terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

High Potential. Low Results.

Imaginem aquele óbvio cartaz do Programa de Trainee: pessoas ao redor de uma mesa numa sala de reunião e um cara de pé, meio rindo como se estivesse com o controle da situação, usando uma gravata vermelha descolada, laptop aberto na sua frente, mangas arregaçadas e sorriso maroto, como se fosse uma mistura do cara da propaganda da Gillette com o da Colgate. Eis o nosso personagem: o “High Potential”.

Se James Bond tem a sua “licença para matar”, o high potential tem, dentre outras, a “licença para fazer merda”, respaldada pelos seus padrinhos corporativos (ou, como preferem chamar no mundo corporativo, dos tutores).

Tudo começou naquela dinâmica de grupo na qual Luciana Hauber, a nossa menininha do RH, ficou encantada com a postura, colocação e apresentação do nosso High Potential (vejam bem: o high potential não tem nome. Basta a sua denominação para caracterizá-lo e identificá-lo):

- Gente, adorei aquele moço. Que postura, que colocação, que apresentação. Ele é diferenciado. É um high potential.

Obviamente, apesar de achar, Lu não tem muuuuito poder dentro da organização. Sua função é selecionar os “talents” e mandar para os gerentes entrevistarem. A diferença aqui é que estamos falando de um Programa de Trainee, onde a cotação sobe: quem vai entrevistar são os diretores dessa vez. E diretores (vulgo Deuses), não selecionam talents, they hire high potential personnel.

Entrevista feita, high potential contrato. O show está começando. Esse cara está com a moral explodindo no limitado mundo em que está inserido: a sua empresa. Fica 12 meses rodando de área em área para entender os processos, como observador, claro. Passado esse período, é alocado naquele departamento que mais se identificou: Desenvolvimento de Negócios.

O tempo vai passando, meses, até anos, e sua reputação permanece intacta. Afinal, ele é o High Potential. Está em todas as festas, eventos patrocinados pela empresa, sai como capa da revista corporativa e, principalmente, é envolvido em todos os projetos especiais. Reparem nisso: o o high potential sempre está nos principais projetos, mas, de fato, nunca é responsável por nada.

Os anos passam na mesma proporção em que suas promoções e seus ganhos vão aumentado. Nessa altura, passados 5 anos desde a sua entrada, já é um Gerente Pleno de Desenvolvimento de Negócios, Corolla na garagem, R$ 12.000,00 no bolso por mês. Enquanto isso, seus pares ainda não possuem o benefício do carro tampouco ganham o mesmo salário. Mas tudo se explica: o high potential é um high potential, sabe? E um dia, quem sabe um dia, trará um retorno esplêndido para a corporação.

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