segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Bolaños e sua prancheta

Para ser sincero, nunca soube ao certo qual o verdadeiro nome daquele mexicano com bochechas de Kiko, barriga de Nhonho, óculos de Seu Barriga e um ar de Firmino. Sua função tampouco era clara: não estava em nenhuma hierarquia das quais tínhamos acesso. Mas ele tinha cara de Bolaños e era assim que decidi apelidá-lo (para mim mesmo, obviamente).

Concentrado em minhas funções extremamente estratégias e vitais para a empresa: colocar Notas no Sistema, cotar o preço de Palm-tops e criar planilhas de vendas (o mais incrível é que eu era da área de marketing), demorei a perceber a sua presença silenciosa e calculista.

Bolaños chegou à empresa exatos 12 meses após o anúncio da fusão com a empresa mexicana e pouco menos de 2 meses após o maior fracasso de marketing da empresa em solo Brasileiro. Na ocasião, investiu-se caminhões de dinheiro para um aumento pífio de 2% nas vendas. Uma coisa estava clara: algo fedia...

Minhas funções me deixavam com bastante tempo ocioso e, entre um café e um cigarro, comecei a notar mais o que Bolaños fazia. Acompanhado de sua inseparável prancheta, Bolaños passou alguns dias simplesmente caminhando entre as baias e fazendo anotações. Começaram então a perceber sua presença.

O gerente da fantástica marca que obteve um incrível aumento de 2% em suas vendas era quem mais caçoava de Bolaños. Já temendo pelo pior, aquela era talvez a forma de se mostrar despreocupado e confortável com a situação.

Bolaños não falava com ninguém. Aliás, com quase ninguém. Os mexicanos trouxeram uma equipe grande de gestão. Era só com esses chicos que Bolaños falava, sempre com sua prancheta.

Na semana seguinte da sua chegada, saíra o anúncio do dissídio. Obviamente, o aumento de 3% negociado, causou mal-estar. Convocou-se então uma reunião do RH com os “colaboradores” da empresa.

Ninguém notou aquela figura pouco imponente no fundo da sala, acompanhado de sua prancheta. Fabrício Souza, gerente pleno de finanças, tomou a liderança da situação (com o objetivo indireto de ganhar a nota máxima no quesito Leadership & Coaching na avaliação de desempenho) e já foi logo dizendo que os funcionários estavam chocados com aquele aumento bem abaixo do esperado. Zé Carlos, Gerente Nacional de Vendas há 35 anos, famoso por abusar sexual e moralmente de suas funcionárias, concordou de bate pronto. Utilizando de técnicas de vendas da metade do século, chamou a atenção para si. E quem ousaria a interromper o dinossauro da Companhia (e perder as festinhas prives que dava em sua casa com a justificativa de “Jantares para clientes” em sua descrição de despesas do mês)? O time inteiro de vendas da fracassada marca fantástica entoou um grito de guerra. A bagunça se instaurou.

Foi aí que Bolaños, do fundo da sala, se apresentou:

- Buenas tardes, señores. Mi nombre es Arturo Domínguez. Soy gerente de recursos humanos para las Américas. Estoy en Brasil para entender mejor cómo la vida cotidiana de ustedes en La Compañía.

Subitamente, a equipe de vendas parou de gritar, o gerente de finanças foi ao banheiro e Zé Carlos, o safadão, se sentou.

Tarde demais. A prancheta de Bolaños já ditara o veredito final: demissão para o gerente de finanças que maquiou os números (o aumento de real de vendas da marca fantástica foi de 1,7%, não de 2%), demissão para Zé Carlos, o safadão, que só em “jantares” havia gasto R$ 50 mil no último ano, demissão para o Gerente de Marketing da marca fantástica e de toda a equipe de vendas da mesma.

Deu-se a fusão enfim. E Foi dado o recado: agora, quem manda são os mexicanos.

Um comentário:

Anônimo disse...

ahauauahuhuahu muito bom

só faltou o seu firmino bolanos dizer a eles: chupa cabron !!!