sábado, 14 de fevereiro de 2009

Justiça corporativa


Leandro leal (estagiário): Teixeira, sei que conforme a planilha do pr.....

Teixeira (supervisor): PRAXEDES

Leandro leal (já hesitante): ééé exatamente, do praxedes, conforme a planilha do praxedes, 2+2 =5. .eu sei que essa planilha sempre contribuiu para nós, mas estive fazendo uma análise esta semana, e conforme você pode verificar nesta memória de cálculo, 2+2=4 e, além d. . .

Teixeira (irritadíssimo): O que ?????? Ollha, eu não acredito que você está me dizendo isso! Leandro, eu estou a 27 anos no mercado e não sei se você sabe, trabalhei com Praxedes 10 anos e em duas empresas e você, qual é a sua experiência ?

Leandro Leal (suando frio) nen . .

Teixeira (possesso): NENHUMA, eu sei ! Então, Leandro, por favor, não venha questionar o que não sabe, e essa sua memória de cálculo, você pode rasgar e deletar pra sempre este arquivo do seu computador . . .O que você tem de aprender, que trabalhar em empresa, não é que nem os trabalhinhos que você faz na faculdade !

Leandro Leal (quase chorando) : qual é a recomendação então ?

Teixeira:
Leandro, por favor, trabalhe com 2+2=5 . .. e agora, você me dá licença que eu tenho muita “buxa” para resolver


DIAS DEPOIS

Cris (secretária): Alô Teixeira, o Fonseca está te aguardando na sala de reunião urgente! A cara dele não é nada boa

30 SEGUNDOS DEPOIS NA SALA DE REUNIÃO

Teixeira (piscando de medo): bom dia Fonseca, tudo bem ?

Fonseca (diretor comercial): TEIXEIRA, TUDO BEM É O CARA?#$%& . . .você está brincando comigo ???? O que você pensa da Alpha ???? O que você pensa de mim ??? E de você???? O que você faz essas 8 horas todos os dias aqui ???? Acho que nada, depois da merda que você me colocou nesse relatório

Teixeira ( já pensando em procurar emprego): desculpe Fonseca, não estou enten . . .

Fonseca (ainda nervoso): acabei de passar uma das maiores vergonhas da minha vida na reunião com os clientes ontem!Após ter dito para o pessoal da Beta que 2+2=5, eles começaram a gargalhar incessantemente.

Teixeira:
entendo mas conforme a planilha do Pr...

Fonseca: quantas vezes eu te pedi para atualizar a planilha do Praxedes ? 2+2=4 em todos os lugares, aqui, no Rio, na China, na Bahia ! Você já preparou alguma memória de cálculo ???

Teixeira (sempre acompanhado de seu ótimo caráter): eu não sei o que acontece com o Leandro. Eu cansei de adverti-lo que 2+2=4! Cansei de pedir para fazer memória de cálculo, é impressionante, mas o menino demora para entender as coisas !

Fonseca (irritado): chama ele aqui !

2 MINUTOS DEPOIS

Leandro (curioso):
Bom dia, Sr. Fonseca

Fonseca:
a respeito daquela memória de cálculo . .

Leandro (sorridente e assertivo): ah, já deletei !

Fonseca (furioso ao extremo): Teixeira, estou saindo desta sala agora!!!! Por favor, tome as providências!

APÓS FONSECA SAIR BATENDO A PORTA

Teixeira: Olha Leandro, na verdade queríamos dar um feed-back para você. Embora você esteja se esforçando bastante, seu desempenho está bastante aquém do que a Alpha espera. Chances já foram dadas, mas infelizmente não podemos continuar algo que já não vem dando certo. Não encare isso como demissão, mas como uma chance de recomeço em outro lugar que você possa se adaptar melhor, e eu tenho certeza de que você terá bastante sucesso em sua carreira !

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Arte de Delegar

Prezados

Comecem a ler este post do final para o começo, seguindo a ordem cronológica dos emails.

Boa diversão!

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De: carlos@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 11 de novembro de 2008 19:48
Para: jorge.miguel@alfa.com
Assunto: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Bom dia Jorge,
Infelizmente não temos como atender a sua solicitação. Não há disponibilidade do material solicitado.
Há mais alguma coisa que possamos fazer para te ajudar?
Abraços,
Carlos

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De: luis@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 10 de novembro de 2008 13:12
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW:FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

FYI

Luis
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De: paula@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 10 de novembro de 2008 10:05
Para: Re: FW: FW: FW: luis@beta.com.br
Assunto: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
Conforme email abaixo, não temos mais Dispo desse material.
Bjs,

Paulinha
Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

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De: marcelo@beta.com.br
Enviada em: sexta-feira, 7 de novemrbo de 2008 18:13
Para: paula@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Oi Paulinha,
Tudo bem? Espero que sim...

Olha, infelizmente não temos mais esse material em estoque.

Bjos.

MP

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De: paula@beta.com.br
Enviada em: quinta-feira, 6 de novembro de 2008 16:22
Para: marcelo@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Marcelo,
Alguma novidade?
Paulinha

Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

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De: luis@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 4 de novembro de 2008 12:34
Para: paula@beta.com.br
Assunto: Re: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Paula,
Favor verificar.
Obrigado,
Luis

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De: carlos@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 3 de novembro de 2008 10:33
Para: luis@beta.com.br
Assunto: Re: FW Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
Como estamos com esse processo?
Abraços;
Carlos

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De: jorge.miguel@alfa.com
Enviada em: sexta-feira, 31 de outubro de 2008 16:25
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: Re: Envio de Material Empresa
AlfaPrioridade: Alta

Boa tarde Carlos,

Ainda não recebi nenhuma posição sobre o envio do material. Por favor me posicione com relação ao prazo urgentemente.

Abs,

Jorge Miguel

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De: paula@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 7 de outubro de 2008 14:35
Para: marcelo@beta.com.br
Assunto: FW: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Marcelo,
Por favor entre em contato com o pessoal de logística e agende essa entrega
Bjs,
Paulinha

Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

___________________________________________________
De: luis@beta.com.br
Enviada em: terça-feira, 7 de outubro de 2008 14:34
Para: paula@beta.com.br
Assunto: FW: FW: FW:Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Paula,
Favor verificar isso.
Obrigado,
Luis

___________________________________________________
De: carlos@beta.com.br
Enviada em: segunda-feira, 6 de outubro de 2008 10:33
Para: luis@beta.com.br
Assunto: FW: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Luis,
É com você!
Abraços;
Carlos

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De: jorge.miguel@alfa.com
Enviada em: sexta-feira, 3 de outubro de 2008 16:25
Para: carlos@beta.com.br
Assunto: FW: Envio de Material Empresa Alfa
Prioridade: Alta

Boa tarde Carlos,

Conforme acordado em nossa reunião de hoje, fico no aguardo do envio do material para nosso evento no dia 11/11

Jorge Miguel

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

High Potential. Low Results.

Imaginem aquele óbvio cartaz do Programa de Trainee: pessoas ao redor de uma mesa numa sala de reunião e um cara de pé, meio rindo como se estivesse com o controle da situação, usando uma gravata vermelha descolada, laptop aberto na sua frente, mangas arregaçadas e sorriso maroto, como se fosse uma mistura do cara da propaganda da Gillette com o da Colgate. Eis o nosso personagem: o “High Potential”.

Se James Bond tem a sua “licença para matar”, o high potential tem, dentre outras, a “licença para fazer merda”, respaldada pelos seus padrinhos corporativos (ou, como preferem chamar no mundo corporativo, dos tutores).

Tudo começou naquela dinâmica de grupo na qual Luciana Hauber, a nossa menininha do RH, ficou encantada com a postura, colocação e apresentação do nosso High Potential (vejam bem: o high potential não tem nome. Basta a sua denominação para caracterizá-lo e identificá-lo):

- Gente, adorei aquele moço. Que postura, que colocação, que apresentação. Ele é diferenciado. É um high potential.

Obviamente, apesar de achar, Lu não tem muuuuito poder dentro da organização. Sua função é selecionar os “talents” e mandar para os gerentes entrevistarem. A diferença aqui é que estamos falando de um Programa de Trainee, onde a cotação sobe: quem vai entrevistar são os diretores dessa vez. E diretores (vulgo Deuses), não selecionam talents, they hire high potential personnel.

Entrevista feita, high potential contrato. O show está começando. Esse cara está com a moral explodindo no limitado mundo em que está inserido: a sua empresa. Fica 12 meses rodando de área em área para entender os processos, como observador, claro. Passado esse período, é alocado naquele departamento que mais se identificou: Desenvolvimento de Negócios.

O tempo vai passando, meses, até anos, e sua reputação permanece intacta. Afinal, ele é o High Potential. Está em todas as festas, eventos patrocinados pela empresa, sai como capa da revista corporativa e, principalmente, é envolvido em todos os projetos especiais. Reparem nisso: o o high potential sempre está nos principais projetos, mas, de fato, nunca é responsável por nada.

Os anos passam na mesma proporção em que suas promoções e seus ganhos vão aumentado. Nessa altura, passados 5 anos desde a sua entrada, já é um Gerente Pleno de Desenvolvimento de Negócios, Corolla na garagem, R$ 12.000,00 no bolso por mês. Enquanto isso, seus pares ainda não possuem o benefício do carro tampouco ganham o mesmo salário. Mas tudo se explica: o high potential é um high potential, sabe? E um dia, quem sabe um dia, trará um retorno esplêndido para a corporação.

HAPPY HOUR

Logo que adentra em uma grande empresa, o funcionário passa por uma série de atividades recreativas denominadas integração (ganhará uma postagem). Porém, a grande chance do cidadão se entrosar de fato com o restante do povinho é nos Happy Hour, vulgo HH. Não só para entrosamento, mas também para diversas outras finalidades o evento serve. Alguns lá vão para lamentar seus infortúnios; outros vão para comemorar suas ascensões; alguns, para despedir-se; muitos vão para fofocar; muitos, mas muitos mesmo vão para maldizer. Porém quase ninguém vai para se divertir.
Conforme já citado em textos anteriores: em empresas “there´s no free lunch”. Dizer que pessoas se divertem em empresa beira a ingenuidade. E seria inocente demais prever um happy hour sem maldades. Desta forma não teria quorum! Um gerente de médio porte não perderia seu tempo num Happy Hour caso não houvesse bons babados.
No dia em que Teixeira caiu, não havia mais mesas no bar, tamanha a quantidade de fofoqueiros das baias que foram ao happy hour, propositalmente agendado para falar sobre o assunto.
Logicamente que ninguém deixou claro isso - Lembremos sempre: empresas são meras representações, teatros. Quando a secretária Cris ouviu no café que Teixeira havia sido demitido, já combinou instantaneamente um HH, com o intuito de “comemorar o fechamento do mês” – ela é uma pessoa muito gozada - diríamos, uma arlequim.
Cris é a palhaça que saiu do circo só para vê-lo pegando fogo de camarim. Afinal, lembremos sempre: as corporações são grandes circos e os palhaços, os colaboradores (ou seja, você - parto do pressuposto, que não chegas nem perto de ser acionista desta empresa bilionária), uma vez que ficam confinados nessas baias 14 horas por dia, fazendo gracejos para cair na graça daqueles de níveis hierárquicos suepriores.
Enfim, é perfeitamente coerente alegarmos que o “HH” é uma maneira que os palhaços encontraram para assistir o circo pegando fogo. E bota álcool neste fogo! os HH são invariavelmente regados a chopp, caipirinhas e, dependendo dos níveis hierarquicos, muito uísque. Os palhaços menos espertos se alcoolizam bastante e acabam falando demais, consequentemente incendiando deveras o circo. No entanto, esquecem que amanhã pela manhã voltarão a se apresentar (trabalhar) no mesmo picadeiro, o que é bastante perigoso devido às suas línguas deveras compridas.
Os palhaços mais espertos fingem beber, assim, ouvem o que os menos têm a confessar. Sabendo disso, os palhaços mais experientes pressionam todos a beberem bastante. A Cris até pediu mais um chopp para Mário César; ela disse que este seria por conta dela, pois o Mário César estava bebendo pouco hoje (entenda: bebendo pouco, se abrindo pouco).
Aranha - gerente do fiscal - é palhaço de décadas; pede ao todo - durante três horas - apenas uma dose de uísque, porém seu copo parece sempre transbordando, afinal sempre coloca pedrinhas de gelo a mais (rouba dos baldes de cerveja dos palhaços pinguços) para continuar derretendo e enchendo seu copo. Isso lhe permite ouvir todas as fofocas, sem contar sequer alguma.
Ele fica enrolando a conversa com frases de efeito e “pseudo-informações”. Apenas "joga" o assunto no ar e a continuação fica a encargo dos palhaços bêbados. Por exemplo, o caso Teixeira (vide capítulos anteriores). Aranha apenas comentou: “E o Teixeira hein. . .”.No auge de sua ingenuidade e empolgação corporativa, o estagiário Leandro Leal soltou: “ mas também, o cara tirou um barato da roupa do Pedrinho (amigo do diretor). .só podia dar nisso”. O motivo da demissão de Teixeira foi realmente este, mas a justificativa oficial foi que ele roubava caixas de caneta. O problema é que a verdadeira, só Leal e mais duas ou três pessoas sabiam.
Leandro Leal mordeu a língua e agora você entende onde reside a senhora sacanagem. Senhora esta que acompanha veementemente os olhares e dizeres de Adalto Maia - o Daltão, gerente de D.P. – quando se dirigiu de forma insinuante e maliciosa à Rebeca durante todo o HH. Ele estava bêbado, ela deu corda de propósito e todo mundo percebeu o clima. Ele é casado, ela recém-adolescente, ele levou ela para casa e a “merda” foi feita.
Nesta nossa analogia de “circo pegando fogo”, o Daltão “Arrelia” pegou um pouco de fogo do circo, atirou sobre o próprio corpo e depois regou com caipirinha, cerveja e uísque. Se queimou totalmente e Cris foi implacável: logo que Daltão saiu do bar acompanhada de Rebeca, ela teve o cuidado de convocar todos da mesa para o happy hour da semana que vem. Se Daltão “descabelou o palhaço”, não sabemos. O que importa é: os “pombinhos” certamente serão o assunto do próximo happy hour.
Alguns palhaços preferem conversar sobre o contexto econômico e financeiro da empresa e do mercado no qual está inserida. Porém, não sejamos aqui ingênuos! Ninguém está preocupado com a situação e tampouco com o futuro da Alpha. Eles querem mesmo holofotes: demonstrar conteúdo, conhecimento e influência (acesso a informações). Querem ser vistos!
Não menos circenses são os HH realizados com o intuito de celebrar algo. Palhaços na mesa e muita caipirinha, inveja, petiscos, cobiça, cerveja e maldade circulando pela mesa. Renato foi transferido para a filial da Alemanha e Cris achou pertinente fazer um grande Happy-hour. O bar da esquina - onde são realizados quase todos HH – estava praticamente todo ocupado pelo pessoal da Alpha.
Todos queriam detalhes de sua saída e, logicamente, venerá-lo, afinal qualquer pessoa que parte para o exterior torna-se celebridade, pelo menos nos momentos que antecedem o fato, dado a síndrome de cidadãos do mundo que os palhaços carregam. Sem contar que o verdadeiro intuito de quase todos presentes é arrumar alguma “boquinha” internacional junto a Renato, então passam a tratá-lo como um rei e como nunca !
Como vai? Como vai? Como vai? Tudo bem, tudo bem, tudo bem ! Os palhaços estão em festa, pois hoje será celebrado o aniversário do diretor de marketing. Lembre-se, diretores são os Deuses corporativos (vide texto “aniversário do diretor”) – então é Natal ! Ele é diretor e de marketing ! Na nossa analogia seria o mesmo dizer que hoje é aniversário de Chaplin. O happy hour foi celebrado em um outro bar maior. Do estagiário ao diretor financeiro, todos apareceram mesmo que para “dar apenas um abraço” (entenda: apenas para ser bem lembrado no juízo final).
Confesso ficar um pouco assustado quando vejo as pessoas saindo de sua naturalidade e personalidade para venerar uma pessoa qualquer. Toda vez que presencio cenas como a secretária Cris abraçando (quase chorando) calorosamente o Diretor de Marketing, sinto-me cada vez mais próximo da conclusão de que as empresas são verdadeiras arquitetas de lavagem cerebral em massa. Estou estudando mais profundamente esta disfunção psiconeurótica do povinho da empresa e acho, no mínimo, estarrecedor o fato de um ser humano qualquer se tornar Deus de outro em menos de dois meses, apenas por causa de seu cargo, considerando que demoramos pelo menos 10 anos de nossas vidas para reconhecermos o próprio Deus de nossas religiões como o nosso.
Sei bem que vocês irão contra-argumentar dizendo que empresas são novelas, encenações e teatros, mas a imagem dos olhos brilhando dos gerentes apenas de ter a ilustre presença do diretor na mesma mesa de bar onde eles compartilham suas desgraças, me faz acreditar que isto é muito mais do que negócio, ou jogo de cenas: há sentimento sim! É a emoção de pelo menos alguma vez estar lado a lado e de forma descontraída com alguém de cargo tão superior, importante e nunca presente, pois supostamente está sempre envolvido em questões corporativas de alçadas maiores e internacionais. Para quem nunca trabalhou em grandes corporações pode parecer bizarro (e de fato é), mas só um corporativo de carteirinha – ou melhor, de “crachazinho” – pode definir a “glória” de ter o diretor sentado na mesma mesa do bar.
Pimpão, carequinha, bozo, todos mais uma vez a postos na mesa do HH. Seja para lamentar, comemorar, mal dizer, despedir, todos lá vão com um propósito. Jamais com o verdadeiro intuito da integração, o que de fato pressupõe. Lembro que há alguns anos atrás no começo de minha carreira, comentei com meu supervisor que naquele dia deveríamos “tomar umas” (apelido vulgar do happy hour) depois do expediente, pois era sexta-feira. Ele olhou para mim, para os lados e comentou baixinho: “por que? O que aconteceu? Vamos conversar lá no café?” Eu não havia entendido muito bem, mas hoje posso perceber que foi muito ingênuo da minha parte querer convidar a galera da empresa para sentar na mesa do bar e falar de futebol, mulheres, fatos cotidianos e afins. Afinal, os palhaços são, antes de tudo profissionais, e como manda o novo e demasiado vulgar ditado que hoje circula as baias: “eles estão na pista a negócio”.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Corporativos, os cidadãos do mundo

Entre as diversas disfunções do povinho corporativo, estive a refletir estes dias, quais mais me incomodam. Não cheguei a uma conclusão plausível, visto que a gama é grande e todas elas proporcionam muito incomodo. Mas desculpem: a síndrome de globalização do povinho multinacional é uma grande concorrente.
Parece que alguém, quando adentra em uma multinacional modifica automaticamente sua nacionalidade. Já que entrou na Alpha, ele é alphaneano! As catracas são como alfândegas que separam o Brasil deste país sem fronteiras, barreiras e “multi-nações”.
E não poderia ser diferente: há uma pressão psicológica enorme em fazer com que o povinho das baias pense estar, no mesmo dia, em Buenos Aires, Bloogminton e Frankfurt.
Fernando precisa cobrar a Argentina, para poder fechar os números da América latina e centralizar em Frankfurt, de onde será enviado o consolidado para Bloogmiton. Estejam certos, Fernando vai para todos estes lugares com a planilha! Ele sente até um pequeno prazer quando, por exemplo, os argentinos atrasam um pouquinho. Assim ele pode comentar com a sua colega de baia que “a Argentina está demorando para fechar”.
E ele vai mesmo, pois suas asas imaginativas já estão no aeroporto de Buenos Aires aguardando o vôo para Frankfurt. E enquanto aguarda a planilha, vai tomar um café e encontra aquele nosso co-supervisor da controladoria dizendo que as perspectivas da Ásia e Oceania não são boas para este ano. Um jamais saiu do Brasil e o outro, no máximo, viajou para Punta de Leste no verão do ano passado, mas quando ultrapassam as alfândegas das catracas da Alpha, podem estar em Tóquio, Atlanta, Londres, Milão, Paris e etc . .tudo no mesmo dia! E se tornam arrogantes por isso !
E não poderia ser diferente, já que, nas baias, a língua oficial é o corporatês e esta guarda laços profundos com o business english, o que isoladamente, confere aquele ar internacional de Duty free shop (um “pedacinho” de exterior dentro do Brasil). Um bando de descendentes nativos tropicais miscigenados com portugueses, italianos, japoneses, arrogantes e orgulhosos apenas de respirar ares longínquos provindos da Europa e dos EUA.
Restam dúvidas se o termo correto é piedade, porém, no mínimo, é lamentável como o fator “internacionalização dos povos” segrega nas multinacionais. Sob o falso pretexto da seleção de pessoas diferenciadas por ter tido contato com outras culturas, a segregação começa na própria entrevista. Perceba pela expressão facial de Luciana Hauber (aquela recrutadora de talentos que cansou de fornicar em Londres, quando foi viajar sob o pretexto de aperfeiçoar o inglês): logo que Jeferson confessou na entrevista jamais ter saído do Brasil, Srta. Hauber nem olhou para cara dele e já mudou rapidamente de assunto; Fernando citou ter ido à Punta de Leste no verão passado, “para conhecer um pouquinho mais da América Latina”;Luciana Hauber torceu o nariz. Mari relatou sua viagem à Disney quando tinha 12 anos e teve como resposta o ar indiferente de Hauber, pois esta não se compara a experiência internacional de ter “morado” em Londres; Aquele Junior analyst que trabalhou dois anos nos EUA ganhou a simpatia dela, pois ambos já tiveram vínculos no exterior. Não são mais brasileiros, mas sim corporativos cidadãos do mundo. Houve grande compatibilidade de idéias quando o estagiário Leandro Leal contou ter realizado um mochilão de um mês pela Europa. Assim, eles puderam perder 20 minutos da entrevista, viajando pelas suas aventuras, tais como aquele Hostel em Amsterdã (ambos mantém aquele falso moralismo fingindo esconder que se mataram de fumar maconha, com aquelas risadinhas insinuantes) ou o inverno em Praga (viagens para o leste europeu ganham cinco pontos, pois significa a famosa busca pelo desconhecido, o perfil aventureiro-empreendedor - quem acha que Praga é uma aventura empreendedora, aconselho passear pela favela Heliópolis). Mas enfim, estamos na Alpha e não no Brasil.
Porém o surto da inveja, cobiça e sentimento de inferioridade, foi quando Renato – em sua entrevista para trainee internacional – alegou brevemente e sem muito alarde ter feito pós-graduação em Chicago e graduação em Londres. Qualquer questionamento da parte dela seria provinciano demais. Despejou então profundo ar de despeito, pois imagine ela desenvolver uma entrevista em inglês com perguntas do tipo “qual é seu hobby” para alguém com essa bagagem.
Quando sou abordado em uma entrevista com um “can we continous our conversation in English?”, entendo perfeitamente que devo ser avaliado se de fato tenho domínio em língua estrangeira, mas não consigo calar o anjo mal no canto esquerdo de minha mente dizendo que Luciana está querendo realmente brindar a nossa cidadania mundial.
E estou chegando a conclusão que ele tem razão! Afinal, pensando bem, a grande maioria dos aspirantes a cargos em multinacionais estão sendo testados com perguntas sobre seus hobbies, para que Luciana possa avaliar se estão aptos a manter uma conversa de 30 segundos com o fulano de Bloomington (vulgo “contato com filiais internacionais”), perguntando se ele recebeu ou não a planilha enviada.
Já o teste escrito é mais engraçado (ou desgraçado) ainda. Confesso sentir certa nausea daqueles milhares de textos com infinitas perguntas entediantes sobre interpretação e vocabulários dos testes on-line (os quais são invariavelmente feitos a poucas horas de encerrar o prazo limite para realização, sem contar que fulano deixa aberto duas janelas de auxílio, uma do Google e a outra com um dicionário inglês-português), os quais guardam o objetivo de avaliarem se o candidato tem plenas condições de enviar um e-mail do tipo “ dear . . ., please find attached . . . . Please let me know if you have any question . . .best regards, Da Silva de Oliveira, Maintenance service coordinator, +55 11 ..
Para concluir de forma arrebatadora, não poderíamos esquecer daqueles que viajam “a negócios” tal como Mário César, o ex help-desk, que foi a Bloomington e depois passou a sentir-se o Deus do Olimpo, Homem multinacional (o pessoal da informática colou um pôster dele na sala, pois isto foi uma vitória para o departamento) – vide capítulo "a primeira viagem internacional de Mário César".
O fator “pessoas multi-culturais”é realmente diferenciador e o que de fato deveria conferir a empresa diversidade de pensamentos e experiências, trás - na verdade – vaidades injustificáveis que muitas vezes são vistas pelos próprios estrangeiros de forma jocosa e hilariante, pois é inconcebível para um francês, por exemplo, comportamentos de desprezo à cultura de seu país em detrimento à da multinacional onde se trabalha. Teria razão ou não Cazuza quando cita que brasileiros burgueses são caboclos querendo ser ingleses?