sábado, 13 de junho de 2009

Os preparativos para o World sustenability 2nd round - Dubai

(Leia antes: "A chegada do Chief Sustantability Officer - Africa and Middle East" e "Saldanha, o sales manager carioca")
Barbosa estava inquieto nos últimos meses. A vinda de Fernambogo Al Saad foi um evento que elevou muito sua cotação entre as baias. É sempre válido lembrar: no submundo corporativo das baias, a boa recordação é de curto-prazo enquanto a má é de longuíssimo. O world sustenability 1st round foi um sucesso, porém após dois meses, as pessoas já o estavam deixando cair no esquecimento. Barbosa voltava a ser esquecido novamente, como de hábito; não era mais copiado nem nos e-mails pornográficos (aqueles que guardam o título de “Relatório gerencial”, os quais ganharão um texto em breve).
No entanto, eis que uma bela sexta-feira, Barbosa recebe uma ligação da recém- contratada assessora oficial de Antônio Saldanha, Pamela Suelen “bonbon” Fernandez, agendando um almoço executivo com o C.E.O. É bom ressaltar que esta contratação foi solicitada diretamente por Saldanha coincidentemente um dia após a “reunião de cavalheiros da Alpha” em mais um dessas zonas de luxo. Não menos importante, vale relevar que a ”continha” (simbólicos R$ 22.357,00) do referido encontro foi tudo “na PJ” (esse termo será explicitado na próxima aula de corporatês em mais uma de nossas postagens).
Barbosa - que até então estava cabisbaixo com a volta do corriqueiro desprezo - teve um estalo digno de um verdadeiro gênio matemático:
[(Saldanha + Fernambogo)*Dubai]^patifaria corporativa = world sustentability 2nd Round (Dubai)
Embora seja uma figura por vezes patética e insignificante na organização, devemos reconhecer que Barbosa guarda verdadeiro tino e forte sensibilidade para a picaretagem corporativa. Seu bom salário e a fama do cargo de gestor de uma grande multinacional, deve-se à sua habilidade em gerenciar muito bem a vaidade, a patifaria e a sujeira sempre coberta pelo glamour “mortadelônico” inerente a uma empresa de grande porte. Barbosa é talentoso em reconhecer e distinguir os mais distintos perfis de vaidade e egoísmo, por isso mexe as peças muito bem.
Ele não hesitou: na segunda lá pelas 11h30 ( que no escritório da regional do Rio é o mesmo que 7h30 da manhã em São Paulo – as pessoas ainda estão chegando) ligou para “bonbon” Fernandez dizendo que o CEO estará muito ocupado nas próximas semanas com os preparativos do “world sustentability 2nd Round” o qual ocorrerá no próximo mês em Dubai !
Barbosa é ou não gênio da picaretagem corporativa? Esta resposta simplesmente provocara, ao mesmo tempo, um surto de ira e um estalo no vaidoso e sujo Saldanha. Primeira indagação em sua mente: como ousa alguém refutar um almoço executivo com “coronel” Antônio Saldanha . . .e a segunda: por que “coronel” Saldanha não iria a Dubai? Sutilmente, um raia graúda (Saldanha) foi envolvido na safadeza do Barbosa!
Ao longo da semana, Barbosa solicitou junto a área de comunicação uma série de relatórios e apresentações em PowerPoint sobre o impacto do World sustentability 1st Round nos resultados da empresa, bem como no ambiente corporativo e nos relacionamentos entre os demais colaboradores.
No final da semana, enviou a apresentação para a área de comunicação de “todo o mundo” (entende-se por “mundo”, todas as sedes da organização - na próxima aula de corporatês versaremos também sobre as tendências megalomaníacas do dialeto).
Logo após a apresentação ter sido vista “no mundo inteiro”, a tacada de mestre: ligou para Fernambogo perguntando sobre suas impressões em relação ao vídeo, sugerindo indiretamente um próximo encontro em Dubai.
Cabe ressaltar que a apresentação praticamente “endeusava” Fernambogo, citando ele como sendo um marco inicial de uma corporação sustentável e engajada. Barbosa realmente é mestre no jogo sujo corporativo: no dia seguinte, aos mandos de Fernambogo, Dubai anunciava-se sede do segundo encontro do world sustentability, sob o sub-título de “aprofundamento do debate”.
Dá-se início então a uma série de jogadas sujas e vaidosas para decidir quem irá ocupar a comitiva dos 20 convidados “brasileiros” que serão elencados para ir a Dubai. Nessas horas é fácil entender como a teoria dos jogos pode ser aplicada à corporação; cada qual com sua estratégia esperando apenas a movimentação do outro. São 20 vagas e 5.000 desejosos. Afinal, quem da empresa não gostaria de “viajar a negócios” a Dubai para participar do “2nd round”. Todos estão deveras preocupados com a sustentabilidade da Alpha e esta seria uma chance inigualável de acompanhar de forma pioneira as novas diretrizes de um crescimento sustentável de sua companhia.
O “aprofundamento do debate” se aproxima na mesma velocidade que as influências se estreitam na sede brasileira. O povinho das baias acabara de receber o e-mail do RH comunicando o super evento. Entre os favelados corporativos - entende-se, estagiários, analista, supervisores e pequena gerência - é interesse notar o comportamento de cada peça; o sempre muito gozado estagiário do planejamento estratégico vai dizer que se fosse mulher seduziria o Barbosa só para ir ao evento; já a analista Mari do marketing pensa seriamente nesta possibilidade; a analista sênior mulher madura utiliza-se do tema apenas para comentar entre os demais que a sua prima tia voltou de Dubai a semana passada e adorou – afinal todo corporativo que se preze possui uma necessidade infinita de contar vantagens, mesmo sendo a mais ínfima.
São nesses eventos extraordinários em que percebemos a “pequenez” e os defeitos mesquinhos dos corporativos. Os supervisores e pequenos gerentes dizem não estar interessados sobre tal assunto e por vezes debocham. A piada do seu chefinho co-supervisor, dizendo que este será o segundo round do caminho para o insustentável, mostra o quão invejoso é, já que guarda plena noção de que jamais participaria de uma evento como este.
Os médios gestores e alguns diretores se comportam diferentemente. Discutem bastidores do evento, tais como: quem vai para Dubai, o porque do evento, quem cairá depois do evento, quem se promoverá e etc. O que precisam de fato é manter a imagem que o cargo comporta. De forma alguma podem admitir a improbabilidade de suas idas ao evento, embora eu, você, todos os demais leitores assim como o restante povinho da Alpha sabemos que não há a menor chance de estarem presentes. Não guardam cacife e nem cacique corporativo para isso.
E por falar em caciques corporativos, é nesse meio que a briga se concentra. Expliquemos melhor: são dez convidados de honra – entre eles, o governador do estado da Bahia: a Alpha está precisando de um “apoio sustentável” para instalar uma unidade em Camaçari; a esposa do governador da Bahia, já que será a madrinha da fábrica de Camaçari; a filha do governador da Bahia, será a afilhada da unidade de Camaçari; as duas netas do governador da Bahia, pois serão as “daminhas de honra” da Alpha-Camaçari. Foram convidados mais um conselheiro e dois acionistas.
Os outros dez serão divididos entre os caciques mortais. Certamente, dois já têm seus nomes garantidos: o CEO e o CSO Latin America - Vitor Morales, um brasileiro de origem colombiana, grande amigo de Pablo Escobar na década de 90. Mediante isso, deixo a avaliação de sua aptidão profissional a encargo de vocês.
Adentrou na Alpha com o intuito de “reduzir a pó” as corrupções internas e, analisando friamente seu passado, é bem provável que não só a corrupção, mas todos outros fatores vão mesmo virar pó.
Retornando à lista de convidados, não resta dúvida de que o diretor de infra-estrutura irá. O tema infra-estrutura não será abordado em nenhum momento em Dubai e mesmo que o fosse, o nosso prezado diretor não teria a menor condição de acompanhar, pois não se comunica em inglês. Seu nome: Roberto Sarney! Agora vocês entendem a importância dele no evento e na Alpha - enquanto isso na sala da (in)justiça, Barbosa já está fazendo suas malas.
O CEO está afoito e ansioso com a viagem e não quer deixar atrapalhar-se pelos mínimos detalhes, por isso solicitou reserva também para secretária Ana, para que não haja nenhum problema.
Devemos lembrar que Roberto Sarney não fala inglês, por isso certamente sua tradutora não poderá faltar ao evento. Temos relacionado então: o “chefão”, a “tia Ana” (aquela mesma que gosta de pagode dos outros textos . ..agora em Dubai), Morales, Sarney e a tradutora. E Barbosa preparando suas malas: aguardava apenas o convite formal do evento que ele mesmo fora mentor. Estávamos nos esquecendo das respectivas esposas; contando elas, sete convidados.
Lembremos então daquela reunião que aconteceria entre o CEO e o Saldanha. O CEO estava de passagem pelo Rio e aproveitou para se encontrar com o coronel em uma churrascaria. Saldanha tinha muito bem em mente o evento em Dubai e aproveitou para mais uma vez jogar sujo. Em meio àquela agradável conversa (a qual conduzia de forma talentosa e envolvente, circundando entre assuntos de negócios e sacanagens políticas) resolveu então fazer um comentário sacana. Usou o escândalo da Camargo Correa para advertir que os diretores daquela empresa foram presos por muito menos em comparação às sacanagens que o CEO costumava aprontar. Porém, logo enfatizou: mais do que colega profissional, era amigo dele e guardava a sete chaves esses tipos de segredos.
Logo em seqüência comentou sutilmente que seria “muito importante” ter a representação da filial do Rio em Dubai, já que esta é a regional da segunda maior cidade do País. O nosso CEO não titubeou: no mesmo dia, logo após a chegada em São Paulo, solicitou a secretária Ana que reservasse três vagas para Dubai para o pessoal do Rio, entre eles o coronel Saldanha, a assessora Bon Bon Fernandez e a secretária Fefê, a qual Saldanha trata como se fosse “filha”
E o Barbosa? Fazia as malas e aguardava tranquilamente seu convite formal, enquanto as vagas haviam sido completamente preenchidas. Barbosa não irá! E jamais iria! Pois por mais que ele seja o gênio da compreensão da patifaria corporativa e saiba mexer as peças poderosas da corporação como se estivesse jogando de xadrez, a origem dele é das baías.
Durante os vinte anos de carreira corporativa seguiu a trilha hierárquica a risca: estagiário, assistente, analista Junior, analista pleno, analista sênior, co-supervisor, supervisor e gerente. E quem caminha por essa trilha jamais aprende a “olhar de cima”, uma vez que passa a vida inteira envolvido com aquilo designado às castas mais baixas de uma empresa, ou seja, o trivial, o óbvio, o fútil e o maçante. Embora sempre pensasse ao contrário (assim como qualquer corporativo médio), Barbosa não tinha formação, procedência, influência e recursos necessários para figurar entre altos escalões.
E como bom corporativo médio que é, decepcionou-se muito pela sua ausência e encheu-se de ódio e ira pelo fato, ameaçando mais uma vez deixar a empresa, pois já não agüentava mais toda essa sacanagem a sua volta (um corporativo que se preze sempre está de saco cheio, reclamando por onde passa e com quem conversa, ameaçando freqüentemente se demitir). Também pelo fato de ser um corporativo caricato e carregar, com isso, doses excessivas de orgulho, arrogância e vaidade, não compreendia a sua ausência, devido a sua posição de gerente e seu contato com as grandes figuras da empresa.
Em empresas, não há justiça, mas sim interesses, circunstâncias, jogos de cenas e a comprovação patética disto é um evento em que seu próprio mentor não estará presente: o world sustenability 2nd round, o qual será abordado nos próximos textos.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Meu primeiro Blackberry®

Elias Soares está na empresa há 8 anos. Por todos esses anos, passou pelos mais inusitados “desafios” e “conquistas”. Como prêmio pelo seu “outstanding” desempenho, na última sexta-feira, recebeu a notícia que há tanto tempo aguardava: foi promovido. Virou o novo “Integration and Development Sub-manager for Latin America and the Caribbean”.
Como todo “Sub-manager for Latin America and the Caribbean” que se preze, Soares ganhou novos e importantes desafios, um aumento de 15% no seu salário (que chegou a impressionantes R$ 5.137,00), um lap top novo e a tão cobiçada algema da modernidade, o Blackberry. Mas... o que é um Blackberry?
Friamente, um Blackberry é um telefone com acesso à Internet (emails, cotações, principais notícias) e com um teclado completo, o que facilita o envio de SMS e de emails. Mas no mundo corporativo, o Blackberry tem outras conotações.
Para a empresa, é a garantia de que não haverá mais desculpas do tipo “não estava na minha mesa”, “de domingo não checo meus emails”, “era hora do almoço”. O proprietário de um Blackberry estará acessível a todo e qualquer momento: em casa, no banheiro, no velório da mãe, no hospital em que a avó está internada, no Bar Mitzvá do sobrinho, na missa de domingo, no motel, no almoço com a família, etc.
Já para Elias Soares e milhares de outros corporativinhos encantados, ter um Blackberry é estar na crista da onda, no topo, é poder ver os outros de cima. Vamos ilustrar.
Elias Soares, depois de receber a notícia e seus novos equipamentos, passou o resto da sexta-feira e o sábado inteiro tentando se adaptar ao novo brinquedo. E nada de produzir nesse tempo.
No domingo, já começou a mandar seus primeiros emails “Enviado pelo meu Blackberry®”. Obivamente, utilizou a velha tática de copiar o chefe e subordinado. Assunto? Qualquer um que mostre o seu poder sobre o seu time.
Mal chegou a segunda-feira e Elias já estava completamente adaptado! Checava uma vez por minuto se chegaram novas mensagens e não saía de perto de seu Tamagoshi corporativo!
Parou o carro, pegou a mochila com o seu “brand new” lap top e seguiu para o hall do elevador. Haviam mais pessoas no recinto, uma ótima oportunidade de mostrar que tem o aparelhinho. É “tsc” pra cá, bufada pra lá, tudo com o Blackberry na mão! E já logo soltou aquele comentário: “Ah, esses fornecedores... Mandei email sexta, sábado, domingo e continuam sem entregar o material”.
Hora do almoço? VR numa mão; Blackberry na outra! Uma garfada, uma olhada. Um gole na Coca, uma nova olhada. Na fila para pagar, já foi “adiantando o serviço”. E dá-lhe email! Uma metralhadora de emails! E assim seguiu Elias em sua nova rotina. Em casa, no banheiro, no velório da mãe, no hospital em que a avó está internada, no Bar Mitzvá do sobrinho, na missa de domingo, no motel, no almoço com a família...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Trabalho Duro 2

Essa é a rotina do Luiz. Trabalha na área de criação de uma agência...

O horario de entrada é 8h. Mas como ele é da area de criação, chega só as 10hs.

Das 10hs as 11hs ele fica pensando no q escrever no seu nick do MSN.
Das 11hs as 12hs ele Twitta.

Às 12hs ele vai almoçar e almoço de publicitário dura 2h30. Volta às 14h30, toma aquele cafezinho e xaveca as meninas do Atendimento. Twitta mais um pouquinho. Às 16h ele começa a trabalhar. Aí fala q ta fudido, q tem trampo pra cacete e fica até as 22h trabalhando...

E todo mundo da agência fala. Nossa, o Luiz trabalha tanto, fica sempre até depois do horário...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Dá uma vontade de falar...

- Cara, vai ser difícil resolver essas buxas todas hoje! Temos que apresentar amanhã às 8h da manhã! Precisamos terminar sem falta! Será que você poderia ficar aqui hoje depois do horário? Você tem compromisso hoje?

- Hoje não vai dar... Tenho que assistir televisão, jantar com minha família e dar uma trepadinha com minha namorada.
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No meio da entrevista...

Menina do RH:
- Me fale 3 defeitos seus.

Entrevistado:
- Bom, primeiramente, peido fedido pra caralho! Você nem imagina! Hahaha. Segundo: vou fazer de tudo para comer o maior número de mulheres dessa empresa, inclusive você, o que certamente vai atrapalhar meu trabalho. Terceiro: sou fingido. Vou puxar muuuito o saco dos meus chefes.

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No final da entrevista...

Menina do RH:
- Então é isso. Você tem mais alguma pergunta? Algo mais que você queira saber da nossa empresa?

Entrevistado:
- Sim. Tenho sim. Na verdade, tenho algumas perguntas. Como você consegue não ficar nem vermelha me falando o salário que vou ganhar? Como você tem coragem de dizer que eu vou me desenvolver como Analista de Administração de Vendas? Desenvolver o quê? Banco de dados de Access para um bando de vendedor burro pra cacete que não sabe nem escrever? Por que você me fez esperar 45 minutos na sala de espera? Por fim, gostaria de saber se você ta pensando que eu sou trouxa?
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Comunicado do RH
“Caros colaboradores,

Gostaríamos de informar que o senhor John Fergunson estará no escritório no dia 11 de maio para uma reunião com todos nós, conversando sobre os resultados de 2009 e as diretrizes de crescimento da empresa Alpha. Cotamos com a presença de todos!”

Colaborador, copiando a empresa inteira no email:
“Prezado RH

É com enorme satisfação que comunico a minha ausência desta merda de reunião. Não vou perder meu tempo ouvindo esse imbecil que nem sabe quem eu sou falar um monte de coisas das quais não tenho nenhuma influência.
Atenciosamente,
Jorge”

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- Jorge, ficamos muito felizes com o seu trabalho. Sentimos uma evolução enorme neste ano e somos muito gratos à tudo o que você produziu. Parabéns!

- Parabéns é o caralho! Quanto de aumento eu vou ganhar?

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Sua chefe (mulher), no feedback 360º:
- Você precisa ser mais pró-ativo e tomar mais cuidado com as gírias na frente com cliente. Além disso, precisa padronizar essas apresentações... Que fonte é essa? Uma de cada tamanho... tsc tsc tsc...

Você:
- Tudo bem, chefe. Já você, precisa emagrecer uns 10kg para pra ver se atrai algum macho. Quem sabe você para de me encher o saco, né? Precisa também usar umas roupas melhores e parar de rebolar no corredor. Não adianta rebolar. Você é feia. Fato.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Perfil da vaga

Se há algo que me incomodou muito nesses últimos anos dentro do sempre muito original mundo corporativo foi o “perfil da vaga”. O perfil da vaga é o conjunto de requerimentos ou qualidades das quais os indivíduos devem ser dotados para que possam desempenhar as atividades de um determinado cargo. Nenhum problema, caso não fosse as peculiaridades sempre muito medíocres do mundinho.
Primeiramente, se enquadrar no perfil da vaga significa uma vitória pessoal, um grande passo na carreira. Você é diferenciado, inteligente, ágil . .. um ser sobrenatural. Afinal, poucos são os eleitos que podem fazer parte desse grupo talentoso. Essa “santificação” de uma pessoa tão comum quanto você se deve em partes pelo respeito que dispensas ao renome que a multinacional onde trabalhas carrega. Ou seja, já que este lugar é o paraíso profissional e você o adentrou, então, seja bem vindo ao convívio dos eleitos!
Outra parte da culpa se deve ao próprio paraíso, pelo marketing que pratica quando seleciona alguém no mercado. Quando não apenas engraçado, é bizarro a mensagem sugerida: pelo menos sempre percebo um ar de paraíso. O candidato deve atender dezena de requisitos, as quais, podemos apostar, nem mesmo 0,001 % de todos colaboradores possuem. Francamente, em toda minha vida, tomei conhecimento de apenas uma figura pró-ativa, com grande habilidade interpessoal, hands-on, que saiba lidar com pressão, com infinitos idiomas, experiência de mais de 5 anos na área, perfil analítico e com reconhecidas e comprovadas habilidades de lideranças - eis: Jesus.Cristo@Alpha.com.
A segunda peculiaridade são as exigências. As qualificações são todas elas voltadas para o dinamismo, versatilidade e o domínio de muitas habilidades ao mesmo tempo. Antes de tudo, deve o fulano ser pró-ativo. Nenhum problema, caso não fosse as condições de trabalho de seu arcabouço corporativo. Desde quando empresas oferecem flexibilidade para alguém de sua alçada (um peão, “glamourosamente” chamado de “compliance sênior analist latin american divison”) pró-agir ou mudar algum processo? Desde quando você é ouvido ?
Alias, a última palavra é sempre sua: “ desculpe, isso não voltará a ocorrer. .estou dedicando os melhores esforços nessa atividade”. Todo mundo diz querer sua pró-atividade, mas, no fundo, exigem mesmo sua reatividade – afinal você sempre tem uma buxa para resolver e um abacaxi para descascar - e sua capacidade de entregar 1.000.000 de planilhas solicitadas por dia. Se isso é pró-atividade, realmente eu fico sem palavras para qualificar os planos expansionistas de Napoleão e Hittler.
Mas enfim, retornemos a mediocridade de seu mundo de forma bem humorada e comunicativa, afinal a Alpha exige que tenhamos todos, grandes habilidades interpessoais. Ary Toledo será aprovado por Luciana Hauber no processo de trainee, mas aquele rapaz do canto . .."olha a postura e o jeito dele. .nem o cabelo penteou, parece que tem algum problema mental" . Talvez realmente Albert Einstein não esteja mesmo apto para a função.
Em momentos de delírios surreais, chego a imaginar Albert Einstein transferindo informações do SAP para o Excel 12 horas por dia. Só não consigo imaginar uma tortura maior para alguém deste porte. No entanto, a crítica da "habilidade interpessoal" é outra. Mais do que aquele indivíduo extrovertido, comunicativo e carismático, o mundinho necessita de pessoas que encenam muito bem o teatro corporativo; Empresas precisam de artistas; é preciso saber rir na hora certa, proferir a piada mais cabível no momento mais condizente, fofocar de forma sutil e elegante e saber cavar o enterro de seu colega de trabalho junto dos outros invejosos, sem que ele nada perceba.
Venho tentando moderar os amargos discursos dos meus textos e o nível de minha exigência em relação ao mundinho corporativo, mas fico estarrecido em notar que Luciana Hauber busque em mim, alguém que goste de ambientes com pressão. Desculpe, não sou masoquista, eu detesto. Consigo lidar, mas sinceramente odeio. E por mais que todos mintam para Luciana dizendo que adoram ambientes assim, 90% das reclamações do povinho das baias giram em torno das pressões.
Porém,indignação maior não é devido a isso, mas sim, ao fato de que "saber lidar com pressão" é um jogo de palavras que a sempre estratégica gestão de pessoas criou para camuflar sua busca no mercado por pessoas que não absorvam assédios morais. Luciana indiretamente diz: você trabalhará com o Teixeira que por vezes irá te esculachar, mas não é te dado o direito de se abalar e muito menos se rebelar ou protestar.
Certa vez estava lendo um anúncio de um processo de seleção de novos talentos (estagiário) de uma grande multinacional, em que exigia do universitário – geralmente um “recém-mocinho” de 21 anos – experiência de 5 anos (???) na área, inglês e espanhol fluente e habilidades de liderança! Neste caso, deixarei as críticas por sua conta.
Para finalizar, a terceira e última peculiaridade é distorção em aquilo que se espera e o que deveria se esperar de fato de alguém entrante. Independente do cargo, função, atividade e etc., importantes valores como lealdade, hombridade e senso de justiça jamais são requisitados; da mesma forma, jamais presenciei qualquer multinacional exigir maturidade, inteligência e nobreza.
Mediante isso, a questão é saber se verdadeiramente as empresas estão carentes de “hands on” com habilidades interpessoais e de liderança com experiência de 5 anos na área ou de pessoas maduras, leais, inteligentes e justas. Noto que as baias estão abarrotadas de pró-ativos, todavia, raras vezes me deparei com este tipo de perfil verdadeiramente diferenciado que são os nobres.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Haroldo e o termômetro da injustiça

Apesar do toque glamoroso (mesmo que mortadelonico) e teatral, as corporações são essencialmente antros de mágoas, rancores, invejas, iras e egoísmo. Fazendo aqui uma metáfora, as corporações- principalmente as multinacionais – são como aqueles bolos vendidos na porta do metrô, porém com uma cobertura daquelas delícias vendidas nas docerias mais famosas – em um primeiro momento parece lindo, charmoso, mas ao comê-lo de fato, sentirá uma azia tremenda.
Entre os ingredientes deste bolo vendido na porta da estação Artur Alvim, temos a mesquinharia (vide capítulo mesquinharia corporativa), o qual, em determinadas receitas, a dosagem é muito maior, vindo sob a forma de “jogar na cara”. Este termo guarda uma das denominações mais auto-explicativas entre os jargões da língua portuguesa, já que o termo induz alguém acumulando diversos sentimentos mal resolvidos até que seja atingido o cume do senso de injustiça – e então, “joga-se na cara”!
Seria muito mais fácil e menos desgastante emocionalmente se Haroldo, analista de operações, estabelecesse alguns limites ou refletisse melhor se realmente está sendo injustiçado, quando auxilia seus colegas de baias ou, até mesmo, realiza alguma atividade que não sua. A questão é que, primeiramente, Haroldo guarda um sentimento de auto-piedade e injustiça tão dantesco a ponto de já ter desenvolvido uma planilha salva em seu desktop, onde “alimenta” (o termo “alimentar planilhas” será citado na próxima aula de corporatês) tudo que fez “a mais” do que deveria (com informações dispostas em data, favorecidos, descrição e valor emocional – uma espécie de “rate” para cada favor executado).
Obviamente que em todos os setores da vida, uma forma de impor a personalidade é “deixar claro” limites e fazê-lo respeitar quando senti-los ultrapassados. Porém, o termômetro da injustiça de Haroldo vive defasado em 3 graus acima. E para ele não importa o quanto já foi feito a seu favor em outras circunstâncias – não há “rate” negativo na planilha de Haroldo.
Tudo começa quando algo é solicitado a Haroldo além do que é sua obrigação. Cordial e gentilmente, ele recebe muito bem a Mari, esforçando-se, de certa forma, para resolver o problema. Obviamente que, embora tenha havido cordialidade, a pessoa não deixará de estrelar na planilha de Haroldo – e, lógico, a temperatura subirá dois graus na escala Haroldo– diríamos então que subiu 2 graus “haroldos”.
Nada especial: Haroldo apenas ficará um pouco pensativo (significa que durante o seu percurso de volta no meio do agradável trânsito das 18h30 na Marginal Pinheiros, refletirá um pouco sobre os méritos e recompensa de ter feito aquilo). Porém, Mari achou o Haroldo super receptivo e solicito neste primeiro favor, então não hesitará, na próxima semana, em pedir que ele ajude-a novamente na mesma planilha.
Febre instalada! Haroldo se mostrou solicito novamente, porém desta vez, o furacão do sentimento de injustiça saiu do plano da inconsciência. Haroldo atendeu novamente, entretanto desde a hora em que finalizou o trabalho as 16h00 até as 23h00 - pouco antes de dormir - não conseguiu parar de refletir irritadamente sobre o acontecimento.
Trinta e oito graus Haroldo ! No outro dia, ele não conseguia sequer olhar para Mari, no entanto manteve a falsa simpatia, a qual alimentava nela um sentimento de felicidade em trabalhar num local onde as pessoas ajudam e trabalham em grupo. Já em Haroldo, o sentimento era de injustiça e revolta por não ter os “limites individuais” respeitados. De fato, há uma linha muito tênue entre respeitar limites individuais e trabalho mútuo, porém a inconstância do termômetro de Haroldo não o permite definir muito bem esta divisória.
Outra semana, novo reporte da planilha e desta vez foi fatal. Embora Mari tenha sido displicente em ter se acomodado no auxílio de Haroldo, nada justifica a crise de depressão proporcionada em Haroldo. Quarenta graus “haroldos” e ele não agüentou: simplesmente negou o auxílio. Não criou subterfúgios corporativos (na modalidade “estou ocupado no momento”): simplesmente disse: “não vou ajudar”!
Haroldo ficou nervoso, Mari não entendeu nada e a planilha foi entregue errada – então caiu a cobertura e restou só o bolo da porta da estação. Ele alega ter sido sincero em seus sentimentos. E foi! Porém, duvidoso é saber em que estes estão fundados. E ninguém sabe, pois pelo menos, o incômodo jamais havia sido colocado em pauta de forma sutil, quando tudo iniciou.
Alimentou-se planilhas, alimentou-se sentimentos e na hora mais oportuna (ou inoportuna) jogou-se na cara. Pode ser que a displicência do dia-dia corporativo ultrapassou os supostos limites emocionais de Haroldo, mas será que seu pensamento individualista não teria, também, ultrapassado os limites do mutualismo?

terça-feira, 10 de março de 2009

Diário de um talento

Aqui estou mais um dia
Sob olha sanguinário da chefia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de um RH
Luciana Hauber ou a Isabel mandam embora peão que nem papel
Lá na baia ou no café, mais um cidadão José, servindo a Alpha, é o gerente de custos que passa fome metido a Roberto Justos
Ele sabe o que eu penso,sabe o que desejo, o dia está chuvoso e o clima está tenso. Vários vão ter que sair e eu não quero, mas de um a cem a minha chance é zero.
Será que eu me dei bem na reunião?,
Será que o diretor não entendeu a minha questão?
Manda um recado lá para o Daltão, se estiver pegando a Mari ta ruim na nossa mão.
Ele ainda tá com essa mina ? Pode crer, ela é Maria Gasolina
Trabalhei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá...Tanto faz, os dias são iguais.
vou fumar um cigarro, vejo o chefinho passar.
Me escondo dele para não me ferrar
Homem é homem, mulher é mulher.Pederasta é diferente, né?
É zoado toda hora, no almoço ou no café,
Rola uma fofoca que já deu até pro Zé..
Cada talento um padrinho, uma Licença, pouco trampo e grande recompensa
Cada recompensa um motivo, uma história de dádivas,
fama, vidas e glórias, fofoca, inveja, ódio,sofrimento,
despeito, desilusão, ação do tempo.
Misture bem essa química. Pronto: eis um novo talento !
Lamentos no corredor, na baia, no happy hour
Ao redor do trampo, em todos os cantos.
Mas eu conheço o sistema, amigão, hã...Aqui não tem santo.
Rátátátá... preciso evitar que um safado faça meu filme queimar
Minha palavra de honra me protege
pra viver no país dos cafajestes.
Tic, tac, já são 9h40.
O relógio da empresa anda em velocidade violenta.
Ratatatá, a corporativa vai chegar
Como gente de bem, apressada, católica.Com seu jornal, insatisfeita, hipócrita.
Com raiva por dentro, procurando por um alento
Olhando pra todos, arrogante e nojenta.
Não sei por que não, ela é tão avarenta
Minha vida não tem tanto valor quanto seu celular, seu computador.
Hoje, tá difícil, fechamento trimestral
Muita correria e a pressão é desleal
Alguns companheiros têm a mente mais fraca.
Não suportam o seu sucesso, arruma quiaca.
Graças a Deus e à Virgem Maria
que o diretor se afastou por alguns dias.
A sua sala no andar de cima tá fechada.
Desde terça-feira ninguém abre pra nada.
na mesa, a chave do cofre e o segredo
Tinha também uns documentos e dinheiro.
Qual que foi? Quem sabe? Não conta.
era ele e mais três armando uma ponta
Nada deixa um estagiário tão doente
quanto a efetivação de um concorrente
Aí moleque, me diz, então, vc quer o que,
a vaga tá lá esperando você,
pega seu final de semana sossegado,
seu currículo internacional e limpa o rabo,
a vida corporativa é sem futuro,
sua cara fica branca 24 horas dando duro

Já ouviu falar de Lúcifer,
que veio do inferno com moral um dia,
com a analista Lu não, ele é só mais um
fazendo entrevista para tesouraria

Aqui tem fulano do Mackenzie e da FEA-USP, ESPM,
Poli, PUC e também do ITA, das federais
Um analista “dos bons” tem moral lá nas baias,
para a Alpha é só um número, mais nada
9 unidades, 7000 homens que custam em média 3.000,00 reais por mês cada

Esses dias o chefinho veio aí, trouxe umas buxas, uns desaforos, enfim
Disse que o pilantra do Saldanha voltou com tapete vermelho e pompas do exterior
“Pagando” de chefão, ele humilha, assedia, com caneta Mont Blanc e outras regalias

- Ei Serginho vem cá, e o Fonseca onde é que está ? Lembra esse diretor que tentou te afastar ?
- Desse cara eu tenho ranço, pilantra, corno manso, deixava a gente louco e dava muito nó. O Leandro era estagiário e quase um menor, foi mandado embora sem nenhuma dó
Esse gente me incomoda, ser cafajeste tá na moda, o mundo roda, ele pode se queimar. . .
Não, já já, os processos estão aí, eu quero mudar, eu quero sair, tenho que escapar desse fulano, sem papo e sem engano
Amanheceu com sol, dois de outubro.
Conversas sobre praia e lamentos de tudo
De madrugada eu senti um calafrio.
Não era do vento, não era do frio.
Lembrei que não mandei o e-mail lá pro Rio
Lealdade em empresas é uma lenda
Simulam uma paz, com encobertas desavenças
Se um salafrário sacanear alguém,
Vinganças vão existir sem a ciência de ninguém
Agora é guerra com certeza,
divulgação do resultado da empresa !
A maioria se deixou envolver
Por fofocas de alguém que não tem nada a perder.
Dois gestores considerados passaram a discutir.
Mas não imaginavam o que estaria por vir.
Um Trainee, dois analistas mais dois estagiários
Uma maioria de funcionário primário.
Era a brecha que a diretoria queria.
Avise o RH, chegou o grande dia.
Farpas por e-mail e em cópia muita gente
Reuniões e discussões a coisa tá ficando quente
Ratatatá, é vinho branco e caldeirada.
o diretor foi almoçar, que se dane a molecada!
Restaurante muito fino, Rubayat, fogo de chão
refrigerante dolly e marmitex pro peão
O ser humano é descartável em empresas.
A hierarquia vale mais que a nobreza

A sacanagem não fica evidente
Esconde aquilo que está na sua frente

Ratatatá! Dinheiro jorra como água.
Politicagem e interesse, feche o nariz
sem pretexto, sem escrúpulo,
sem caráter, sem decoro,
você demora a perceber,
como é grande o desaforo.
No fundo do poço, vestidos de terno,
Adolf Hitler sorri no inferno!
O Robocop dos gestores é frio, não sente pena.
Só ódio e ri como a hiena.
Ratatatá, o Saldanha e sua gangue
vão se esbaldar com muito vinho e champanhe
Mas quem vai acreditar no meu depoimento?
Atenciosamente, é um diário de um talento.

segunda-feira, 9 de março de 2009

E-mail de despedida

Não importa quantas vezes já tenha visto, nunca me canso de dar risada do quão ridículo são os e-mails de despedida. Hipocrisia, bajulação e mentira são poucos adjetivos para descrever essa etapa medíocre do cotidiano das empresas.

Abaixo segue a versão comentada de um exemplo clássico do mundo corporativo.

Caros amigos da Alfa,
Colegas escravos,

Chegou a minha vez de me despedir de todos vocês. Os últimos anos foram magníficos no desenvolvimento da minha carreira, mas é hora de partir em busca de novos desafios profissionais.
Estou caindo fora desta merda. Após anos de exploração sem sentido, baixo salário e horas-extras não remuneradas, finalmente consegui arrumar um emprego melhor que este (o que não quer dizer grande coisa).

Gostaria de deixar meus agradecimentos a todas as pessoas que de alguma forma me ajudaram durante todos estes anos. Sei que posso acabar esquecendo alguém, mas algumas delas merecem uma saudação a parte:
Abaixo segue a lista das pessoas que transformaram a minha vida num inferno durante todos estes anos. Existem muitos outros fdps, mas não consigo lembrar o nome de todos:

1) Em especial fica um forte abraço para o Teixeira, meu chefe ao longo desta jornada, pelo aprendizado, dicas e também broncas;
1) Maldito fdp, jamais cumpriu sequer uma das promessas que me fez. Sempre de mau humor, consegue a todo o momento desmotivar a equipe com sua incompetência e métodos pré-históricos de trabalho.

2) Para toda a equipe da Área de Pessoas, em especial para a Luciana.Hauber, pela simpatia, disposição em resolver meus problemas e também por ter me selecionado (hehe);
2) A vaca do RH, pelo mau humor cotidiano e clara insatisfação em ajudar quem quer que seja.

3) A toda equipe de TI, que prontamente solucionou inúmeros problemas em nosso sistema;
3) As incompetentes da área de sistema, que demoram uma eternidade pra resolver qualquer problema em nossas máquinas, e normalmente o fazem com cara feia e má vontade.

4) A equipe do nosso escritório Regional do Rio de Janeiro, pela ajuda com nossos eventos;
4) Aos sanguessugas do escritório regional, incapazes de resolver qualquer problema por conta própria, fizeram eu perder inúmeros finais de semana para ajudar em situações que eles criaram.

Fica aqui o meu grande abraço para todos vocês, pelas risadas, happy-hours, problemas resolvidos e desafios enfrentados. Tenho orgulho de ter feito parte desta família maravilhosa.
Adeus para todos. Chega de fofoca, baixo nível, picuinha e palhaçada.

Sei que conversaremos em breve.
Nunca mais quero ver nenhum de vocês.

Abraços
VTNC

Paulinho

Escritórios corporativos: uma grande cocheira!

O dicionário Michaelis define baia como “Trave ou tábua para separar, nas cavalariças, as cavalgaduras umas das outras. 2 Compartimento individual para cavalgaduras numa cavalariça; boxe. 3 Porta rústica de paus trançados”. Portanto, é de se esperar que as baias sejam encontradas em cocheiras, para separar um cavalo do outro.
Porém, o modo corporativo de organizar o trabalho mudou isso. Os corporativos se gabam muito por movimentar milhões de dólares diariamente (ainda que nenhum centavo desse dinheiro seja seu...), ter ganhado da empresa um aparelho celular com touch screen e um notebook recondicionado, estar envolvidos no core business da empresa (palavras em inglês nesse meio são muito valorizadas) e enviar diariamente reports ao LARHQ (Latin America Regional Head Quarter), localizado em Miami, para algum outro latino safado que, por trabalhar nos EUA, só aceita emails em inglês, uma vez que português e espanhol são idiomas do terceiro mundo que ele já deixou para trás há muito tempo e para onde não tem a menor intenção de retornar. Todavia, apesar de toda essa suposta pompa, em geral os corporativos passam 80% de seu tempo enfiados em suas baias no escritório. Sim: as mesas de trabalho nos escritórios estão separadas em baias, exatamente como nas cocheiras! E analisando-se bem, nota-se que os corporativos são realmente como cavalos (pangarés, claro): trabalham o dia inteiro em troca de um pouco de comida (no caso, em troca de um salário medíocre e um falso status profissional), não tem horário para nada, correm o tempo todo, levam esporadas a todo momento, são guiados por rédeas curtas, têm que agüentar um infeliz montado em cima de suas costas o dia inteiro (gerentes incompetentes, diretores falastrões, colegas de trabalho canalhas, dentre outras figuras caricatas do show business corporativo) e, logicamente, passam boa parte do seu tempo em baias!

quinta-feira, 5 de março de 2009

10 dicas para se passar por alguém atarefado (e ganhar pontos no mundinho)

1 – Nunca chegue ao escritório de mãos abanando. A dica aqui é passar numa padaria e levar um saquinho com pães de queijo e uma Coca-Cola. Não ter tempo para comer é bem visto na empresa.

2 – Leve a gravata na sexta-feira e a deixe sobre sua mesa. Se te questionarem o porquê daquilo, diga que talvez tenha que passar no cliente no final do dia. Na sexta-feira seguinte, use outra desculpa. Diga que tem uma festa importante para ir à noite, mas que, por causa do grande volume de trabalho, terá que ir direto do trabalho.

3 – Pelo menos uma vez ao dia desconecte seu laptop da base e caminhe com ele até uma das extremidades do escritório, com a testa franzida e olhando para o horizonte. Vão pensar que você tem algo muito importante para resolver.

4 – Nas comemorações dos aniversariantes do mês, chegue atrasado, de preferência após o Parabéns. Entre na sala, coma uma coxinha, puxe o saco de alguém acima de você na hierarquia e diga: “bom, pessoal. Deixa eu voltar lá. Tem um monte de ‘buxa’ pra resolver ainda...”

5 – Se alguém ligar no seu ramal (seja quem for) pedindo uma ajuda sua na mesa dele, diga: “me dá 10 minutinhos?!? To no meio de um raciocínio muito importante aqui”.

6 – Mantenha sempre, não importa o que esteja fazendo, uma planilha de Excel e uma apresentação de PowerPoint abertas!

7 – Faça xingamentos esporádicos em inglês ao longo do dia na frente do computador: “Shit!”! “God Dammed!” “Fucking bastard!”. Isso mostra que está estressado e lutando contra as muitas coisas que tem para fazer.

8 – Relute muito para aceitar convites de almoço, happy hours e afins. Diga que está cheio de coisas e que não sabe se poderá ir. Se decidir ir, chegue atrasado e dê um jeito de sair mais cedo que os demais.

9 – Mande emails em horários esdrúxulos. Faça assim: no dia que estiver com insônia, acesse o seu email da empresa e mande uma mensagem copiando, pelo menos, algum chefe e alguém subordinado a você. Se você não tem insônia, mande emails antes das 8h da manhã copiando as mesmas pessoas.

10 – Por fim, exagere nas abreviações nos emails. Use “asap” (as soon as possible), “Abs” (abraços), “BR” (Best regards)”, etc. Gente atarefada, não pode perder tempo escrevendo muito.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Estimulando a diferença social

A corporação é um excelente exemplo de como criar e incentivar a diferença social. Comumente, o cargo e a pessoa se confundem. Ou você acha que o gerente sênior consegue admitir que você, estagiário de administração de vendas (praticamente um rato na pirâmide), conhece Paris melhor do que ele? Não seja ingênuo...

Os exemplos são infinitos. Tentaremos ilustrar aqui um dia comum, com toda a sua esfera de preconceito.
Chegando ao portão da empresa, já logo se depara com aquele estacionamento gigantesco para 500 carros onde pouco mais de 300 vagas são ocupadas. Conseguir uma vaga dentro da empresa é como conseguir uma vaga no Céu. Mas Deus, nesse caso, é Luciana Hauber, a menininha do RH, que faz de tudo para deixar o maior número de pessoas de fora desse oásis. E por que isso? Simples: vice-presidentes, diretores, gerentes e coordenadores não podem ter seus belos Corollas, Tucsons e Vectras misturados com Pálios, Gols, KAs, Unos... Ainda no estacionamento, reparem como as vagas são organizadas: diretores têm vagas cobertas a menos de 20m da porta de entrada; gerentes, as próximas vagas e, lá no final, as vagas dos coordenadores. E o resto? Ah, o resto pára em qualquer lugar! Por conta da empresa? Não, não! A lei é clara: esse benefício não é obrigatório!

Na hora do almoço, a diferença se faz clara novamente. Diretores e gerentes sênior não ganham ticket; ganham o famoso cartão corporativo. Com ele podem conhecer lugares que nuuuuuunca teriam condições de ir como “PF”. E a qualidade do almoço vai crescendo como um gráfico, dia após dia da semana. É segunda no Ráscal, terça no Barbacoa, quarta é dia Fogo de Chão, Quinta vão no Gero e sexta fecham com Figueira Rubayat! Quanto luxo! Quanto desperdício!

No próximo degrau da escadinha corporativa, estão os demais gerentes. Em algumas empresas, seus vouchers diários para refeição (o famoso “Tique”, para os peões) são uns 30% maior que o do resto dos funcionários. Isso permite a eles irem ao melhores restaurantes, com extravagâncias periódicas. Mas o que chama a atenção neles é o horário que saem para almoçar. Reparem: nunca saem ao meio-dia! É, no mínimo, 12h50! Afinal, vai que eles encontram o estagiário no mesmo restaurante, né?

No próximo nível estão os meus preferidos: coordenadores e analistas-sênior. Esses são demais! São aqueles que querem ser, mas não são (quase) nada na empresa. Mas como querem ser, copiam os que são. Apesar de terem que bater cartão, o que exige que sua chegada seja entre 8h e 8h30, eles não saem ao meio-dia tampouco. Estão caindo de fome, mas meio-dia é horário de chão de fábrica, de proletário, de baixo escalão. Eles acham que não são nada disso! Saem 12h50, ganham o ticket normal da companhia, mas vão a restaurantes “de gerente” todo dia. Resultado: é dia 15 e não têm mais do que R$ 30 nos seus Smart VR.

Vou pular agora os demais profissionais do meio da pirâmide (porque não tem graça) e vou para os lá de baixo! Ah, o pessoal de adm de vendas, TI, produção... Eles não ganham nem ticket! E tem que bater cartão até na hora do almoço! Resultado: é marmita na copa, brother! E ao meio-dia! É marmita e Coca 2L!

Assim é que se almoça nessa torre de babel corporativa! E eu sempre me pergunto: porque uns podem almoçar melhor do que outros? Salários diferentes, dá para entender. Benefícios diferentes, também! Mas... ticket!?!?!?!?!? Não é um pouco estranho dizer que esse tem que comer melhor do que aquele? Que este estômago é mais nobre do que aquele? Não sei se estou viajando, mas, isso, eu não compreendo...

E a diferença não pára aí não! Uns têm ar-condicionado no local de trabalho, outros não. Uns podem tirar uns dias, outros não. Uns batem cartão, outros não.

E ainda temos que agüentar a tal da Responsabilidade Social empresarial... Dizendo que fazem bem para a sociedade em que estão inseridas, blábláblá. Mas não cuidam nem da diferença social dentro de suas próprias micro-sociedades... Quanta hipocrisia.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Justiça corporativa


Leandro leal (estagiário): Teixeira, sei que conforme a planilha do pr.....

Teixeira (supervisor): PRAXEDES

Leandro leal (já hesitante): ééé exatamente, do praxedes, conforme a planilha do praxedes, 2+2 =5. .eu sei que essa planilha sempre contribuiu para nós, mas estive fazendo uma análise esta semana, e conforme você pode verificar nesta memória de cálculo, 2+2=4 e, além d. . .

Teixeira (irritadíssimo): O que ?????? Ollha, eu não acredito que você está me dizendo isso! Leandro, eu estou a 27 anos no mercado e não sei se você sabe, trabalhei com Praxedes 10 anos e em duas empresas e você, qual é a sua experiência ?

Leandro Leal (suando frio) nen . .

Teixeira (possesso): NENHUMA, eu sei ! Então, Leandro, por favor, não venha questionar o que não sabe, e essa sua memória de cálculo, você pode rasgar e deletar pra sempre este arquivo do seu computador . . .O que você tem de aprender, que trabalhar em empresa, não é que nem os trabalhinhos que você faz na faculdade !

Leandro Leal (quase chorando) : qual é a recomendação então ?

Teixeira:
Leandro, por favor, trabalhe com 2+2=5 . .. e agora, você me dá licença que eu tenho muita “buxa” para resolver


DIAS DEPOIS

Cris (secretária): Alô Teixeira, o Fonseca está te aguardando na sala de reunião urgente! A cara dele não é nada boa

30 SEGUNDOS DEPOIS NA SALA DE REUNIÃO

Teixeira (piscando de medo): bom dia Fonseca, tudo bem ?

Fonseca (diretor comercial): TEIXEIRA, TUDO BEM É O CARA?#$%& . . .você está brincando comigo ???? O que você pensa da Alpha ???? O que você pensa de mim ??? E de você???? O que você faz essas 8 horas todos os dias aqui ???? Acho que nada, depois da merda que você me colocou nesse relatório

Teixeira ( já pensando em procurar emprego): desculpe Fonseca, não estou enten . . .

Fonseca (ainda nervoso): acabei de passar uma das maiores vergonhas da minha vida na reunião com os clientes ontem!Após ter dito para o pessoal da Beta que 2+2=5, eles começaram a gargalhar incessantemente.

Teixeira:
entendo mas conforme a planilha do Pr...

Fonseca: quantas vezes eu te pedi para atualizar a planilha do Praxedes ? 2+2=4 em todos os lugares, aqui, no Rio, na China, na Bahia ! Você já preparou alguma memória de cálculo ???

Teixeira (sempre acompanhado de seu ótimo caráter): eu não sei o que acontece com o Leandro. Eu cansei de adverti-lo que 2+2=4! Cansei de pedir para fazer memória de cálculo, é impressionante, mas o menino demora para entender as coisas !

Fonseca (irritado): chama ele aqui !

2 MINUTOS DEPOIS

Leandro (curioso):
Bom dia, Sr. Fonseca

Fonseca:
a respeito daquela memória de cálculo . .

Leandro (sorridente e assertivo): ah, já deletei !

Fonseca (furioso ao extremo): Teixeira, estou saindo desta sala agora!!!! Por favor, tome as providências!

APÓS FONSECA SAIR BATENDO A PORTA

Teixeira: Olha Leandro, na verdade queríamos dar um feed-back para você. Embora você esteja se esforçando bastante, seu desempenho está bastante aquém do que a Alpha espera. Chances já foram dadas, mas infelizmente não podemos continuar algo que já não vem dando certo. Não encare isso como demissão, mas como uma chance de recomeço em outro lugar que você possa se adaptar melhor, e eu tenho certeza de que você terá bastante sucesso em sua carreira !

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Arte de Delegar

Prezados

Comecem a ler este post do final para o começo, seguindo a ordem cronológica dos emails.

Boa diversão!

___________________________________________________

De: carlos@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 11 de novembro de 2008 19:48
Para: jorge.miguel@alfa.com
Assunto: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Bom dia Jorge,
Infelizmente não temos como atender a sua solicitação. Não há disponibilidade do material solicitado.
Há mais alguma coisa que possamos fazer para te ajudar?
Abraços,
Carlos

___________________________________________________
De: luis@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 10 de novembro de 2008 13:12
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW:FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

FYI

Luis
___________________________________________________
De: paula@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 10 de novembro de 2008 10:05
Para: Re: FW: FW: FW: luis@beta.com.br
Assunto: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
Conforme email abaixo, não temos mais Dispo desse material.
Bjs,

Paulinha
Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

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De: marcelo@beta.com.br
Enviada em: sexta-feira, 7 de novemrbo de 2008 18:13
Para: paula@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Oi Paulinha,
Tudo bem? Espero que sim...

Olha, infelizmente não temos mais esse material em estoque.

Bjos.

MP

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De: paula@beta.com.br
Enviada em: quinta-feira, 6 de novembro de 2008 16:22
Para: marcelo@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Marcelo,
Alguma novidade?
Paulinha

Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

___________________________________________________
De: luis@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 4 de novembro de 2008 12:34
Para: paula@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Paula,
Favor verificar.
Obrigado,
Luis

___________________________________________________
De: carlos@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 3 de novembro de 2008 10:33
Para: luis@beta.com.br
Assunto: Re: FW Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
Como estamos com esse processo?
Abraços;
Carlos

___________________________________________________
De: jorge.miguel@alfa.com
Enviada em: sexta-feira, 31 de outubro de 2008 16:25
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: Re: Envio de Material Empresa
AlfaPrioridade: Alta

Boa tarde Carlos,

Ainda não recebi nenhuma posição sobre o envio do material. Por favor me posicione com relação ao prazo urgentemente.

Abs,

Jorge Miguel

___________________________________________________
De: paula@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 7 de outubro de 2008 14:35
Para: marcelo@beta.com.br
Assunto: FW: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Marcelo,
Por favor entre em contato com o pessoal de logística e agende essa entrega
Bjs,
Paulinha

Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

___________________________________________________
De: luis@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 7 de outubro de 2008 14:34
Para: paula@beta.com.br
Assunto: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Paula,
Favor verificar isso.
Obrigado,
Luis

___________________________________________________
De: carlos@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 6 de outubro de 2008 10:33
Para: luis@beta.com.br
Assunto: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
É com você!
Abraços;
Carlos

___________________________________________________
De: jorge.miguel@alfa.com
Enviada em: sexta-feira, 3 de outubro de 2008 16:25
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Boa tarde Carlos,

Conforme acordado em nossa reunião de hoje, fico no aguardo do envio do material para nosso evento no dia 11/11

Jorge Miguel

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

High Potential. Low Results.

Imaginem aquele óbvio cartaz do Programa de Trainee: pessoas ao redor de uma mesa numa sala de reunião e um cara de pé, meio rindo como se estivesse com o controle da situação, usando uma gravata vermelha descolada, laptop aberto na sua frente, mangas arregaçadas e sorriso maroto, como se fosse uma mistura do cara da propaganda da Gillette com o da Colgate. Eis o nosso personagem: o “High Potential”.

Se James Bond tem a sua “licença para matar”, o high potential tem, dentre outras, a “licença para fazer merda”, respaldada pelos seus padrinhos corporativos (ou, como preferem chamar no mundo corporativo, dos tutores).

Tudo começou naquela dinâmica de grupo na qual Luciana Hauber, a nossa menininha do RH, ficou encantada com a postura, colocação e apresentação do nosso High Potential (vejam bem: o high potential não tem nome. Basta a sua denominação para caracterizá-lo e identificá-lo):

- Gente, adorei aquele moço. Que postura, que colocação, que apresentação. Ele é diferenciado. É um high potential.

Obviamente, apesar de achar, Lu não tem muuuuito poder dentro da organização. Sua função é selecionar os “talents” e mandar para os gerentes entrevistarem. A diferença aqui é que estamos falando de um Programa de Trainee, onde a cotação sobe: quem vai entrevistar são os diretores dessa vez. E diretores (vulgo Deuses), não selecionam talents, they hire high potential personnel.

Entrevista feita, high potential contrato. O show está começando. Esse cara está com a moral explodindo no limitado mundo em que está inserido: a sua empresa. Fica 12 meses rodando de área em área para entender os processos, como observador, claro. Passado esse período, é alocado naquele departamento que mais se identificou: Desenvolvimento de Negócios.

O tempo vai passando, meses, até anos, e sua reputação permanece intacta. Afinal, ele é o High Potential. Está em todas as festas, eventos patrocinados pela empresa, sai como capa da revista corporativa e, principalmente, é envolvido em todos os projetos especiais. Reparem nisso: o o high potential sempre está nos principais projetos, mas, de fato, nunca é responsável por nada.

Os anos passam na mesma proporção em que suas promoções e seus ganhos vão aumentado. Nessa altura, passados 5 anos desde a sua entrada, já é um Gerente Pleno de Desenvolvimento de Negócios, Corolla na garagem, R$ 12.000,00 no bolso por mês. Enquanto isso, seus pares ainda não possuem o benefício do carro tampouco ganham o mesmo salário. Mas tudo se explica: o high potential é um high potential, sabe? E um dia, quem sabe um dia, trará um retorno esplêndido para a corporação.

HAPPY HOUR

Logo que adentra em uma grande empresa, o funcionário passa por uma série de atividades recreativas denominadas integração (ganhará uma postagem). Porém, a grande chance do cidadão se entrosar de fato com o restante do povinho é nos Happy Hour, vulgo HH. Não só para entrosamento, mas também para diversas outras finalidades o evento serve. Alguns lá vão para lamentar seus infortúnios; outros vão para comemorar suas ascensões; alguns, para despedir-se; muitos vão para fofocar; muitos, mas muitos mesmo vão para maldizer. Porém quase ninguém vai para se divertir.
Conforme já citado em textos anteriores: em empresas “there´s no free lunch”. Dizer que pessoas se divertem em empresa beira a ingenuidade. E seria inocente demais prever um happy hour sem maldades. Desta forma não teria quorum! Um gerente de médio porte não perderia seu tempo num Happy Hour caso não houvesse bons babados.
No dia em que Teixeira caiu, não havia mais mesas no bar, tamanha a quantidade de fofoqueiros das baias que foram ao happy hour, propositalmente agendado para falar sobre o assunto.
Logicamente que ninguém deixou claro isso - Lembremos sempre: empresas são meras representações, teatros. Quando a secretária Cris ouviu no café que Teixeira havia sido demitido, já combinou instantaneamente um HH, com o intuito de “comemorar o fechamento do mês” – ela é uma pessoa muito gozada - diríamos, uma arlequim.
Cris é a palhaça que saiu do circo só para vê-lo pegando fogo de camarim. Afinal, lembremos sempre: as corporações são grandes circos e os palhaços, os colaboradores (ou seja, você - parto do pressuposto, que não chegas nem perto de ser acionista desta empresa bilionária), uma vez que ficam confinados nessas baias 14 horas por dia, fazendo gracejos para cair na graça daqueles de níveis hierárquicos suepriores.
Enfim, é perfeitamente coerente alegarmos que o “HH” é uma maneira que os palhaços encontraram para assistir o circo pegando fogo. E bota álcool neste fogo! os HH são invariavelmente regados a chopp, caipirinhas e, dependendo dos níveis hierarquicos, muito uísque. Os palhaços menos espertos se alcoolizam bastante e acabam falando demais, consequentemente incendiando deveras o circo. No entanto, esquecem que amanhã pela manhã voltarão a se apresentar (trabalhar) no mesmo picadeiro, o que é bastante perigoso devido às suas línguas deveras compridas.
Os palhaços mais espertos fingem beber, assim, ouvem o que os menos têm a confessar. Sabendo disso, os palhaços mais experientes pressionam todos a beberem bastante. A Cris até pediu mais um chopp para Mário César; ela disse que este seria por conta dela, pois o Mário César estava bebendo pouco hoje (entenda: bebendo pouco, se abrindo pouco).
Aranha - gerente do fiscal - é palhaço de décadas; pede ao todo - durante três horas - apenas uma dose de uísque, porém seu copo parece sempre transbordando, afinal sempre coloca pedrinhas de gelo a mais (rouba dos baldes de cerveja dos palhaços pinguços) para continuar derretendo e enchendo seu copo. Isso lhe permite ouvir todas as fofocas, sem contar sequer alguma.
Ele fica enrolando a conversa com frases de efeito e “pseudo-informações”. Apenas "joga" o assunto no ar e a continuação fica a encargo dos palhaços bêbados. Por exemplo, o caso Teixeira (vide capítulos anteriores). Aranha apenas comentou: “E o Teixeira hein. . .”.No auge de sua ingenuidade e empolgação corporativa, o estagiário Leandro Leal soltou: “ mas também, o cara tirou um barato da roupa do Pedrinho (amigo do diretor). .só podia dar nisso”. O motivo da demissão de Teixeira foi realmente este, mas a justificativa oficial foi que ele roubava caixas de caneta. O problema é que a verdadeira, só Leal e mais duas ou três pessoas sabiam.
Leandro Leal mordeu a língua e agora você entende onde reside a senhora sacanagem. Senhora esta que acompanha veementemente os olhares e dizeres de Adalto Maia - o Daltão, gerente de D.P. – quando se dirigiu de forma insinuante e maliciosa à Rebeca durante todo o HH. Ele estava bêbado, ela deu corda de propósito e todo mundo percebeu o clima. Ele é casado, ela recém-adolescente, ele levou ela para casa e a “merda” foi feita.
Nesta nossa analogia de “circo pegando fogo”, o Daltão “Arrelia” pegou um pouco de fogo do circo, atirou sobre o próprio corpo e depois regou com caipirinha, cerveja e uísque. Se queimou totalmente e Cris foi implacável: logo que Daltão saiu do bar acompanhada de Rebeca, ela teve o cuidado de convocar todos da mesa para o happy hour da semana que vem. Se Daltão “descabelou o palhaço”, não sabemos. O que importa é: os “pombinhos” certamente serão o assunto do próximo happy hour.
Alguns palhaços preferem conversar sobre o contexto econômico e financeiro da empresa e do mercado no qual está inserida. Porém, não sejamos aqui ingênuos! Ninguém está preocupado com a situação e tampouco com o futuro da Alpha. Eles querem mesmo holofotes: demonstrar conteúdo, conhecimento e influência (acesso a informações). Querem ser vistos!
Não menos circenses são os HH realizados com o intuito de celebrar algo. Palhaços na mesa e muita caipirinha, inveja, petiscos, cobiça, cerveja e maldade circulando pela mesa. Renato foi transferido para a filial da Alemanha e Cris achou pertinente fazer um grande Happy-hour. O bar da esquina - onde são realizados quase todos HH – estava praticamente todo ocupado pelo pessoal da Alpha.
Todos queriam detalhes de sua saída e, logicamente, venerá-lo, afinal qualquer pessoa que parte para o exterior torna-se celebridade, pelo menos nos momentos que antecedem o fato, dado a síndrome de cidadãos do mundo que os palhaços carregam. Sem contar que o verdadeiro intuito de quase todos presentes é arrumar alguma “boquinha” internacional junto a Renato, então passam a tratá-lo como um rei e como nunca !
Como vai? Como vai? Como vai? Tudo bem, tudo bem, tudo bem ! Os palhaços estão em festa, pois hoje será celebrado o aniversário do diretor de marketing. Lembre-se, diretores são os Deuses corporativos (vide texto “aniversário do diretor”) – então é Natal ! Ele é diretor e de marketing ! Na nossa analogia seria o mesmo dizer que hoje é aniversário de Chaplin. O happy hour foi celebrado em um outro bar maior. Do estagiário ao diretor financeiro, todos apareceram mesmo que para “dar apenas um abraço” (entenda: apenas para ser bem lembrado no juízo final).
Confesso ficar um pouco assustado quando vejo as pessoas saindo de sua naturalidade e personalidade para venerar uma pessoa qualquer. Toda vez que presencio cenas como a secretária Cris abraçando (quase chorando) calorosamente o Diretor de Marketing, sinto-me cada vez mais próximo da conclusão de que as empresas são verdadeiras arquitetas de lavagem cerebral em massa. Estou estudando mais profundamente esta disfunção psiconeurótica do povinho da empresa e acho, no mínimo, estarrecedor o fato de um ser humano qualquer se tornar Deus de outro em menos de dois meses, apenas por causa de seu cargo, considerando que demoramos pelo menos 10 anos de nossas vidas para reconhecermos o próprio Deus de nossas religiões como o nosso.
Sei bem que vocês irão contra-argumentar dizendo que empresas são novelas, encenações e teatros, mas a imagem dos olhos brilhando dos gerentes apenas de ter a ilustre presença do diretor na mesma mesa de bar onde eles compartilham suas desgraças, me faz acreditar que isto é muito mais do que negócio, ou jogo de cenas: há sentimento sim! É a emoção de pelo menos alguma vez estar lado a lado e de forma descontraída com alguém de cargo tão superior, importante e nunca presente, pois supostamente está sempre envolvido em questões corporativas de alçadas maiores e internacionais. Para quem nunca trabalhou em grandes corporações pode parecer bizarro (e de fato é), mas só um corporativo de carteirinha – ou melhor, de “crachazinho” – pode definir a “glória” de ter o diretor sentado na mesma mesa do bar.
Pimpão, carequinha, bozo, todos mais uma vez a postos na mesa do HH. Seja para lamentar, comemorar, mal dizer, despedir, todos lá vão com um propósito. Jamais com o verdadeiro intuito da integração, o que de fato pressupõe. Lembro que há alguns anos atrás no começo de minha carreira, comentei com meu supervisor que naquele dia deveríamos “tomar umas” (apelido vulgar do happy hour) depois do expediente, pois era sexta-feira. Ele olhou para mim, para os lados e comentou baixinho: “por que? O que aconteceu? Vamos conversar lá no café?” Eu não havia entendido muito bem, mas hoje posso perceber que foi muito ingênuo da minha parte querer convidar a galera da empresa para sentar na mesa do bar e falar de futebol, mulheres, fatos cotidianos e afins. Afinal, os palhaços são, antes de tudo profissionais, e como manda o novo e demasiado vulgar ditado que hoje circula as baias: “eles estão na pista a negócio”.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Corporativos, os cidadãos do mundo

Entre as diversas disfunções do povinho corporativo, estive a refletir estes dias, quais mais me incomodam. Não cheguei a uma conclusão plausível, visto que a gama é grande e todas elas proporcionam muito incomodo. Mas desculpem: a síndrome de globalização do povinho multinacional é uma grande concorrente.
Parece que alguém, quando adentra em uma multinacional modifica automaticamente sua nacionalidade. Já que entrou na Alpha, ele é alphaneano! As catracas são como alfândegas que separam o Brasil deste país sem fronteiras, barreiras e “multi-nações”.
E não poderia ser diferente: há uma pressão psicológica enorme em fazer com que o povinho das baias pense estar, no mesmo dia, em Buenos Aires, Bloogminton e Frankfurt.
Fernando precisa cobrar a Argentina, para poder fechar os números da América latina e centralizar em Frankfurt, de onde será enviado o consolidado para Bloogmiton. Estejam certos, Fernando vai para todos estes lugares com a planilha! Ele sente até um pequeno prazer quando, por exemplo, os argentinos atrasam um pouquinho. Assim ele pode comentar com a sua colega de baia que “a Argentina está demorando para fechar”.
E ele vai mesmo, pois suas asas imaginativas já estão no aeroporto de Buenos Aires aguardando o vôo para Frankfurt. E enquanto aguarda a planilha, vai tomar um café e encontra aquele nosso co-supervisor da controladoria dizendo que as perspectivas da Ásia e Oceania não são boas para este ano. Um jamais saiu do Brasil e o outro, no máximo, viajou para Punta de Leste no verão do ano passado, mas quando ultrapassam as alfândegas das catracas da Alpha, podem estar em Tóquio, Atlanta, Londres, Milão, Paris e etc . .tudo no mesmo dia! E se tornam arrogantes por isso !
E não poderia ser diferente, já que, nas baias, a língua oficial é o corporatês e esta guarda laços profundos com o business english, o que isoladamente, confere aquele ar internacional de Duty free shop (um “pedacinho” de exterior dentro do Brasil). Um bando de descendentes nativos tropicais miscigenados com portugueses, italianos, japoneses, arrogantes e orgulhosos apenas de respirar ares longínquos provindos da Europa e dos EUA.
Restam dúvidas se o termo correto é piedade, porém, no mínimo, é lamentável como o fator “internacionalização dos povos” segrega nas multinacionais. Sob o falso pretexto da seleção de pessoas diferenciadas por ter tido contato com outras culturas, a segregação começa na própria entrevista. Perceba pela expressão facial de Luciana Hauber (aquela recrutadora de talentos que cansou de fornicar em Londres, quando foi viajar sob o pretexto de aperfeiçoar o inglês): logo que Jeferson confessou na entrevista jamais ter saído do Brasil, Srta. Hauber nem olhou para cara dele e já mudou rapidamente de assunto; Fernando citou ter ido à Punta de Leste no verão passado, “para conhecer um pouquinho mais da América Latina”;Luciana Hauber torceu o nariz. Mari relatou sua viagem à Disney quando tinha 12 anos e teve como resposta o ar indiferente de Hauber, pois esta não se compara a experiência internacional de ter “morado” em Londres; Aquele Junior analyst que trabalhou dois anos nos EUA ganhou a simpatia dela, pois ambos já tiveram vínculos no exterior. Não são mais brasileiros, mas sim corporativos cidadãos do mundo. Houve grande compatibilidade de idéias quando o estagiário Leandro Leal contou ter realizado um mochilão de um mês pela Europa. Assim, eles puderam perder 20 minutos da entrevista, viajando pelas suas aventuras, tais como aquele Hostel em Amsterdã (ambos mantém aquele falso moralismo fingindo esconder que se mataram de fumar maconha, com aquelas risadinhas insinuantes) ou o inverno em Praga (viagens para o leste europeu ganham cinco pontos, pois significa a famosa busca pelo desconhecido, o perfil aventureiro-empreendedor - quem acha que Praga é uma aventura empreendedora, aconselho passear pela favela Heliópolis). Mas enfim, estamos na Alpha e não no Brasil.
Porém o surto da inveja, cobiça e sentimento de inferioridade, foi quando Renato – em sua entrevista para trainee internacional – alegou brevemente e sem muito alarde ter feito pós-graduação em Chicago e graduação em Londres. Qualquer questionamento da parte dela seria provinciano demais. Despejou então profundo ar de despeito, pois imagine ela desenvolver uma entrevista em inglês com perguntas do tipo “qual é seu hobby” para alguém com essa bagagem.
Quando sou abordado em uma entrevista com um “can we continous our conversation in English?”, entendo perfeitamente que devo ser avaliado se de fato tenho domínio em língua estrangeira, mas não consigo calar o anjo mal no canto esquerdo de minha mente dizendo que Luciana está querendo realmente brindar a nossa cidadania mundial.
E estou chegando a conclusão que ele tem razão! Afinal, pensando bem, a grande maioria dos aspirantes a cargos em multinacionais estão sendo testados com perguntas sobre seus hobbies, para que Luciana possa avaliar se estão aptos a manter uma conversa de 30 segundos com o fulano de Bloomington (vulgo “contato com filiais internacionais”), perguntando se ele recebeu ou não a planilha enviada.
Já o teste escrito é mais engraçado (ou desgraçado) ainda. Confesso sentir certa nausea daqueles milhares de textos com infinitas perguntas entediantes sobre interpretação e vocabulários dos testes on-line (os quais são invariavelmente feitos a poucas horas de encerrar o prazo limite para realização, sem contar que fulano deixa aberto duas janelas de auxílio, uma do Google e a outra com um dicionário inglês-português), os quais guardam o objetivo de avaliarem se o candidato tem plenas condições de enviar um e-mail do tipo “ dear . . ., please find attached . . . . Please let me know if you have any question . . .best regards, Da Silva de Oliveira, Maintenance service coordinator, +55 11 ..
Para concluir de forma arrebatadora, não poderíamos esquecer daqueles que viajam “a negócios” tal como Mário César, o ex help-desk, que foi a Bloomington e depois passou a sentir-se o Deus do Olimpo, Homem multinacional (o pessoal da informática colou um pôster dele na sala, pois isto foi uma vitória para o departamento) – vide capítulo "a primeira viagem internacional de Mário César".
O fator “pessoas multi-culturais”é realmente diferenciador e o que de fato deveria conferir a empresa diversidade de pensamentos e experiências, trás - na verdade – vaidades injustificáveis que muitas vezes são vistas pelos próprios estrangeiros de forma jocosa e hilariante, pois é inconcebível para um francês, por exemplo, comportamentos de desprezo à cultura de seu país em detrimento à da multinacional onde se trabalha. Teria razão ou não Cazuza quando cita que brasileiros burgueses são caboclos querendo ser ingleses?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uniforme e Lancheira

Quando eu tinha uns 8 anos de idade, minha mãe comprou para mim uma mochila revolucionária para a época: uma mala de rodinhas na qual, além de levar os meus livros, conseguia anexar a minha lancheira do He-Man.

Quase 20 anos depois, vejo que a moda voltou. Mas... NO MUNDO CORPORATIVO! Só que, em vez de livros, suco de maça e uma pêra embrulhada no papel alumínio, as pessoas levam lap-tops, HP12C, Blackberry e, principalmente, mesquinharia nessa malinhas de rodinhas. Essas pessoas são conhecidas como “os lancheirinhas”.

Na escola, as crianças usavam essa mala para evitar problemas de coluna e para tornar mais fácil o deslocamento dos livros no percurso casa-escola-casa.

Já nas empresas, o uso dessas malinhas também facilita o deslocamento dos computadores e outras tralhas que vão na mala. No entanto, há algo muito “maior” por trás dessas malas. Usá-la é mostrar para todo mundo da empresa e do prédio em que está a empresa que você: tem um laptop e viaja a trabalho. E, no mundo corporativo, ter laptop e viajar a trabalho é como ter um Game-Boy e ir uma vez por mês ao Playcenter para um criança da minha época. É status.

Reparem como os lancheirinhas estão sempre querendo mostrar-se cansados, aterafados e importantes. Chegam arrastando as malinhas. Passadas firmes. Blackberry na mão. Testa franzida. Atravessam as baias falando alto, dizendo que a neve no JFK atrasou o vôo em mais de 40 minutos, mas ainda bem que são possuidores de laptops que permitiram a eles trabalhar durante esse atraso. É hilário. Ou deprimente. Não sei ainda definir...

Voltando um pouco à infância... Quando eu tinha uns 12 anos de idade, uma das coisas que eu mais odiava era usar o uniforme da minha escola. Estudei numa escola de padres, na qual a camiseta do uniforme se assemelhava muito a uma bata de padre... Horrível! Não via a hora de nunca mais usar aqueles uniformes...

Engraçado. O Cazuza estava certíssimo quando dizia: “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. No mundo corporativo, eu vejo uniformes novamente sendo usados. Uniformes horríveis, mas que, ao contrário do passado, diferencia as pessoas. Afinal, não é todo mundo que tem uma camiseta da Hot Area do show do U2 que a empresa patrocinou, não é mesmo?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Situações Constrangedoras – Parte I

Há, no dia-a-dia da corporação, diversas situações incômodas e que deixam as pessoas totalmente sem-graça. Mas, diferentemente do que você faria com seu amigo, a postura deve ser mantida, como se nada tivesse acontecido. Nada de rir, de zoar. A dica é manter um ar de naturalidade. E quais são essas situações?
Situação 1: Aquela cuspidela na reunião

Final da manhã, todo mundo com fome. O cheiro da marmita da menina de adm de vendas começa a subir. Ela já está comendo na copa, que fica ao lado da sala em que você está. E a reunião não acaba. A boca começa a salivar e, seu chefe, ao falar sobre os “próximos passos”, lança um missel de saliva em sua direção. Direto no olho. E agora? O que fazer? 999 em cada 1000 pessoas não fazem nada. Talvez seja o melhor mesmo. Que situação... Você sentiu até o quentinho da saliva. Argh! Mas se limpar vai expor seu chefe! Não fazer nada mesmo? Limpe discretamente. Como? Coloque a mão no rosto, como se estivesse pensando, e aproxime seu indicador da gota de saliva. Se o seu chefe se virar, limpe rapidamente. Se não, finja que está coçando o local e o faça sem titubear.

Situação 2: gases num ambiente silencioso

Por mais que a sua empresa seja um ambiente barulhento na maior parte do expediente, tenha certeza de que, um belo dia, o silêncio se instaurará bem no momento em que a sua barriga começar a fazer aqueles barulhos de gases e a gatinha do marketing estiver do seu lado... Isso é inevitável!

Uma técnica que é muito usada é antever que isso ocorrerá. Preste atenção não só no barulho, mas como na trepidação no seu abdômen, principalmente, depois do almoço. Com prática você aprende, não se preocupe. Se sentir que a coisa vai apertar, mexa-se bastante na cadeira a ponto do barulho da cadeira se sobrepor ao barulho da sua barriga.

Situação 3: Cagando fedido

Uma das coisas mais nojentas é escovar o dente num banheiro fedido. Várias vezes já passei por essa situação. Mas tem algo pior do que isso: escovar os dentes em um banheiro que o diretor da sua área deixou fedido, ao mesmo tempo em que você escovava os dentes. Vamos contextualizar.Você entra no banheiro, aparentemente calmo, às 14h20, para evitar a fila na pia. Ao que tudo indica, ninguém por perto. De repente você ouve um sonoro ruído vindo da cabine seguido de um cheiro avassalador que toma conta do ambiente. Nesse momento a pasta já está na escova. Não tem mais volta, amigo.

Os níveis decibéis dos barulhos aumentam na mesma medida em que o cheiro se alastra. Você já está com vergonha alheia e quer sair logo dali. Mas o pedaço de carne insiste em ficar no seu pré-molar e a escovação não rende. Demora-se mais de 10 minutos em todo o processo. Nesse ponto, o diretor (usuário do banheiro) já percebeu que há alguém no ambiente e está enrolando para sair do trono. Mas a perna dele começa a dormir e ele desiste. Quando sai, dá de cara com você. Cara, finja que nada aconteceu, abaixe a cabeça e enxágüe a sua boca o mais rápido possível. Isso é deveras constrangedor.

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Pessoal! Sugiram novas situações constrangedoras!!!
Agradecimento especial ao nosso amigo Edgar Chaves, homossexual convicto, que nos propôs o tema.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Mesquinharia corporativa

Comecemos nesta postagem de uma forma agressiva. O povinho das báias é mesquinho. Não guardo experiência atuando em multinacionais no exterior, mas desconfio muito que seja cultural. Neste país, somos regidos por uma única lei ( a de Gérson) e esta faz nós - brasileiros - nos tornarmos extremamente precavidos contra qualquer tipo de malandragem, esperteza ou exploração. Somado-se a isto, as pessoas da empresa - que já possuem, em geral, uma natureza egoísta, se tornam mesquinhas pois sentem-se já exploradas mesmo trabalhando na multinacional dos sonhos.
Vou chamar de falta de espírito e de fato, não encontro um termo melhor para definir a recusa de Fernando em explicar, com paciência ao recém-chegado estagiário Leandro Leal a planilha de Praxedes. Chamaria de insegurança, caso fosse apenas o medo de perder o monopólio na “alimentação” da planilha (fato que por si só, já é bizarro). A questão é que Fernando alega paulatinamente que Leandro tem mais que “pastar” na planilha, porque ninguém ensinou a ele como era feito quando chegou. Sem contar com a burocracia que ele proporcionou quando Leandro perguntou o diretório da referida.
Não menos mesquinho é Rubão do contas a pagar que mesmo tendo dinheiro na carteira, não empresta ao seu colega de báia (trabalham juntos a 5 anos) no almoço, fazendo o camarada ir e voltar os três quarteirões que separaram a empresa do restaurante, só para buscar a esquecida carteira. Há muitos anos atrás comprou um “Trident” na volta do almoço para uma colega, porém, logo na chegada do escritório, passou a cobrá-la insistentemente por e-mail.
A Lu é contundente: convida todos do RH, menos a recém-chegada estagiária Graciela para o Happy-hour de logo mais. Luciana.Hauber morre de medo de deixar de ser o centro das atenções com a chegada de uma outra mulher. Certamente o Teixeira não dispensará seus freqüentes elogios a ela em forma de piadinha corporativa sem-graça, do tipo: “Lu, será que não tem vaga no RH para eu trabalhar ao seu lado?”. A partir de agora, rodeará certamente a Graci, a estagiária que foi contratada pelo amigo do Teixeira por causa de seus dotes incríveis. Como ótima analista de recrutamento que é, havia selecionado aquele estagiário que parecia o galã da novela das oito, mas a voz superior determinou a contratação da sua futura rival.
A mesquinharia dos “colaboradores” (adoramos este termo) é dantesca a ponto de tornar os objetivos e valores da empresa - que, verdadeiramente, deveriam nortear as pessoas lá envolvidas - motivos de chacota ou oportunismo. Um dos comportamentos padrões em uma corporação é o egoísmo, geralmente partindo de pessoas com CV gigantes, mas alma pequena.
O supervisor da controladoria passou a duelar com o Aranha (gerente do fiscal ) quando este decidiu "empurrar" a divisória que separa os dois departamentos, invadindo o território alheio em 1,5 cm, para conseguir alocar uma impressora. Foi travada uma batalha homérica, pois, como ousa este tal de Aranha ultrapassar a dimensão prevista pelo orçamento ? Então o orçamento não tem valor nenhum ? O CEO assinou! Ele não hesitou: levou a questão para ser tratada de diretor para diretor.
Não levar vantagem individual em situações corriqueiras de trabalho é denominado “mortadelonicamente” de “ineficiência” na favela das grandes empresas (báias). Jeferson assumiu algumas atividades de Mário Cesar quando este foi promovido, porém não obteve nenhum benefício adicional. Portanto, foi logo denominado “trouxa”. Ele mesmo se intitula desta forma na seção lamentação dos “HH”(vulgo happy hour – este jargão será trazido na próxima aula de “corporatês).
Incomoda-me muito a maneira como o povinho da empresa encara o“There´s no free lunch”. O termo – que sugere ser utilizado num contexto de negócio mais abrangente- não deveria substituir importantes valores de um bom profissional, tal como coleguismo e lealdade. E é exatamente isto que ocorre. Colegas de báias são vistos, no mínimo, como concorrentes, quando não como inimigos. Não se faz favores a troco de nada, e quando isto ocorre, aquele que recebeu a ajuda será cobrado de uma forma ou de outra e com juros.
Se o Paulinho ficou até tarde fazendo a planilha que a Mari deveria entregar, muito certamente ela pagará em circunstâncias posteriores. Se a Mari sempre atende os telefonemas do Fernando para dizer que ele não se encontra (muito corriqueiro quando o camarada quer fugir de eventuais cobranças), pode ter certeza que ele já está de “rabo preso”.
Decorreremos nos próximos capítulos sobre os reembolsos de despesas, mas é muito pertinente abordar o tema agora para finalizar esta postagem. Alias, este é um dos melhores exemplos de mesquinharia: por mais ínfima que seja a despesa, parece até questão pessoal quando a empresa se encontra devedora em relação à alguém. Quando retornou da “viagem a trabalho” nos EUA, Mário César cobrou TODOS os dias (sem exceção) o Rubão do contas a pagar, a quantia exorbitante de US$ 15,00 que gastou a mais em sua odisséia.
As corporações – principalmente as multinacionais e/ou as de grande porte – são verdadeiras máquinas de criar pessoas pobres de espírito. A sensação de estar sendo enganado ou explorado é sentida com mais intensidade na medida em que os anos passam e pelo contato com os famosos “profissionais viciados”, as verdadeiras âncoras de uma empresa.
Tenho perfeita convicção que um jovem - na noite que antecedeu seu primeiro dia em seu primeiro trabalho – idealizou aquele grupo de pessoas trabalhando mutuamente em torno de um objetivo maior – ou seja, tudo que a corporação de fato deveria ser. E hoje, depois de anos de profissão (entenda, doutrinado pelo mundo corporativo), envergonha-se da suposta ingenuidade daqueles tempos, quando de fato, deveria sentir orgulho de pelo menos um dia em sua vida ter agido ou pensado com nobreza.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Patrocínio de Eventos Grandiosos

A empresa Alfa traz ao Brasil U2 – WORLD TOUR 2009!!!” – É impressionante como essa simples frase mudará o comportamento de todo o Zé Povinho da empresa nos próximos 2 meses. Pessoalmente, acho que essa é uma das situações mais interessantes que podem ocorrer numa empresa. É a sujeira explícita; o pequeno poder no seu estado mais puro; a arrogância; ou, como dizem na quebrada, é o exemplo maior de gozar com o pau dos outros. E tem diversas formas de ser narrada. Prefiro aqui tentar descrever um pouco o que acontece em cada área.

Marketing: área que teve a idéia – se considera, portanto, a dona do projeto.

É o grande evento do ano... É a chance de distribuir dezenas de convites para os amigos da faculdade, da academia, do clube e do colégio (uma distribuição extremamente estratégica, como se pode perceber), com um único intuito: “ver e ser visto”.

O já costumeiramente arrogante povo de marketing se torna ainda mais pedante. Passam a agir como se fossem íntimos amigos de Bono Vox, The Edge e companhia. Mas não percebem que, no fundo, não passam de meros cambistas de luxo, que trocam ingressos por status.

Ouse pedir um convite! Ouse! Se você não for, no mínimo, um gerente sênior, vai passar nervoso com a síndrome de pequeno poder dos cambistas de marketing, digo, profissionais de marketing.


Vendas: premia os melhores vendedores e clientes VIP com ingressos – se considera, portanto, a dona do projeto.

Hahahahaha! Já dou risada só de lembrar como funciona na área de vendas!

Diferentemente da área de marketing, onde é farta a posse de convites, sobram “poucos” convites para a área de vendas:

- 50 convites para os clientes VIP, que normalmente são convidados também pelo marketing;

- 30 convites da “Hot-Area” (aquele espaço onde o você sente o cuspe do vocalista da banda) para o diretor, sua família e amigos dos seus filhos. Afinal de contas, é o diretor. E diretor é Deus, como já sabemos.

- 10 convites do Camarote Especial para os 5 gerentes de área levarem suas esposas. O Camarote Especial é um pouco mais longe do palco. Mas quem é que se importa? Tem coxinha e Red Label a noite toda! Muito “Very Important People”;

- Por fim, 3 convites de arquibancada (onde mal se ouve o som) a serem dados aos melhores vendedores do ano! Olha como a empresa sabe motivar os funcionários! Detalhe: a empresa tem 1.843 vendedores espalhados pelo Brasil. É uma piada. Mas eles são da raia miúda. Não dá para misturar com o diretor, né? Não sabem se portar, são verdadeiros ogros, escória social. Engraçado como na corporação se confunde cargo com personalidade. “Um estagiário que já foi para Paris e eu, o new line products supervisor, não!?!?!?!?” – assunto bom para outro post. Vamos seguir com o evento do ano.


Demais mortais de outras áreas

Como sabemos, a empresa não é formada só de vendas e marketing. Sobraram 30 convites. Como distribuir? Simples: os deuses (diretores de outras áreas) precisam ir. E com quantos acompanhantes quiserem. Sobraram 5. É aí que começa a calhordagem, a baixaria.

Imaginem vocês o poder que a Juliana, do marketing, acha que tem com esses 5 convites que sobraram? Meu Deus! É só patada! Só arrogância! Mas, confesso, acho que um pouquinho de razão ela tem...

Imaginem, por outro lado, a lambição e babação em cima dela?!? É Ju pra cá, Juju pra lá. A Mari ficou melhor amiga dela! Contou até que já deu pro Paulinho! (Pobre Mari... Todo mundo já sabia, pequena...). A recepcionista mal humorada (que ninguém sabe o nome) começou até a dar bom dia à Juliana! O Fernando, de Finanças, não desconta mais nela os brados do seu chefe por causa das diferenças de 0,02% em relação aos números da matriz. E o estagiário que tem todos os discos do U2 e ficou na fila por 18h sem conseguir comprar ingressos vê nela sua última esperança de conseguir o tão sonhado. Mas a Ju é de marketing e decidida! Os ingressos vão para......... Dani, Cami, Maju, Kika e Lili, suas amigas da faculdade.