ficou por lá 6 meses em um cubículo com 5 brasileiros e namorou um argentino, que, assim como ela, foi viajar para fazer putaria, beber e fazer mochilão.
Tradução para o corporatês (dialeto corporativo, na qual a sua não utilização é sempre mal entendida pelos outros habitantes das baias): Com intuito de refletir melhor sobre sua profissão e adquirir maior bagagem cultural (vide dica número 4, no texto “10 dicas para se dar bem em uma entrevista”),Luciana MOROU na Europa por um tempo. Neste intercâmbio, ela conseguiu aperfeiçoar o seu inglês, adquirir experiência profissional em outro país, na qual era responsável pelo bom saneamento da cidade, reportando-se diretamento para o cleaning supervisor. Viajou 1 mês pela Europa para ter contato direto com outras culturas (que em nossa opinião foi muito profundo).
Como recruitment analyst, Lu entrevista pessoas como ninguém. Ela tem feeling, conhece people, entende de perfil . . .afinal são 27 anos de novela das oito todos os dias. Associa entrevistados à personagem de novelas como ninguém. E não adianta ! Se houve alguma gesticulação errada, mau posicionamento ou mau emprego do corporatês, a Lu é implacável ! É CV para o lixo direto. Não serve nem para rascunho !Faculdade de ponta, pós no exterior e cinco anos de experiência na área . . .não importa! O feeling da Lú é infalível.
Enfim, Luciana é antes de tudo uma pessoa diferenciada e uma super-mulher. Por isso, esse ano ela sairá novamente na foto do cartaz de anúncio do programa de trainee 2010, daqueles pregados nos murais , sob o título de “ seja um talento, faça parte de nossa equipe”. Luciana é a corporação encarnada, a profissional que trata pessoas com o mesmo talento de quem advinha todos os finais de novelas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dez conselhos para se dar bem em uma entrevista

1 – A roupa é muito importante. Avalie o setor da empresa que quer te contratar. Se for uma de internet ou agência de publicidade, vista a sua roupa mais estranha. Dê preferência para calças xadrex, tênis all-star e camisetas com estampas de famosos descolados, tipo Mussum, Seu Madruga, Tim Maia e Sócrates. Se for um banco de investimentos, compre uma camisa de R$ 380 acinturada e uma gravata séria. A camisa de R$380 tem que ser aquela encomendada, com suas iniciais. Ex.: Se você é o Vitor Fasano, V.F. No caso de se tratar de uma vaga de marketing numa empresa de bens de consumo, camisa azul e aberta. Se você for mulher, use um decote na entrevista com o gerente. A entrevista com o rh não é o momento para usar aquela blusa branca pois você não pode ser mais gostosa que a entrevistadora. Lembre-se: ser gostosa é o principal “skill” para se trabalhar numa empresa dessas.

2 – Finja esquecer a pronúncia de palavras em português! Afinal, esse código linguístico é de um povoado da América do Sul e, quem quer se dar bem no Business World, não necessita desse conhecimento. Fale coisas do tipo: “Quando trabalhei na empresa Alpha, adquiri um... um... um... putz... como se fala ‘knowledge’ mesmo em português?” – isso vai impressionar.

3 – Gestos. Use muitos gestos se a entrevista for com a menininha de RH. Elas entrarão em colapso com tanta informação e julgamento: não conseguem assimilar gestos e palavras. Isso é um trunfo, rapaz!

4 – Coloque sempre um propósito profissional em todas as viagens que fez até hoje! Jamais fale que foi à Disney ou que foi passar o Reveillon em Paris enchendo a cara até cair. Além de gerar (muita) inveja, dá impressão de desleixo... Diga: “veja bem, fui a Paris no final do ano passado tentar entender como a cultura advinda da Revolução Francesa influencia as relações de negócio daquele país.”

5 – Existem alguma palavras-chave e termos que irão garantir o seu sucesso. Seja qual for o contexto, use-as: “iniciativa”, “capacidade de trabalho em equipe”, “voltado para resultados”, “versátil”, “ambição”, “perfeccionista”, “dedicação”.

6 – Jamais diga o quanto você quer ganhar. Jamais diga que gosta do horário de verão. Jamais diga que tem sonhos. Jamais diga que joga tênis às 19h30 de terças e quintas. Jamais diga gosta de férias. Jamais diga que gosta de passar um tempo com seus filhos, namoradas e amigos. Ou seja, não diga, sob hipótese alguma, verdades. A partir de agora você deve assumir seu papel de parte integrante da corporação. Seus desejos e anseios passam a ser estritamente os da corporação.

7 – Experiências anteriores: nunca desmereça o tempo que passou no Centro Acadêmico fumando maconha ou seu estágio nos fundos dos fundos do back-office do Itau. Sempre enalteça sua contribuição na empresa júnior da faculdade logo no primeiro ano, bem como as melhorias que fez nos processos de um dos bancos líderes na América Latina se reportando diretamente ao gerente. Aquelas duas semanas que passou na empresa do seu pai também contam como experiência profissional, afinal de contas você era o responsável por grande parte do gerenciamento do fluxo de caixa da empresa.

8 - Demonstre interesse: na primeira entrevista com o rh pergunte sobre o plano de carreira da empresa e se há expectativa de crescimento. Já com o gestor pergunte sobre a autonomia dos funcionarios na área e quais são as diretrizes da empresa para o proximo ano. Cite uma matéria que leu, que não se lembra bem se na Exame ou Valor (isso despistará um pouco...) sobre o mercado farmacêutico ou sobre o crescimento econômico dos Brics (use essa sigla ao inves de citar os nomes dos paises e torça para que ele nao estenda muito o assunto).

9 – Qualidades: Se mostre (lembre-se que em empresa, você não precisa ser, você precisa se mostrar), antes de tudo, um pró-ativo. Tente tomar iniciativa em tudo na entrevista. Se for possível, dê um jeito de você mesmo oferecer água ou café para o entrevistador. Sua outra qualidade-chave é o trabalho em grupo. Embora você seja o maior fofoqueiro e criador de pequenas intrigas do departamento de seu emprego atual, lembre-se que seu maior ponto forte é o trabalho em equipe, sempre ajudando seus colegas (embora sabemos que você nunca faz isso e quando faz dá um jeito de deixar bem transparecida a sua superioridade naquele assunto).
Como invariavelmente você será questionado sobre três virtudes, lembre-se que você também é um "Hands-on". Não importa o que seja isto, mas está na moda corporativa. Palavras em ingês soam bem aos ouvidos da Lu, a nossa analista de recrutamento, que brevemente ganhará um recital em nosso blog.

Quando questionado sobre seu defeitos, diga que você tem dois: perfeccionista e ansioso. Perfeccionista porque gosta de ter todas as coisas feitas corretamente e não admite erros ou falhas. E ansioso porque tem pressa de ver as coisas acontecendo. Especialmente os projetos que está tocando, ou os grupos que tem liderado...

10 - Quando o entrevistador pedir para conversar em inglês com você, tenha muito bem decorado a lista do seus hobbies. 9 a cada 10 analistas de RH tem seu inglês restrito a este tipo de pergunta. Pode ser que 1 a cada 10 estenda esta longa conversa de 3 minutos em outro idioma, questionando se você tem experiência internacional. Aí você já sabe o que dizer . .. vide 4ª conselho.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Cartões de Visita

Além de um cargo numa empresa multinacional de grande porte, há uma coisa que é motivo de orgulho para a maioria dos colaboradores (adoro esse termo!): seu cartão de visita. Como as pessoas adoram exibi-los, distribuí-los, mostrá-los...

Há aqueles que fazem questão de deixar alguns na sua mesa, pra que quem venha lhe falar algo, veja que trata-se do Internal Issues Coordenador (aguardem, porque logo mais postaremos sobre os cargos nas corporações). Outros inclusive colocam pregados na parede de sua baia. Tem aqueles que saem distribuindo para todos que vêem na rua, entregam pra recepcionista, pro porteiro, pro manobrista. Não me perguntem o por que, porque não sei dizer...

Mas o que me intriga mais com os cartões de visita, é a maneira como as pessoas agem com eles nas reuniões. Quando uma reunião vai ter início, os caras se apresentam e dão aquele tradicional aperto de mãos (que tem que ser firme, aperto de mãos leve, é coisa de mal profissional. Novamente, não me pergunte por que, que eu não sei a resposta).
Aí vem a cena que me intriga. Depois do aperto de mãos, há a troca de cartões de visita. Um fato natural, não fosse por uma situação: Nunca, nunca ninguém pode olhar para o cartão do outro. Você tem que assim que receber o cartão, automaticamente colocar no bolso do paletó, guardar no seu porta-cartão (não sei também porque não se pode colocar na carteira) ou colocar na mesa, para o caso de você se esquecer do nome do cara com quem está falando. Mas não pode olhar. Quem olha se rebaixa, como se quisesse ver se é pior ou melhor que o outro. E olhando você mostra que é pior. Simples assim...

O Holerite

Nem mesmo situações banais passam despercebidas aqui no nosso blog. Alguém já parou pra pensar sobre o que acontece durante a entrega de holerites? Nunca? Então vamos lembrar.:

Quando a menina do RH vem passando de mesa em mesa, os colaboradores (adoro esse termo!) reagem de diferentes maneiras. Tem aquele cara, piadista, que todo o mês faz a mesma piada: segura o holerite com as duas mãos, age como se estivesse segurando uma bigorna e diz:
- Nossa, que pesado que tá esse mês! É muito dinheiro aqui dentro...
Engraçadinho até. Ainda mais se comparado com aqueles caras que parecem que têm muito a esconder. Recebem o holerite, olham para os lados, como se checando se não há ninguém vendo, abrem, dão uma rápida espiada e colocam na sua pasta. Ou então aqueles que assim que o recebem já colocam na gaveta e a trancam.
Por que será que fazem isso?! Será que seu salário é muito maior que o dos outros? Ou será que tem alguma outra informação que os outros não podem saber, sei lá, tipo, orientação sexual. Vem escrito:

Colaborador: Jorge Menezes
Salário: 3.689,00
Descontos: 1.249,12
Orientação sexual: HOMOSSEXUAL

Elevador

Quem trabalha em uma corporação sabe que o teatro corporativo, o jogo, ou qualquer outra denominação que você dê ao seu trabalho, começa quando você chega na empresa e toma o elevador.

Você não faz a menor idéia de quem seja seu colega de trabalho, mas você tem a obrigação de fazer algum comentário e puxar um assunto. Afinal, vai que esse cara vira seu chefe amanhã. Num elevador são abordados diversos temas de nossa sociedade, por exemplo:

Metereorologia:

- Calor ein?
- Pois é, numa hora dessas da vontade de ta na praia né?
- Ah é. Mas o pior é que ouvi dizer que vai chover no fim de semana.
- Ah, é sempre assim né? Faz sol a semana inteira e no fim de semana chove
- Humm, ninguém merece ne?

Cotidiano:

- Que trânsito né?
- É, e ta cada vez pior ein?
- Pois é, daqui a pouco essa cidade vai parar
(percebam como as pessoas parecem ser meio videntes, porque tão sempre fazendo previsões do futuro, mas anyway..)

Futebol. Futebol é aquele tema que sempre dá assunto aqui no Brasil. Mas na maioria das vezes num elevador você não tem muita intimidade com a pessoa, entao não dá pra dar aquela sacaneada:

- E o seu Corinthians ein?
- Ah nem me fale viu...esse time só me dá tristeza.
- Hehe.....
-Mas ano que vem tamo de volta na primeira divisão (Vejam a previsão novamente)

Tempo

- Maio já ein?
- É daqui a pouco é quase Natal já...(que puta exagero!! Mas olha a previsãoaí presente)
- Como voa o tempo ne?

E é claro, ninguém fica sem falar de trabalho. Sempre tem aquele cara que não faz a menor idéia do que vc faz e pergunta como vai o trabalho:

- E ai? Como tao as coisas? Trabalhando muito?
- Ah sempre ne? Na correria...
- Ah ta, assim que é bom ne? (Como bom?! Me explica!!)

Mas também tem aquele cara que sabe um pouco só sobre você. Sabe que você é da área de vendas mas não tem noção do que vc faz. Aí vem e fala:

- E ai? Vendendo muito?
- Ah bastante...(acabei de perceber que praticamente todas as frases proferidas no elevadore começam com “ah...”)
- Legal. Daqui a pouco vc vira presidente aqui (olha mais uma previsão)

Agora invetaram de colocar uma TV de plasma no elevador. Aí fica passando umas notícias, que dão tema pra mais uma profunda conversa de elevador. Aparece ali: “Bovespa tem alta de 3%”.

- A bolsa subiu ein?
- Pois é, 3 por cento. (porra, o cara sabe disso! Por isso que ele falou que subiu...)

Ou entao aparece: Corinthians perde mais uma. Desta vez para o CRB

- Coringão perdeu mais uma ein?
- É, dessa vez pro CRB...

Quer dizer, na verdade essa TV de plasma foi feita para aumentar a sua obrigação de puxar assunto, já que dessa vez não tem desculpa, você sempre vai ter assunto. Pensando bem, acho que essas TVs de plasma não passam de um instrumento do RH para promover a integração entre os funcionários, como aqueles cafés da manhãs...

Dogmas Corporativos

A planilha de nomes de clientes criada pelo Laerte Praxedes, ex supervisor da área de cadastro de clientes e ex-chefe de nosso amigo Teixeira, ou Senhor Teixeira, para os subordinados, é tida como uma verdadeira bíblia sagrada dentro da corporação.

Elaborada em 1987 pelo minucioso Praxedes, a planilha relaciona diversos clientes com suas subsidiárias, outros nomes fantasia, empresas controladas etc. Seu principal uso é para distribuir organizar o setor de vendas, permitindo assim que um único vendedor atenda o mesmo grupo de empresas.

Questionar a planilha de vendas é a mesma coisa de se questionar o que está escrito nas sagradas escrituras. Se lá está escrito que a Vasp é o principal cliente da empresa, é uma injúria tentar dizer que isso está fora da realidade. E aquele que levantar essa inverdade será considerado um pagão.

Outro dia mesmo, Leandro Leal, estagiário do departamento de finanças, foi questionar o porquê de o Banespa ainda constar como cliente da Prodesp – Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo, se há anos o banco foi privatizado. Aquilo foi tomado como uma ofensa ao divino. Como um simples estagiário ousou questionar um dogma que nem mesmo os diretories mais respeitados pensam em discutir? Teixeira ficou furioso. A planilha do Praxedes é inquestionável, disse ele.

Teixeira, aliás, usa a planilha do Praxedes para tudo. Por ser um profundo conhecedor de seu conteúdo, afinal era o customer register suporter junior favorito do Dr. Sebastião, criador da planilha., em qualquer querela envolvendo segmentação de clientes logo evoca a planilha de Praxedes, contra a qual nenhum argumento tem valor. Assume assim um papel de sábio, referência quando o assunto é a planilha. Até mesmo para ter acesso ao diretório onde fica gravada a planilha na rede do departamento é necessário a autorização do Teixeira. A planilha é importante demais para que qualquer pecador possa vê-la.

O pobre estagiário, Leal, que recém saído do ensino médio não conseguia entender como as pessoas ainda usavam como referência uma planilha feita na época da Guerra Fria, foi submetido a um verdadeiro tribunal de inquisição. Teixeira levou pessoalmente o assunto ao diretor financeiro. Tratou o caso como uma questão “de diretor para diretor”. Um castigo severo deveria ser aplicado naquele que tentou ir contra um dogma fundamental daquela corporação. Isso deveria servir de exemplo para os demais. Nunca, nem mesmo nas situações mais adversas, a planilha de Praxedes pode ser questionada.

Logo os demais membros da empresa tomaram partido de Teixeira. Afinal, também tinham fé na planilha. É claro, pois muita incompetência e erros eram escondidos ou camuflados com a desculpa: “mas eu fiz de acordo com a planilha do Praxedes”. Falado isso, estava encerrada a discussão.

Leandro Leal não teve seu contrato de estágio renovado. Como justificativa, a empresa alegou que ele não compartilhava de seus valores e princípios.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Os Últimos Dias

Rumores rondam e rodeiam pelos cubículos do departamentos. No semblante dos escravos, um ar de inquietude, ansiedade e impaciência. Está certo que ser inquieto, impaciente e ansioso é uma condição essencial, uma espécie de competência indispensável para se trabalhar em uma corporação... Eu diria que é um status. Nas empresas, não há liberdade de ser calmo, sensato e equilibrado. Isto sempre é percebido como leviandade, desmotivação e desleixo.

Entretanto desta vez, tudo está muito estranho. O junior analist, a endomarketing co-assistant e o intern conversando longamente no café denuncia: algo sensacional está por vir! As fofocas não estão rolando nas baias por enquanto, e sim em lugares bem distantes tal como o almoço, happy hour e etc.

“Não posso soltar esse babado para vocês agora... É muito delicado!” Essa frase idiota é sempre pronunciada quando acontece coisas deste tipo. Na verdade, não é idiota, mas sim nojenta e mesquinha. Ou alguém acha que um corporolóide que se preze preservaria a integridade de um colega? Aliás, quem disse que existe integridade moral em empresas? Se ele diz não poder “soltar esse babado agora” é porque tem a informação primeiro e, portanto, confere a ele um ar de “sou mais influente que vocês”. Palmas para o assistant suporter, que se acha um ícone da comunicação informal da empresa, mas não passa de uma fofoqueira de portão das mais rampeiras.

A provável saída de um colega é sempre acompanhada de um ar misterioso e algo é inevitável: o surgimento de uma das mais famosas e indiscretas perguntas do fofoqueiro mundo corporativo: “ele está saindo, ou vão sair com ele ?”.

Na maioria das vezes ninguém sabe, mas aí é que está a graça! Afinal, uma vez sabendo que ciclano está saindo, inicia-se um período de grandes atrações corporativas, com muitas apostas e sessões “falsidade emocional com frases de efeito”, tais como “nossa que pena” (quando alguém fala isso, você pode crer, ele tá dando graças a Deus que o ciclano tá indo embora).

O Mercado sujo de apostas maldosas das baias do departamento está apelando: saiu, ou saíram com ele? Vamos pensar que saíram com ele, assim evitaremos que os queridos colegas de trabalho percam a oportunidade de queimá-lo e maldizê-lo pela última vez, da maneira mais cruel e exagerada possível. Afinal alguém já viu um corporolóide elogiar um colega de trabalho? Digamos que isto ocorre em uma proporção de 1 a cada 10.000 críticas que ele defere aos colegas durante o ano inteiro. Ao longo de todos estes anos de empresa, sequer me lembro de alguém elogiando o trabalho de um colega de mesmo nível hierárquico.

Mas enfim, sem polêmicas! Saíram com ele... Consigo ouvir daqui aqueles comentários baixos, mas enfeitados sempre com a sofisticação barata do mundo corporativo. Invés de uma plaquinha do tipo “eu já sabia. .filma eu galvão”, tal como nas transmissões do futebol, a nossa analista Mari, vai dizer que “tudo isto já estava na cara, afinal ele estava saindo mais cedo todos os dias. Vai ver que ele já sabia e estava fazendo entrevista”. A secretária Ana denúnciou: “o filme dele com o pessoal da diretoria já estava muito queimado”. Aproveitando o ensejo, o Rubão do contas a pagar alfineta: “também o cara não dava uma dentro”.

Até então nosso querido colega nada havia que pudesse desaboná-lo, mas repentinamente, subitamente e devido ao inconsciente coletivo, passou a ser o pior profissional possível. O povinho da empresa se sente na obrigação de justificar a fofoca, claro que cada um da sua forma, maneira esta que em 95% dos casos é infundada e sem sentido.

Alguns escravos estão perplexos! Será uma crise? Será que é corte de pessoal? Este tipo de assunto mexe com a estabilidade dos escravos e o mais engraçado é que neste ponto as fofocas, os temores e as dúvidas se tornam enormes, porém é necessário manter sempre um falso sigilo. Pessoal mandando CV... Qualquer comentário descuidado no meio do departamento pode ser fatal.

No entanto, o momento derradeiro foi quando o seu chefinho saiu para conversar com este nosso colega retirante em particular numa sala de reunião. O IBOPE de pelo menos três departamentos juntos atingem recordes a ser comparados apenas com a final da novela das 8 (não esqueça, empresas são novelas) – acabou o expediente – é fofoca e cogitação até o final do dia.

Eis que no outro dia pela amanhã, o colega anuncia sua saída e, o melhor: ele pediu as contas e segunda-feira começa na nova empresa! Não saíram com ele! Fofocas erradas, conclusões estúpidas e preocupações sem motivo.

As animações do último dia são hilariantes. A saída de um colega de anos é um evento, festa, onde alguns comemoram e outros lamentam, mas todos sem exceção comparecem ao último happy-hour. Afinal, na verdade, todos estão querendo uma “boquinha” na nova empreitada.

Durante o último dia, sessões de falsidade emocional, na qual quem parte é a grande estrela do mundo de Caras versão empresas: a secretária Ana sempre chora quando alguém está de saída; o Rubão saiu do seu cubículo, lá no contas a pagar, para desejá-lo boa sorte e dizer que se não fosse ele, o departamento estaria perdido. Aproveitou para deixar seu contato. Os supervisors e co-supevisors se utilizarão de falsa polidez para agradecê-lo por tudo.

A Mari aproveitou para tirar fotos o dia inteiro, do colega em seu cubículo, de toda turma no último almoço e centenas de fotos no happyhour. Tudo indica que a sessão de fotos da Mari não vai parar no happy-hour, mas a continuação desta história fica para o post sobre romances corporativos...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O Aniversário do Diretor

Em toda a história da humanidade, sempre se veneraram os Deuses. Alguns com formas humanas, outros com formas animais. Alguns povos acreditavam existir vários Deuses, outras civilizações acreditavam ter apenas um. Deus, Alá, Yaweh, são diversos os nomes. Cada religião chama o seu da maneira como convém.

No mundo corporativo os Deuses têm outro nome: O Diretor. Esse é um ser acima do bem e do mal. Todos os funcionários veneram (estou excluindo aqui o presidente, já que esse não faz parte do dia-a-dia de trabalho). O cara que sabe mais que todos, que tem o carro melhor, que todos conhecem, que é mais bem sucedido, que chegou mais longe na evolução empresarial. Esse ser, uma vez por ano faz aniversário. Essa data é, no mundo corporativo celebrada como o Natal, para os Cristãos. No dia do aniversário do Diretor, todos prestam reverências, fazem homenagens.

Tudo começa com a preparação.

Primeiro passo: Quem vai comprar o presente? Essa, normalmente é tarefa para o Gerente Senior, afinal, o presente pro Diretor tem que ser caro. Ou você acha que ele vai usar uma camisa que não seja ao menos de uma Brooksfield da vida? E tem que ser o Gerente Senior, porque ele é o único cara que tem o cartão corporativo. Não interessa se depois vão rachar o presente. Tem que pagar no cartão corporativo (mas isso é mote para outro texto).

Segundo Passo: Quem vai comprar o bolo? Com certeza é assunto da Marketing (Finance, Operations, Sales Administration) Executive Assistant, também conhecida popularmente como a secretária bilíngüe. Ela que conhece os gostos do Diretor, afinal é ela quem pede e recebe seus lanches no Delivery.

Aí sempre rolam as especulações. O Zé povinho sempre fica de supetão, porque pode pintar uma boca-livre no almoço. E se rolar o almoço, é almoço de 3 horas amigo. Almoço de 3 horas quer dizer nada de trabalho a tarde...

Pois é, não rolou almoço, vai ser só o bolo na sala do Diretor. Então começa um outro episódio. Quem vai ser o primeiro a entrar na sala? Essa é uma disputa que podemos chamar de 100 metros rasos corporativo. O cara quer chegar antes, ser o primeiro a entrar na sala, mas não pode dar na cara, então da aqueles passinhos acelerados. Tá bom, acho que não seriam 100 metros rasos, mas uma marcha atlética corporativa.

Na hora do parabéns, diferentemente daquela cantoria que rolou na última festa que você esteve presente na empresa, em que apenas meia dúzia cantavam, na do Diretos todos cantam. TODOS, em alto e bom som. Afinal, Deus tem que ouvir sua voz, perceber que você está feliz por ele, que é uma data especial.

Falta apenas dizer que todos os funcionários vão dar suas felicitações ao Sr. Deus. Mesmo aquele cara que trabalha em outro departamento e a 3 andares de distância tem que subir esses 3 andares para dar um saudoso abraço, desejar o melhor da vida e que muitas coisas boas ainda lhe ocorram. E sabe que vão ocorrer. Por que? Porque ele é Deus.

Casual Day

Com intuito de “motivar os colaboradores” e “propiciar um ótimo clima organizacional” (as menininhas de RH adooooooram esses termos!) foi instituido um dia na corporação no qual é permitido utlizar roupas mais leves e menos formais: o Casual Day, um dia extremamente engraçado.

Em vez de terno, camisa social, tailleur, salto de bico fino e maquiagem delicada, nesse dia, você verá coisas fantásticas e inesquecíveis.

Vamos aos nossos personagens e seus trajes super-descolados das sextas-feiras.

Jefferson trabalha no departamento de TI. Durante a semana desfila com suas camisas brilhosas de tecido sintético das suas cores preferidas: laranja e verde água. Calça? Sempre preta. Sempre. A não ser na sexta-feira, quando não titubeia ao colocar sua calça jeans beeem azul e uma camiseta da Onbongo que viu seu ídolo Felipe (goleiro do Corinthians) usando num determinado programa de televisão de domingo a noite.

Maria Cristine é secretária da diretoria (Cris ganhará um texto em breve aqui no blog). Adoooora pagode, mas, devido ao seu importante cargo de lambição aos diretores e sua síndrome do pequeno poder, só pode demonstrar seu gosto no mágico Casual Day. Seus trajes: calça branca e uma blusinha preta um “pouquinho” decotada (no máximo se ve as curvas dos seus fartos, firmes e bem torneados seios, nada mais que isso).

Paulinho é analista sênior de marketing da principal marca da empresa. Seu pai joga golf com o diretor de marketing (Daí acabou descolando esse job pro filho do seu brother que saiu da faculdade no terceiro ano para abrir uma balada na Vila Olímpia que faliu em 3 meses. Mas isso também é assunto para outro texto). Durante a semana só usa camisas feitas sob medida pelo seu alfaiate e com suas iniciais estampadas. Já na sexta-feira, usa pólos e tênis extremamente chamativos. Ué? Mas pode usar tênis? Pode usar pólos que não sejam lisas ou com no máximo pequenos detalhes? Paulinho, o amiguinho do diretor, pode.
Teixeira, 42 anos, é Coordenador de Cadastro de Clientes (aquele cargo que ninguém sabe porque existe). Não fala inglês (não acha relevante), não terminou a faculdade (não acha relevante), não sabe trabalhar com Excel (não acha relevante) e não trata bem seus subordinados (não acha relevante). Mas nunca chegou atrasado! Religiosamente está no escritório diariamente às 7h50. Seu lema: trabalha bem quem acorda cedo! Faz isso desde os tempos em que era Coordenador de Filas numa agência do Banespa (onde ficou 15 anos antes de ser demitido após a desestatização do Banco) e Supervisor de Administração de Vendas (dessa vez, no Mappin). Para Teixeira não existe Casual Day. Segunda a sexta, faça chuva ou Sol, Teixeira está com seu terno preto, camisa branca e gravata vermelha. O seu maior prazer nas sextas-feiras é criar caso e criticar as roupas dos outros funcionários.
Na última sexta-feira, ao ver Paulinho com uma pólo daquele que era seu time de Rugby preferido quando morava na Nova Zelândia, o New Zealand Bees, e um Nike Super-Mother-Fucker-Z-Type-Shox com 17 molas personalizadas, Teixeira não teve dúvidas em criticar suas vestimentas. Chamou seus colegas, chamou aqueles que com quem nunca havia falado antes, para zombar do pobrezinho do Paulinho. Mas logo do Paulinho, Teixeira? Ele é amigo do diretor, cara! Que erro fatal... Foi demitido na segunda-feira no final da tarde. Motivo alegado: roubava caixas de caneta...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Escritório Regional do Rio de Janeiro

Toda empresa multinacional que se declara de grande porte (aliás, alguém já viu alguma empresa multinacional se declarar de pequeno porte? Não existe, mesmo que tenha apenas 4 funcionários de vendas) tem um escritório em São Paulo, onde a boiada trabalha freneticamente em busca de uma promoçãozinha ou aumento de salário de 500 Reais e outro no Rio de Janeiro.
Vamos chamá-lo de Escritório Regional do Rio de Janeiro. Bacana, afinal, nesse Brasilzão, tão grande, não há como ter apenas uma sede né? Bem, nem tanto. Esse escritório tem algumas características que o de São Paulo não tem.
Vamos comparar?
Em São Paulo você tem horário para entrar? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não tem horário.
Em São Paulo você marca ponto quando chega? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não se marca ponto.
Em São Paulo você trabalha às sextas-feiras? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha às sextas-feiras.
Em São Paulo vocês fazem escala pra definir quem trabalha na sexta, depois do feriado de quinta?
No Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha na sexta, como acabamos de informar (ah, mas e se o feriado for na terça? Nesse caso no Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha na segunda)
Em São Paulo você trabalha na quarta-feira de cinzas depois do meio-dia? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha na quarta-feira de cinzas depois do meio dia. Nem na quinta. E nem na sexta, como já informamos mais de uma vez.
Em São Paulo seus relatórios de despesa são limitados? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não tem miséria.
Em São Paulo seu almoço é no restaurante por quilo? No Escritório Regional do Rio de Janeiro é no Porcão. De segunda a quinta, afinal, no Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha às sextas-feiras.
Em São Paulo você sai um pouco mais cedo na Copa do Mundo pra ver o jogo do Brasil? No Escritório Regional do Rio de Janeiro não se trabalha durante a Copa do Mundo.
Agora, você, estagiária que acabou de entrar no mercado, louca pra aplicar seus conhecimentos da faculdade (que nada mais são do que os 4Ps do Marketing), e cujo sonho é ser gerente de produto da Unilever, está escandalizada, e questionando:- Gente! Mas se é assim, por que eles mantém esse escritório?!
Quem falou que as coisas são bonitas assim, mocinha? Vou lhe responder com duas palavras: Visita Internacional. Toda subsidária brasileira tem que ter um Escritório Regional no Rio de Janeiro para receber bem os gringos. Lembre-se, estamos falando de uma empresa multinacional de grande porte. Sempre que a alta cúpula da empresa vem para o Brasil, tem que rolar uma visita a campo. Aquela visita onde os caras vão visitar um ponto de venda, onde na semana anterior, 14 promotores trabalharam para fazer a empresa dominar todas as gôndolas do hipermercado e dar a impressão de que o share da empresa no Brasil é fantástico. Mérito dos promotores? Negativo. Bola, grana, propina pro gerente da loja. E onde seria a visita a campo? Na 25 de Março? Negativo! Ipanema, Leblon, Porcão, Barra Brasa, Nuth, 4 por 4, termas... Afinal, por qual motivo a diretoria internacional gostaria de ter uma subsidiária no Brasil? Pelo potencial? Pfff.É Pela sacanagem moçada!!!

sábado, 22 de novembro de 2008

A chegada do Chief Sustantability Officer - Africa and Middle East

Al Saad é mais uma daquelas pessoas sujas que hoje já não guarda qualquer valor para a corporação, mas como é dono de um grande acervo de calhordagem da empresa durantes seu 35 anos de casa, além de ter um certo lobby com um monte de líderes africanos e sheiks, foi necessário criar um cargo para essa figura incompetente e pilantra. Eis: CHIEF SUSTENTABILITY OFFICE reportando diretamente para o CEO. E o que ele reporta???? Porra nenhuma!!! No máximo, as sacanagens que estão acontecendo nos governos e algumas sujeiras corporativas que todo mundo sabe.

O latin-America inter world relationship manager, o Barbosa, decidiu que era hora de convidá-lo para uma série de apresentações e comitês visando apresentar a sede, além de agendar uma reunião com os VP´s brasileiros. O Barbosa - que não passa de secretária de luxo da presidência (na cadeia, ele seria o mesmo que a barbie da malandragem) - conseguiu!!! Vocês acham que o calhorda pilantra iria deixar de vir ao Brasil para um show da patifaria corporativa descendo aos mais baixos níveis de hipocrisia, com uma série infindável de blá-blá-blá dos mais picaretas??? Jamais!!! Imagina sequer uma conversa do CSO com o Barbosa. É a “putaria” corporativa instalada.

Alias, um tema bastante convidativo para os próximos capítulos é o Barbosa. Esse é aquele tipo que virou world relationship manager babando ovo para todo mundo. Puxa saco safado: 10 anos babando ovo para diretores e presidentes. Como guarda uma profunda incompetência para tudo que não seja a pagação de pau, não poderia exercer mais do que esse cargo. O que já é demais para este boçal.

Mas como diria uma boa endomarketing co-assistant, “não vamos perder o foco”...
Vem para o Brasil daqui duas semanas o CSO africano. Ou melhor, de Dubai: africano não pega bem no glamour “mortadelonico” corporativo. E se ele é CSO África e Oriente médio, é melhor chamâ-lo de Al Saad do que de Fernangobo... O problema é que o povinho da empresa está esperando um sheik, mas o que vai chegar mesmo é um baita de um negão.

Sem problemas: o importante é que o mercado de fofoca do pregão das baias de departamento está alavancado. Nos corredores estão dizendo até que o Rei saudita estaria vindo. As empresas são reproduções com glamour do mundo dos programas de fofoca na TV, os quais curiosamente ocorrem no mesmo horário em que as baias estão pegando fogo em insinuações, comentários, mentiras, venenos e outros. No mundo sujo dos cubículos corporativos, quem conta um conto, alavanca 4 pontos, seja no corredor, no café, no almoço, com o colega ao lado e etc.

As corporações são grandes encenações, novelas, mas isto não poder estar transparecido. O grande evento do Barbosa é a “vinda do sheik”; Porém seria necessário criar um cenário, um motivo, um contexto. Então, eis que aparece naqueles mesmos murais onde estão descritos os valores e a missão da empresa, o anúncio do “1st round of company world business sustentability – Brazil”. O mais hipócrita disso tudo é o anúncio da chegada desta escória vergonhosa ao lado do quadro de valores de uma empresa centenária que fatura bilhões e emprega centena de milhares!!!

No mínimo, sarcástico!

Já é do conhecimento de todos que este Deus do momento está descendo no Brasil. O que resta saber é a agenda corporativa do Sr. Al Saad, a qual será anunciada em um daqueles e-mails do departamento de comunicação ou RH, sobre o título de “scheduling – 1st round of company world business sustentability”... Esse Barbosa é mesmo um comediante de primeira! Um fanfarrão!

Comitês, reuniões, além de que todas as manhãs haverá café com cada departamento. No último dia, almoço especial em alguma churrascaria. Todo mundo irá.


CHEGOU O NEGÃO

Com certeza veio de 1ª classe, com direito a limousine de translado e uma tradutora gostosa do lado. Enquanto isso, na sala da injustiça, aquele estagiário super inteligente e com um CV 10 x melhor que o do Barbosa está sendo dispensado por causa do corte no orçamento do ano que vem.
Mas como já advertiu a co-assistant, não vamos perder o foco.

É muito engraçado como as coisas acontecem após os primeiros dias. No primeiro, houve uma apresentação formal à média e alta gerência. Entre eles, o financial co-supervisor, aquele seu chefinho do episódio do almoço e o supervisor, aquela agradável presença com quem você foi almoçar.

Mentalize esta cena e verás um cenário bastante conhecido: você e todos os outros escravos sentados, cada um em seu cubículo, correndo a 1000 km/h nas planilhas para entregarem aquele relatório às 10h e os dois artistas contracenando uma peça teatral em meio a gargalhadas e bla-bla-bla no meio do departamento, conversando sobre o encontro de ontem com o Fernambogo. Na verdade, o que houve ontem de fato, foi uma apresentação formal na qual cada um falou 1 minuto sobre o que faz. O Fernambogo nem olhou para cara deles... Mas agora eles discorrem sobre o episódio em alto e bom tom no meio do departamento como se já fossem amigos íntimos do sheik negão. Em meio àquela conversa barulhenta, o co-supervisor interrompe sua descontraída conversa com o supervisor para te advertir que restam 10 minutos para entregar o relatório. Ser gozado desta forma é um arranhão à honra de qualquer pessoa honrada. Mas quem disse que existe honra em empresa?

O comportamento dos diversos escravos é bastante distinto: uns suspeitam, outros acreditam, algumas estagiárias adoram e veneram, aquela analista sênior mulher- madura-e-solteira-de-35 anos vai perguntar indiretamente e simpaticamente para o co-supervisor se o escória é um “partidão”. Certamente ele fará uma piada corporativa, citando que provavelmente ele deve ter um grande e grosso segredo. A piada é extremamente sem-graça, mas quem não riu está ferrado, afinal, no mundo corporativo, quanto maior o nível hierárquico, mais engraçado é! (É quase mandamento não rir de piadas de estagiários).

O café da manhã com seu departamento foi uma diversão. A baixaria do show business. Alguns escravos treinaram sua apresentação em inglês de 30 segundos durante toda semana. Algumas escravas se perfumaram inteiras e foram de lingerie. Os estagiários adoram estes eventos. Ficam falando o tempo inteiro que vão se matar de comer. Pelo jeito são os mais sinceros!

O mais importante é a diferença de motivação. Na noite anterior o Fernambogo retornou ao hotel às 5 horas da manhã, pois estava num puteiro com a alta gerência. O cara vai receber os escravos e os neo-amigos supervisors para um café da manhã com aquela puta ressaca e uma cara de sono infernal.
Mas, enfim, viva o show business! Os supervisors vão falar flores do departamento. Você vai ficar puto, pois sabe que é mentira. Alguns escravos tímidos se apresentarão rapidamente e bem basicamente. Já o junior analist que trabalhou nos EUA 2 anos procurará falar bastante para mostrar quão robusto é seu inglês e, como não poderia deixar de ser, na seção hipócrita do “alguém gostaria de tecer um comentário ou fazer alguma pergunta” o estagiário nerd indagará Fernambogo sobre a atual crise.

Fernambogo está de ressaca, de saco-cheio e louco de vontade de chegar no hotel para dormir umas 15 horas, já que tomou todas e se matou na putaria. Putaria de noite, putaria pela manhã. A diferença é que as putas da noite estavam de fio-dental e blusinha, enquanto que as da manhã estão de terno e gravata o recebendo para um café da manhã corporativo.

No dia seguinte é vindo o grande momento: o dia do pronunciamento do Deus Fernambogo que até então só ouviu. Local: sala de eventos; convidados: todos.

Fernambogo fez um discurso de 5 minutos, na qual, 2 minutos foram sobre a sua estadia no Brasil, outros 2, sobre a superação das filiais africanas em meio a fome e no minuto final, um agradecimento a todos pela recepção.

Este evento foi de fundamental importância ao futuro da empresa. Nada como o CSO no Brasil. Depois deste profundo discurso, certamente foi projetado um grande e SUSTENTÁVEL futuro para a filial na América Latina.

Uma peça circense disfarçada de comitê de negócio, onde o palhaço é você e o picadeiro é o mundo fashion da sua empresa. E não seria palhaço? O mais triste é ver a cara de satisfação e orgulho do seu financial supevisor em receber, para um café-da-manhã, um gringo safado, bêbado e putanheiro.

Enfim, Fernambogo por aqui foi um grande show com atrações corporativas das maiores, incluindo reunião com a alta gerência no Sheraton, almoço com a alta gerência no Vento Haragano, comitê executivo com a alta gerência, jantar regado a caipirinha, putaria de primeira classe, viagem ao Nordeste (com o apelido de “desvendando novos mercados na A Latina”).

Empresas: a zorra total de todos os dias!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Café Corporativo

É impressionante como o mundo corporativo nos transforma em seres totalmente diferentes do que nossa personalidade e inconsciente exigem de nós. Reparem que ações mais simples como tomar um café ou copo de água pode-se tornar uma tarefa das mais desafiadoras dentro das organizações.

Por exemplo, você chega cedo com aquele puta sono e muito mal humorado depois de uma hora de transito devido ao acidente de um carro com um motoboy na marginal pinheiros. Qual a primeira coisa que você pensa depois de ligar o micro?

“– Vou pegar um café enquanto baixo os e-mails.”

Simples? Nem tanto.

Ao se aproximar da máquina você já vê alguém que teve uma idéia parecida com a sua. Você não quer, não faz questão, não precisa, mas algo lá no seu interior te obriga a falar com aquela pessoa que, na maioria das vezes, você não faz a mais pífia idéia de quem é o que ela faz (e vice-versa!!). Afinal, vai que ela é alguém importante dentro da Corporação. Você não que ser passar por arrogante diante de um diretor, ou quer?

Receptivos e com excelente “skill” de trabalho em grupo, como o mundo corporativo exige, ambos vão fingir interesse em conversas do tipo: “e essa bolsa que não pára de cair hein?”, você viu que o Teixeira foi mandado embora porque roubava caixas de caneta?” (alias, esse também é um assunto para o post “Fofocas Corporativas”, mas fica pra outra...), “e o Corinthians hein?”; “o sistema ta lento de novo?”, e por ai vai...

Durante a conversa, em vários momentos você torce pra que alguém mais apareça para puxar assunto com aquele mala e você possa usar o famoso: “bom, deixa eu voltar lá” para retornar a tranqüilidade (?!?!?) do seu cubículo.

Por fim, o estoque de assuntos inúteis acaba e ambos resolvem voltar ao trabalho.

Mas não acaba tão fácil assim. Porque, o mais triste de tudo, é que por mais que você já tenha conversado com aquele desgraçado, pode ser que vocês voltem a se encontrar na máquina de café varias vezes no mesmo dia...e não tem jeito, vocês sempre precisarão conversar DE NOVO!!!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

18h

Segunda-feira (totalmente ilustrativo! Poderia ser qualquer outro dia da semana!), 18h. Hora de ir embora?

Não importa o quanto você produziu nas últimas 8h, nem o quantas horas você trabalhou no dia anterior para entregar aquele relatório que estava pronto (mas o Account Supporter Junior Manager EXIGIU que o cor dos 57 gráficos que você se matou para fazer fossem verde-oliva em vez de verde-limão, o que fez com que você ficasse no escritório até às 22h45), a hora de ir embora é, sempre, um verdadeiro martírio.

Ao menos uma vez na vida, você vai ouvir os seguintes “elogios” quando você estiver arrumando as suas coisas para ir embora NO HORÁRIO QUE É PAGO para ir:

- “Ooooohhhh, mas que vidão, hein?”
- “Boa sorte na entrevista!”
- “Tá desmotivado!?”
- “Só eu que não pego esses projetos filet!”
- “É rodízio?”
- “Ué? Não arrumou o relógio para o horário de verão?”
- “Tá faltando trabalho? Aqui tem um monte se você quiser”
- “Médico de novo?”
- "Não esquece do protetor solar, ein?"
- "Me manda um sms quando sair gol na Champions League"

E por aí vai...

Almoço

Uma vez dentro do mundo corporativo, seu almoço nunca mais será como antes:você nunca mais almoçara com qualquer pessoa falando de qualquer assunto.
Repare que quando você esta almoçando, você não está comendo, mas sim fazendo negócio. Seja falando mal daquele camarada que já ta queimado, ou de novas "diretrizes" do seu Financial Manager Advisor Co-Supervisor que se diz o seu chefe. Enfim, assuntos corporativos, com piadas corporativas.
Não tem problema ser um bosta, o que importa é se portar que nem o Latin America Financial Advisor Manager Supervisor (o chefe do seu chefe, ou aquele teco de merda que nem olha na sua cara só porque começou a fazer viagens internacionais "a negócio" toda semana para a nova filial em Assunção) mesmo que você seja um bosta.Se você vai almoçar com este chefe do seu chefe e todo mundo presenceia os dois pombinhos descendo juntos para este almoço "a negócios", o seu conceito, assim como o índice de inveja (acompanhando sempre o respeito que você adquiriu apenas por ter sido convidado para almoçar) eleva-se drasticamente. Teor da conversa no almoço: os costumes dos Co-Supervisors paraguaios, argentinos e chilenos. Detalhes por detalhes de como foi a recepção dele no Paraguai.
O assunto é ele, o rei é ele e você aplaude e finge estar encantado. Assim, por osmose, você passa a considerar todos os Co-Supervisorr latinos os Magos do world business. Mas qual é o problema se a sua ação já está em alta (por causa deste almoço no mínimo petulante) no mercado sujo das baias de seu departamento???E quando retornar ao seu cubículo após o almoço, sentirá-se-a como se fosse Jesus Cristo voltando a Terra, tamanho o olho gordo que as pessoas colocarão em você. Nem uma árvore de arruda (nem digo galho) te salvará deste mal-olhado. E a babaca gorda da Paulinha (a Accountant Advisor Assistant) com certeza alfinetará-lo venenosamente da seguinte forma na frente de todos os colegas: "olha fulano... Agora ele é importante hein? Foi almoçar com o Supervisor".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"Causos" Corporativos

Quem alguma vez já trabalhou em alguma empresa, seja ela nacional ou multi, seja por 1 mês ou por um ano, seja qual for o departamento, vai identificar aqui situações típicas desse ambiente tão farto de fatos que deixaria um psiquiatra excitado.

Empresas são como novelas: sempre cenas do próximo capítulo.

O que queremos é prosar sobre esses causos que alguma vez ao menos assolaram as nossas vidas.

Aturar o mundo corporativo é uma pena muita dura para as pessoas de bom gosto.
Merecemos uma recompensa.