quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Finanças do corporativo I: Artur e Tia Franca

Bem sabemos que os corporativos - principalmente aqueles das mais diversas áreas de finance* da empresa – são diretamente focados e alienados pelas finanças corporativas. Sendo assim, normalmente, deixam de tratar suas próprias finanças, delegando tal missão a financiadores oportunistas, bancos e etc.
Ao longo dos anos de caminhada escravocrata corporativa, a reclamação dos colegas corporativos que mais chegou aos meus ouvidos foi seus baixos salários, segundo os quais, estaria aquém do que de fato merece pelo que faz. Francamente, sempre tratei as lamúrias com muita suspeita!
Estes dias, fui jantar com um ex-colega de mundo corporativo. Minha expectativa era de um agradável encontro, durante o qual falaríamos sobre futebol, cortes de carne de churrasco, mulheres, viagens e vida cotidiana; um clima cordial, próprio de uma véspera natalina. Mas para minha decepção, fui tratado, literalmente, como o muro das lamentações. Queixou-se aproximadamente uma hora sobre o seu provento mensal. Segundo ele, mal consegue arcar com suas despesas mensais, as quais ele diz ser “coisa pouca”. Sente-se um pobre coitado ganhando a “mixaria” de pouco mais de 10 salários mínimos. Conforme suas palavras, uma “lamentável injustiça”, dado que outros gestores de escalão maiores ganham aproximadamente 5 ou 6 vezes mais.
O caminho de volta aos meus domínios após o triste jantar foi uma mescla de depressão com reflexão. O retorno da zona sul sentido zona norte (onde resido) tinha como rota o centro da cidade; E quando por lá passei, veio-me instantaneamente a mente a tia Franca. Se no lado sul do trajeto, meu pensamento estava voltado para as lamentações de Artur, o lado norte foi reservado para o bom humor desta minha tia por parte de mãe.
Associação de fatos aqui, outros fatos ali e “voila”! Já chegando aos lados de Santana, tive um estalo. As cervejas do depressivo jantar me propiciaram uma genial conclusão: a tia Franca tem muito a ensinar sobre finanças ao Artur! Por muitas vezes em minha vida, fui acometido por conclusões e pensamentos alucinados, caóticos e surreais. Tinha por costume repudiá-los de forma veemente. . .até quando passei a perceber que sempre após três ou quatro anos eles passam a fazer total sentido. Atualmente, trato meus devaneios com todo carinho do mundo!
Pelas minhas contas, em 2014 (dado que esta conclusão foi obtida semana passada), corporativos como Artur passarão a perceber o quanto eles são inocentes e inexperientes a respeito do dinheiro. Desculpem corporativos, desculpem, por favor. . .eu sei que vocês gerenciam projetos que valem milhões de dólares! Me perdoem . . .não me queimem no mercado! Sei também de vossas habilidades no portfólio management da Latin America Alpha. Aos poderosos corporativos trader, clamo por perdão, afinal, vocês trEIdam muitos milhares de dólares por dia. Ok, não precisam me perdoar! Corporativos não conhecem absolutamente nada de seu próprio dinheiro!
O que verdadeiramente me estimulou a escrever o presente é a saúde financeira da minha tia. Atualmente, ela é aposentada e mora sozinha em um apartamento situado na Avenida São João. Concluiu o ensino médio e trabalhou por aproximadamente duas décadas no Metrô de São Paulo, passando por diversos cargos e funções.
Artur, 27, é solteiro e mora com os pais em pinheiros. Graduado pela faculdade de contabilidade da Universidade de São Paulo e aos 22 foi enviado à França pela Alpha, para que fizesse cursos de especialização. Em seu cartão de visita, inglês, espanhol e francês bem falados, além de um MBA. Está, atualmente, se pós-graduando.
Mas pasmem! A tia Franca é proprietária de dois imóveis adquiridos a vista, enquanto Artur paga com a ajuda dos pais a prestação de seu Sandeiro e de seu apartamento de 3 dormitórios ainda na planta.
Artur está desesperado, afinal, quem financia apartamentos em planta sabe que dezembro é mês daquela “parcela cacetada” que cai como presente de Demóstenes em nossas mãos a cada 12 meses. Já tia Franca tirou uns dias e foi ao centro da cidade para comprar presentes natalinas a sobrinhos e filhos de sobrinhos.
E por falar em lembranças, Artur disse-me ter presenteado a noiva com um belo colar H Stern em novembro. ..mesmo tendo, em seu passivo pessoal, parcelas mensais que já totalizavam 30% de seus proventos. Segundo ele mesmo, 10 alfinetadas de R$ 200,00 a mais são irrisórias perto da felicidade e surpresa da noiva!
Tia Franca não financia, não empresta e apenas teve outra conta bancária que não a conta salário depois dos 35 anos. O cheque serve apenas para praticidade de pagamento e não para suavização financeira momentânea. Parece incrível a habilidade da tia Fran em dar presentes! Todos que dela ganhei foram sempre os mais baratos e aqueles os quais mais gostei!
Uma mestra na arte de transformar coisas simples e banais em lembranças de elevadíssimo valor sentimental! Sua sensibilidade e experiência de vida em conhecer quem vai presentear a fazem evitar o desperdício de R$ 2000,00 em algo cujo o valor monetário é o REAL motivo da surpresa e encantamento. E este meu devaneio está corretíssimo! Afinal, o que um corporativo bitolado com jornada de 14 horas diárias tem a acrescentar em termos de sentimento, candura e doçura à sua noiva? Claro que nada! Portanto, paga e paga caro! Somemos então! Neste simples episódio, tia Franca guardou vantagem de R$ 1.900,00 sobre o controlling coordinator pós-graduadando e graduado pela USP. Aposto que seu presente não custaria mais de R$ 100 e arrancaria sinceros suspiros!
Artur divaga bastante sobre bebidas requintadas. Diz ter herdado a mania de seu ex-chefinho francês de cultuar vinhos. Um hábito saudável, se a sua coleção de vinho não estivesse já avaliada, segundo ele mesmo, em R$ 7.500,00! Tia Franca gosta de vinhos gaúchos e paga não mais que R$ 8,00 a garrafa no supermercado Compre bem, o qual é servido às suas visitas sempre acompanhado de queijo minas e uma cômica e bem-humorada conversa sobre besteiras e fatos cotidianos ao redor dos sofás almofadas.
E por falar em almofada, Artur deve-me, desde que retornou da França, um convite para visitar sua adega. Não importa! Prefiro muito mais o vinho gaúcho com besteiras da tia Franca. E Artur perdeu novamente: neste caso, pelo menos uns R$ 4.000,00!
Sacrifícios médios mensais de Artur para preservação de sua imagem provavelmente giram em torno de R$ 500,00. Roupas e enfeites da moda. ..tudo que valorize sua presença. Tia Franca não gasta nada além de sua carisma, cordialidade e hospitalidade, evitando assim R$ 6.000,00 anuais com construção de uma imagem dissimulada, mascarada e baseada em ostentação.
Não pretendo aqui apedrejar os hábitos e gostos de Artur, mas tudo leva-me a crer que ele arca com árduas despesas baseadas apenas em desejos artificiais de demasiada vaidade, diferentemente da tia Franca, a qual sua imagem é construída pelas próprias virtudes e trejeitos. Enquanto Artur assume dívidas de ativos de alguém que precisa portar a imagem de corporativo com nível internacional, a tia Fran arca apenas com as dívidas inerentes a ela mesma.
Desde os 18 anos, quando foi aprovado no vestibular, Artur dirigiu carros novos. O primeiro ganhou do pai. O segundo carro foi adquirido 0 km. Naquele momento não tinha como pagar a vista. Então, o pai o ajudou na entrada e as demais parcelas ele arcou por conta própria. Alias, não arcou, porque depois da 10ª prestação decidiu que era hora de trocar o Corsa pelo Sandeiro, afinal soaria mal ser visto pelos managers da Alpha desfilando com o carrinho popular. Corsa de entrada e parcelas de mil e pouco na cabeça, mais seguro, mais combustível, mais IPVA, mais manutenção, mais, mais e mais . ..
Já Tia Franca nunca sentiu real necessidade de dirigir. Moradora do centro da cidade a dois quarteirões da estação de metrô, sempre considerou automóvel um tanto quanto desnecessário. Quando o lugar é inatingível via metrô, sua agradável companhia faz com que sempre lhe seja oferecida carona. Não tem carro e o fato em si não lhe incomoda. Uma vantagem sobre Artur de aproximadamente R$ 1.400 mensais. Ou seja, R$ 17.000 anuais.
Sei o quão covarde é, porém não poderia poupar-me de comparar os hábitos de lazer de ambos. Pelo menos duas vezes por mês, Artur vai a alguma das mais badaladas casas noturnas paulistanas. Generosamente, coloco em seu orçamento mensal, pelo menos, R$ 250 cada. Para o final de semana, o trio “namoradinha paulistana” ao lado de sua parceira dita as regras: cinema, restaurante & motel. Tudo por conta do jovem cavalheiro, claro! Aritmética, simples: 50+130+120=300,00! R$ 1.200 mensais é o quanto Artur despende para vestir o sapato da Cinderela.
Dois jantares por mês com eventuais colegas de mundo corporativo, como eu (nossa conta na semana passada totalizou R$ 130,00); dois happy-hours mensais. Oitenta com cento e trinta são R$ 210,00 mensais. Um glamoroso lazer: 1940,00 mensais!
Tia Franca não tem hábitos noturnos, exceto a internet e o chá da noite. Corriqueiramente, anda pelo centro e freqüenta sua religião. Quando muito, visita algm parente ou vai a algum parque, tal como o Horto e tem como principal diversão, uma ida mensal a algum restaurante. Seu preferido, um de comida chinesa, próximo à estação Vila Mariana. São em média R$ 100,00 mensais de lazer e, portanto, vantagem de R$ 1840,00 sobre o especialista em controladoria da Alpha.
Podemos compreender então quando Artur diz não sobrar nada de seu salário. Afinal, suas despesas pessoais giram em torno de 3.400. Amortização de passivos somados a despesas financeiras (juros) proveniente das infindáveis parcelas que contrai a revelia totalizam quase 2.000,00.
Aposentada pelo metro, tia Franca é responsável por suas despesas domésticas, diferentemente de Artur. Mesmo assim, diz conseguir poupar alguma coisa todo mês.
Artur não esconde sua insatisfação para com a Alpha. Considera injusta sua “baixa remuneração” de R$ 5.500,00 mensais líquidos. Suas maiores queixas, as financeiras, claro! Responsabiliza totalmente a Alpha por não conseguir quitar sem a ajuda dos pais as parcelas do apartamento.
Em geral, Tia Franca queixa-se também. Porém nunca a respeito de dinheiro! Seus problemas são relacioandos às dores oriundas da tendinite proporcionada por anos de trabalho nas bilheterias do metrô. Fora isso, um ótimo astral e um humor nato. Risadas marcam meu encontro com minha tia. Lamentações são as pautas de meus jantares com Artur!
Artur não conhece nada sobre a vida a não ser de seus semelhantes, por isso não faz a mínima idéia que pelo menos 50 ou 60% das famílias brasileiras consideradas classe C sobrevivem com a metade do que o pobrezinho ganha . O que o futuro mestre em controladoria deve aprender com os cabelos brancos (sempre tingidos) da ex-metroviária, vulgo tia Franca, é que a riqueza se mede pelo patrimônio e não pelos ativos; necessita aprender também que a construção eficiente da própria imagem independe do quanto gasta e com quem gasta, mas como gasta e se gasta, de fato, com aquilo intrínseco a si mesmo.


*Nenhum corporativo que se preze admite ser chamado de “financeiro”! Soa incrivelmente provinciano e humilde! Por mais que a função de estele.cristina@alpha.com.br seja executar ordens de pagamento, ela não é do contas a pagar, mas sim do Accounts payable Management (A/P department)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Rose do fiscal

São 7h43 e Rosangela Carolina Leite Tavares, vulgo Rose, passa pelas catracas do ABTC (Alpha Business Trade Center). Como de praxe, “bate o cartão” todos os dias pontualmente às 7h48 (conforme obriga seu contrato de trabalho, data de 1984). Natural e residente de Guaianases, acessa a empresa via ônibus, metrô e trem, despendendo, diariamente, 3h00 de translado.
Adepta convicta do ditado “Deus ajuda quem cedo madruga”, vem acordando cada vez mais cedo, devido a problemas com longos congestionamentos. Foi-se o tempo em que acordava às 6h18 rumo a Alpha. Hoje, seu galo digital canta não depois das 5h48. Fuma um cigarro, prepara o café, toma banho e lá está Rose com seu saquinho de pão de queijo “10 por 1 real” adquirido no terminal de ônibus de Guaianases.
Rose, 44, é casada, mãe de dois filhos e avó de dois netos, o Joanderson e a Sharliane. Mora apenas com o marido, o corretor de seguros Adailton Tavares, 54. Os filhos se casaram novos.
O perfil Rose do fiscal é o mais comum dos ambientes corporativos, porém o menos percebido, devido sua falta de pompa. Pelo menos 60% dos colaboradores de uma multinacional são como ela. Rose entrou na Braspolas ltda. com apenas 18 anos, com o cargo de aprendiz de assistente.
Durante a carreira, passou pelos mais diversos temores em sua única área de atuação, a fiscal. Para uma legítima CLT, não há nada mais temível do que uma demissão induzida (e nada mais doce que uma acordada). Rose C. Leite Tavares do fiscal agradece todos os dias a Deus e a Dorival, seu chefe, por nunca ter vivenciado semelhante experiência.
Seu objetivo de vida sempre foi a manutenção do emprego a qualquer custo até o merecido descanso da aposentadoria, após 40 anos de “suor honesto”. Suor honesto até a aposentadoria, seu lema! Houve períodos difíceis, é verdade! A abertura de mercado em meados de 1990 foi a primeira turbulência de sua carreira. A Braspolas passou por uma grande crise devido às concorrentes multinacionais ávidas pelo mercado de 140 milhões de Roses em ação. Corte de 60% do departamento do fiscal e 40% da contabilidade.
Rose salvou-se graças a influência de Dorival, seu chefe, padrinho de casamento e amigo de infância de um dos sócios da Braspolas. Adailton enciúma-se descaradamente de Dorival, mas admite que apenas não passou fome graças à bondade do chefe de sua esposa, o qual, no passado, dava caronas a ela todos os dias.
Passado a crise e a infância dos filhos, decidiu então se especializar. Fez um curso de técnico fiscal na IOB. Dorival promoveu-a a analista fiscal. Para Rose, os caminhos profissionais estavam abertos. Analista fiscal da Braspolas, curso da IOB no currículum vitae e salário 40% maior, o que garantia o sustento da família, já que Adailton estava desempregado naquela época.
Estabilidade da moeda, do emprego e da família, Rose não tinha a ínfima noção do que estaria por vir. A crise econômica dos tigres asiáticos em 1997 foi implacável! A Braspolas praticamente quebrou! E novamente o temor, a angústia e a depressão! Corte de funcionários e o corte do emprego de Rose dependia apenas da formalização. Para Rose C. L. Tavares - mais do que o desespero do desemprego por ser arrimo de família – sentia-se amputada.
Rose fez promessa a Nossa senhora Aparecida e a Santa atendeu. A graça veio novamente pelas mãos de Dorival, que quase caiu junto com a estimada amiga e colega de trabalho! Sua influência junto ao sócio fez com que fosse apresentado a Aranha, novo gerente fiscal da Alpha, empresa a qual adquiriu a Braspolas um ano após sua chegada ao Brasil.
Dorival conversou aqui, articulou ali e manteve Rose. Alias, daquele departamento fiscal da antiga Braspolas, restaram apenas os dois. Conforme prometido, Rose subiu de joelhos as escadarias da Igreja. E não poderia ser diferente. A ajuda da Santa foi providencial! Rose faz questão de desfilar com seu crachá da renomada multinacional norte-americana por onde passa.
Com a modernização e a tecnologia dos últimos anos, as atividades de Rose se limitam a “inputar” milhares de notas fiscais no SAP. Uma trilha de sucesso nos moldes da CLT: analista fiscal senior, técnica pela IOB e profissional de uma multinacional. As infindáveis horas de SAP trocadas por horas de salário CLT compensam. O grande plano de vida do “suor honesto até o merecido descanso da aposentadoria” caminha a passos largos para sua concretização.
Segue a risca sua bíblia sagrada, a Consolidação das Leis do Trabalho. Mesmo no trato com os colegas: nunca pode ajudar quando a solicitação passa 1 mm daquilo que contratou com a empresa como função e atividade! Uma mestra em repassar tarefas: “infelizmente não vou poder te ajudar, isso é com Genival do almoxarifado” . .. “isso é com a Paula do DP” . . “fala com a Rosane da contabilidade”. E quando o assunto é com ela, o velho truque da famigerada desculpa: “essa semana não vai dar, estamos em fechamento!”
Entre uma nota e outra cadastrada, sai, pontualmente, a cada hora (8h18, 9h18, 10h18 e etc) para fumar seu tradicional cigarro, o qual a acompanha desde a adolescência. Embora a empresa disponibilize uma área de café expresso, Rose segue a risca sua mania de longa data: porta sua garrafa térmica rosa com uma fita crepe escrita “Rose do fiscal”.
Como todo corporativo, Rosangela.leite@alpha.com pratica suas fofocas, porém em um nível mais baixo daqueles das áreas estratégicas. As conversas versam sempre sobre quem vai cair, quem vai subir e quem é gay. Rose assiste assiduamente a todas as novelas das 8. É a responsável do departamento por encomendar bolo, salgadinhos e docinhos dos aniversariantes de renome das favelas corporativas, tais como Dorival, Aranha, Daltão e Teixeira. Sempre que o faz, encomenda da Dna. Dolores lá da vila.
Sua filha engravidou de seu neto primogênito e o genro era motoboy. Após o nascimento de Joanderson, Rose “mexeu os pauzinhos”: sua filha fazia trufas e ovos da páscoa e ela subia até o 9º, 10º e 11º para vendê-los aos colegas e conhecidos do planejamento estratégico e do market inteligence. Segundo ela denomina, “o pessoal que ganha muito”. Para eles, Rose é o museu da Alpha!
Rose é o orgulho do pessoal da vila, afinal tem um “trampo de responsa na multinacional”. Para a família, um exemplo a ser seguido; para o marido, uma “guerreira”! Para a filha, ela “salva pátria” pois vende seu chocolate para a “playboizada”. Jamais separa-se do crachá, o qual é tratado por ela como a própria identidade.
Conseguiu financiar um carro zero e converteu-se ao evangelismo. A escultura da santinha que a salvou nas mais terríveis horas perdeu espaço em sua mesa lotada de post-it para porta-retratos com recordações dos netos. As paredes da baia que até então servia de quadro para fotos familiares, hoje são repletas de salmos e mensagens do tipo “Deus é fiel!”
E, corriqueiramente no final da tarde, Rosangela C. L. T. encerra mais uma jornada de trabalho. Sua máquina começa a ser desligada às 17h10, pois para ela, isto é uma questão moral: o relógio de ponto deve ser batido às 17h18 e a catraca ultrapassada às 17h20! Se passa antes, sente-se exploradora, quando depois, explorada! E quando noite, Rose já está no aconchego de sua casa sua vida em Guaianases, onde, depois do banho, inicia os preparativos para o próximo dia até que a aposentadoria a separe da Alpha.