sábado, 13 de junho de 2009

Os preparativos para o World sustenability 2nd round - Dubai

(Leia antes: "A chegada do Chief Sustantability Officer - Africa and Middle East" e "Saldanha, o sales manager carioca")
Barbosa estava inquieto nos últimos meses. A vinda de Fernambogo Al Saad foi um evento que elevou muito sua cotação entre as baias. É sempre válido lembrar: no submundo corporativo das baias, a boa recordação é de curto-prazo enquanto a má é de longuíssimo. O world sustenability 1st round foi um sucesso, porém após dois meses, as pessoas já o estavam deixando cair no esquecimento. Barbosa voltava a ser esquecido novamente, como de hábito; não era mais copiado nem nos e-mails pornográficos (aqueles que guardam o título de “Relatório gerencial”, os quais ganharão um texto em breve).
No entanto, eis que uma bela sexta-feira, Barbosa recebe uma ligação da recém- contratada assessora oficial de Antônio Saldanha, Pamela Suelen “bonbon” Fernandez, agendando um almoço executivo com o C.E.O. É bom ressaltar que esta contratação foi solicitada diretamente por Saldanha coincidentemente um dia após a “reunião de cavalheiros da Alpha” em mais um dessas zonas de luxo. Não menos importante, vale relevar que a ”continha” (simbólicos R$ 22.357,00) do referido encontro foi tudo “na PJ” (esse termo será explicitado na próxima aula de corporatês em mais uma de nossas postagens).
Barbosa - que até então estava cabisbaixo com a volta do corriqueiro desprezo - teve um estalo digno de um verdadeiro gênio matemático:
[(Saldanha + Fernambogo)*Dubai]^patifaria corporativa = world sustentability 2nd Round (Dubai)
Embora seja uma figura por vezes patética e insignificante na organização, devemos reconhecer que Barbosa guarda verdadeiro tino e forte sensibilidade para a picaretagem corporativa. Seu bom salário e a fama do cargo de gestor de uma grande multinacional, deve-se à sua habilidade em gerenciar muito bem a vaidade, a patifaria e a sujeira sempre coberta pelo glamour “mortadelônico” inerente a uma empresa de grande porte. Barbosa é talentoso em reconhecer e distinguir os mais distintos perfis de vaidade e egoísmo, por isso mexe as peças muito bem.
Ele não hesitou: na segunda lá pelas 11h30 ( que no escritório da regional do Rio é o mesmo que 7h30 da manhã em São Paulo – as pessoas ainda estão chegando) ligou para “bonbon” Fernandez dizendo que o CEO estará muito ocupado nas próximas semanas com os preparativos do “world sustentability 2nd Round” o qual ocorrerá no próximo mês em Dubai !
Barbosa é ou não gênio da picaretagem corporativa? Esta resposta simplesmente provocara, ao mesmo tempo, um surto de ira e um estalo no vaidoso e sujo Saldanha. Primeira indagação em sua mente: como ousa alguém refutar um almoço executivo com “coronel” Antônio Saldanha . . .e a segunda: por que “coronel” Saldanha não iria a Dubai? Sutilmente, um raia graúda (Saldanha) foi envolvido na safadeza do Barbosa!
Ao longo da semana, Barbosa solicitou junto a área de comunicação uma série de relatórios e apresentações em PowerPoint sobre o impacto do World sustentability 1st Round nos resultados da empresa, bem como no ambiente corporativo e nos relacionamentos entre os demais colaboradores.
No final da semana, enviou a apresentação para a área de comunicação de “todo o mundo” (entende-se por “mundo”, todas as sedes da organização - na próxima aula de corporatês versaremos também sobre as tendências megalomaníacas do dialeto).
Logo após a apresentação ter sido vista “no mundo inteiro”, a tacada de mestre: ligou para Fernambogo perguntando sobre suas impressões em relação ao vídeo, sugerindo indiretamente um próximo encontro em Dubai.
Cabe ressaltar que a apresentação praticamente “endeusava” Fernambogo, citando ele como sendo um marco inicial de uma corporação sustentável e engajada. Barbosa realmente é mestre no jogo sujo corporativo: no dia seguinte, aos mandos de Fernambogo, Dubai anunciava-se sede do segundo encontro do world sustentability, sob o sub-título de “aprofundamento do debate”.
Dá-se início então a uma série de jogadas sujas e vaidosas para decidir quem irá ocupar a comitiva dos 20 convidados “brasileiros” que serão elencados para ir a Dubai. Nessas horas é fácil entender como a teoria dos jogos pode ser aplicada à corporação; cada qual com sua estratégia esperando apenas a movimentação do outro. São 20 vagas e 5.000 desejosos. Afinal, quem da empresa não gostaria de “viajar a negócios” a Dubai para participar do “2nd round”. Todos estão deveras preocupados com a sustentabilidade da Alpha e esta seria uma chance inigualável de acompanhar de forma pioneira as novas diretrizes de um crescimento sustentável de sua companhia.
O “aprofundamento do debate” se aproxima na mesma velocidade que as influências se estreitam na sede brasileira. O povinho das baias acabara de receber o e-mail do RH comunicando o super evento. Entre os favelados corporativos - entende-se, estagiários, analista, supervisores e pequena gerência - é interesse notar o comportamento de cada peça; o sempre muito gozado estagiário do planejamento estratégico vai dizer que se fosse mulher seduziria o Barbosa só para ir ao evento; já a analista Mari do marketing pensa seriamente nesta possibilidade; a analista sênior mulher madura utiliza-se do tema apenas para comentar entre os demais que a sua prima tia voltou de Dubai a semana passada e adorou – afinal todo corporativo que se preze possui uma necessidade infinita de contar vantagens, mesmo sendo a mais ínfima.
São nesses eventos extraordinários em que percebemos a “pequenez” e os defeitos mesquinhos dos corporativos. Os supervisores e pequenos gerentes dizem não estar interessados sobre tal assunto e por vezes debocham. A piada do seu chefinho co-supervisor, dizendo que este será o segundo round do caminho para o insustentável, mostra o quão invejoso é, já que guarda plena noção de que jamais participaria de uma evento como este.
Os médios gestores e alguns diretores se comportam diferentemente. Discutem bastidores do evento, tais como: quem vai para Dubai, o porque do evento, quem cairá depois do evento, quem se promoverá e etc. O que precisam de fato é manter a imagem que o cargo comporta. De forma alguma podem admitir a improbabilidade de suas idas ao evento, embora eu, você, todos os demais leitores assim como o restante povinho da Alpha sabemos que não há a menor chance de estarem presentes. Não guardam cacife e nem cacique corporativo para isso.
E por falar em caciques corporativos, é nesse meio que a briga se concentra. Expliquemos melhor: são dez convidados de honra – entre eles, o governador do estado da Bahia: a Alpha está precisando de um “apoio sustentável” para instalar uma unidade em Camaçari; a esposa do governador da Bahia, já que será a madrinha da fábrica de Camaçari; a filha do governador da Bahia, será a afilhada da unidade de Camaçari; as duas netas do governador da Bahia, pois serão as “daminhas de honra” da Alpha-Camaçari. Foram convidados mais um conselheiro e dois acionistas.
Os outros dez serão divididos entre os caciques mortais. Certamente, dois já têm seus nomes garantidos: o CEO e o CSO Latin America - Vitor Morales, um brasileiro de origem colombiana, grande amigo de Pablo Escobar na década de 90. Mediante isso, deixo a avaliação de sua aptidão profissional a encargo de vocês.
Adentrou na Alpha com o intuito de “reduzir a pó” as corrupções internas e, analisando friamente seu passado, é bem provável que não só a corrupção, mas todos outros fatores vão mesmo virar pó.
Retornando à lista de convidados, não resta dúvida de que o diretor de infra-estrutura irá. O tema infra-estrutura não será abordado em nenhum momento em Dubai e mesmo que o fosse, o nosso prezado diretor não teria a menor condição de acompanhar, pois não se comunica em inglês. Seu nome: Roberto Sarney! Agora vocês entendem a importância dele no evento e na Alpha - enquanto isso na sala da (in)justiça, Barbosa já está fazendo suas malas.
O CEO está afoito e ansioso com a viagem e não quer deixar atrapalhar-se pelos mínimos detalhes, por isso solicitou reserva também para secretária Ana, para que não haja nenhum problema.
Devemos lembrar que Roberto Sarney não fala inglês, por isso certamente sua tradutora não poderá faltar ao evento. Temos relacionado então: o “chefão”, a “tia Ana” (aquela mesma que gosta de pagode dos outros textos . ..agora em Dubai), Morales, Sarney e a tradutora. E Barbosa preparando suas malas: aguardava apenas o convite formal do evento que ele mesmo fora mentor. Estávamos nos esquecendo das respectivas esposas; contando elas, sete convidados.
Lembremos então daquela reunião que aconteceria entre o CEO e o Saldanha. O CEO estava de passagem pelo Rio e aproveitou para se encontrar com o coronel em uma churrascaria. Saldanha tinha muito bem em mente o evento em Dubai e aproveitou para mais uma vez jogar sujo. Em meio àquela agradável conversa (a qual conduzia de forma talentosa e envolvente, circundando entre assuntos de negócios e sacanagens políticas) resolveu então fazer um comentário sacana. Usou o escândalo da Camargo Correa para advertir que os diretores daquela empresa foram presos por muito menos em comparação às sacanagens que o CEO costumava aprontar. Porém, logo enfatizou: mais do que colega profissional, era amigo dele e guardava a sete chaves esses tipos de segredos.
Logo em seqüência comentou sutilmente que seria “muito importante” ter a representação da filial do Rio em Dubai, já que esta é a regional da segunda maior cidade do País. O nosso CEO não titubeou: no mesmo dia, logo após a chegada em São Paulo, solicitou a secretária Ana que reservasse três vagas para Dubai para o pessoal do Rio, entre eles o coronel Saldanha, a assessora Bon Bon Fernandez e a secretária Fefê, a qual Saldanha trata como se fosse “filha”
E o Barbosa? Fazia as malas e aguardava tranquilamente seu convite formal, enquanto as vagas haviam sido completamente preenchidas. Barbosa não irá! E jamais iria! Pois por mais que ele seja o gênio da compreensão da patifaria corporativa e saiba mexer as peças poderosas da corporação como se estivesse jogando de xadrez, a origem dele é das baías.
Durante os vinte anos de carreira corporativa seguiu a trilha hierárquica a risca: estagiário, assistente, analista Junior, analista pleno, analista sênior, co-supervisor, supervisor e gerente. E quem caminha por essa trilha jamais aprende a “olhar de cima”, uma vez que passa a vida inteira envolvido com aquilo designado às castas mais baixas de uma empresa, ou seja, o trivial, o óbvio, o fútil e o maçante. Embora sempre pensasse ao contrário (assim como qualquer corporativo médio), Barbosa não tinha formação, procedência, influência e recursos necessários para figurar entre altos escalões.
E como bom corporativo médio que é, decepcionou-se muito pela sua ausência e encheu-se de ódio e ira pelo fato, ameaçando mais uma vez deixar a empresa, pois já não agüentava mais toda essa sacanagem a sua volta (um corporativo que se preze sempre está de saco cheio, reclamando por onde passa e com quem conversa, ameaçando freqüentemente se demitir). Também pelo fato de ser um corporativo caricato e carregar, com isso, doses excessivas de orgulho, arrogância e vaidade, não compreendia a sua ausência, devido a sua posição de gerente e seu contato com as grandes figuras da empresa.
Em empresas, não há justiça, mas sim interesses, circunstâncias, jogos de cenas e a comprovação patética disto é um evento em que seu próprio mentor não estará presente: o world sustenability 2nd round, o qual será abordado nos próximos textos.