sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uniforme e Lancheira

Quando eu tinha uns 8 anos de idade, minha mãe comprou para mim uma mochila revolucionária para a época: uma mala de rodinhas na qual, além de levar os meus livros, conseguia anexar a minha lancheira do He-Man.

Quase 20 anos depois, vejo que a moda voltou. Mas... NO MUNDO CORPORATIVO! Só que, em vez de livros, suco de maça e uma pêra embrulhada no papel alumínio, as pessoas levam lap-tops, HP12C, Blackberry e, principalmente, mesquinharia nessa malinhas de rodinhas. Essas pessoas são conhecidas como “os lancheirinhas”.

Na escola, as crianças usavam essa mala para evitar problemas de coluna e para tornar mais fácil o deslocamento dos livros no percurso casa-escola-casa.

Já nas empresas, o uso dessas malinhas também facilita o deslocamento dos computadores e outras tralhas que vão na mala. No entanto, há algo muito “maior” por trás dessas malas. Usá-la é mostrar para todo mundo da empresa e do prédio em que está a empresa que você: tem um laptop e viaja a trabalho. E, no mundo corporativo, ter laptop e viajar a trabalho é como ter um Game-Boy e ir uma vez por mês ao Playcenter para um criança da minha época. É status.

Reparem como os lancheirinhas estão sempre querendo mostrar-se cansados, aterafados e importantes. Chegam arrastando as malinhas. Passadas firmes. Blackberry na mão. Testa franzida. Atravessam as baias falando alto, dizendo que a neve no JFK atrasou o vôo em mais de 40 minutos, mas ainda bem que são possuidores de laptops que permitiram a eles trabalhar durante esse atraso. É hilário. Ou deprimente. Não sei ainda definir...

Voltando um pouco à infância... Quando eu tinha uns 12 anos de idade, uma das coisas que eu mais odiava era usar o uniforme da minha escola. Estudei numa escola de padres, na qual a camiseta do uniforme se assemelhava muito a uma bata de padre... Horrível! Não via a hora de nunca mais usar aqueles uniformes...

Engraçado. O Cazuza estava certíssimo quando dizia: “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. No mundo corporativo, eu vejo uniformes novamente sendo usados. Uniformes horríveis, mas que, ao contrário do passado, diferencia as pessoas. Afinal, não é todo mundo que tem uma camiseta da Hot Area do show do U2 que a empresa patrocinou, não é mesmo?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Situações Constrangedoras – Parte I

Há, no dia-a-dia da corporação, diversas situações incômodas e que deixam as pessoas totalmente sem-graça. Mas, diferentemente do que você faria com seu amigo, a postura deve ser mantida, como se nada tivesse acontecido. Nada de rir, de zoar. A dica é manter um ar de naturalidade. E quais são essas situações?
Situação 1: Aquela cuspidela na reunião

Final da manhã, todo mundo com fome. O cheiro da marmita da menina de adm de vendas começa a subir. Ela já está comendo na copa, que fica ao lado da sala em que você está. E a reunião não acaba. A boca começa a salivar e, seu chefe, ao falar sobre os “próximos passos”, lança um missel de saliva em sua direção. Direto no olho. E agora? O que fazer? 999 em cada 1000 pessoas não fazem nada. Talvez seja o melhor mesmo. Que situação... Você sentiu até o quentinho da saliva. Argh! Mas se limpar vai expor seu chefe! Não fazer nada mesmo? Limpe discretamente. Como? Coloque a mão no rosto, como se estivesse pensando, e aproxime seu indicador da gota de saliva. Se o seu chefe se virar, limpe rapidamente. Se não, finja que está coçando o local e o faça sem titubear.

Situação 2: gases num ambiente silencioso

Por mais que a sua empresa seja um ambiente barulhento na maior parte do expediente, tenha certeza de que, um belo dia, o silêncio se instaurará bem no momento em que a sua barriga começar a fazer aqueles barulhos de gases e a gatinha do marketing estiver do seu lado... Isso é inevitável!

Uma técnica que é muito usada é antever que isso ocorrerá. Preste atenção não só no barulho, mas como na trepidação no seu abdômen, principalmente, depois do almoço. Com prática você aprende, não se preocupe. Se sentir que a coisa vai apertar, mexa-se bastante na cadeira a ponto do barulho da cadeira se sobrepor ao barulho da sua barriga.

Situação 3: Cagando fedido

Uma das coisas mais nojentas é escovar o dente num banheiro fedido. Várias vezes já passei por essa situação. Mas tem algo pior do que isso: escovar os dentes em um banheiro que o diretor da sua área deixou fedido, ao mesmo tempo em que você escovava os dentes. Vamos contextualizar.Você entra no banheiro, aparentemente calmo, às 14h20, para evitar a fila na pia. Ao que tudo indica, ninguém por perto. De repente você ouve um sonoro ruído vindo da cabine seguido de um cheiro avassalador que toma conta do ambiente. Nesse momento a pasta já está na escova. Não tem mais volta, amigo.

Os níveis decibéis dos barulhos aumentam na mesma medida em que o cheiro se alastra. Você já está com vergonha alheia e quer sair logo dali. Mas o pedaço de carne insiste em ficar no seu pré-molar e a escovação não rende. Demora-se mais de 10 minutos em todo o processo. Nesse ponto, o diretor (usuário do banheiro) já percebeu que há alguém no ambiente e está enrolando para sair do trono. Mas a perna dele começa a dormir e ele desiste. Quando sai, dá de cara com você. Cara, finja que nada aconteceu, abaixe a cabeça e enxágüe a sua boca o mais rápido possível. Isso é deveras constrangedor.

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Pessoal! Sugiram novas situações constrangedoras!!!
Agradecimento especial ao nosso amigo Edgar Chaves, homossexual convicto, que nos propôs o tema.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Mesquinharia corporativa

Comecemos nesta postagem de uma forma agressiva. O povinho das báias é mesquinho. Não guardo experiência atuando em multinacionais no exterior, mas desconfio muito que seja cultural. Neste país, somos regidos por uma única lei ( a de Gérson) e esta faz nós - brasileiros - nos tornarmos extremamente precavidos contra qualquer tipo de malandragem, esperteza ou exploração. Somado-se a isto, as pessoas da empresa - que já possuem, em geral, uma natureza egoísta, se tornam mesquinhas pois sentem-se já exploradas mesmo trabalhando na multinacional dos sonhos.
Vou chamar de falta de espírito e de fato, não encontro um termo melhor para definir a recusa de Fernando em explicar, com paciência ao recém-chegado estagiário Leandro Leal a planilha de Praxedes. Chamaria de insegurança, caso fosse apenas o medo de perder o monopólio na “alimentação” da planilha (fato que por si só, já é bizarro). A questão é que Fernando alega paulatinamente que Leandro tem mais que “pastar” na planilha, porque ninguém ensinou a ele como era feito quando chegou. Sem contar com a burocracia que ele proporcionou quando Leandro perguntou o diretório da referida.
Não menos mesquinho é Rubão do contas a pagar que mesmo tendo dinheiro na carteira, não empresta ao seu colega de báia (trabalham juntos a 5 anos) no almoço, fazendo o camarada ir e voltar os três quarteirões que separaram a empresa do restaurante, só para buscar a esquecida carteira. Há muitos anos atrás comprou um “Trident” na volta do almoço para uma colega, porém, logo na chegada do escritório, passou a cobrá-la insistentemente por e-mail.
A Lu é contundente: convida todos do RH, menos a recém-chegada estagiária Graciela para o Happy-hour de logo mais. Luciana.Hauber morre de medo de deixar de ser o centro das atenções com a chegada de uma outra mulher. Certamente o Teixeira não dispensará seus freqüentes elogios a ela em forma de piadinha corporativa sem-graça, do tipo: “Lu, será que não tem vaga no RH para eu trabalhar ao seu lado?”. A partir de agora, rodeará certamente a Graci, a estagiária que foi contratada pelo amigo do Teixeira por causa de seus dotes incríveis. Como ótima analista de recrutamento que é, havia selecionado aquele estagiário que parecia o galã da novela das oito, mas a voz superior determinou a contratação da sua futura rival.
A mesquinharia dos “colaboradores” (adoramos este termo) é dantesca a ponto de tornar os objetivos e valores da empresa - que, verdadeiramente, deveriam nortear as pessoas lá envolvidas - motivos de chacota ou oportunismo. Um dos comportamentos padrões em uma corporação é o egoísmo, geralmente partindo de pessoas com CV gigantes, mas alma pequena.
O supervisor da controladoria passou a duelar com o Aranha (gerente do fiscal ) quando este decidiu "empurrar" a divisória que separa os dois departamentos, invadindo o território alheio em 1,5 cm, para conseguir alocar uma impressora. Foi travada uma batalha homérica, pois, como ousa este tal de Aranha ultrapassar a dimensão prevista pelo orçamento ? Então o orçamento não tem valor nenhum ? O CEO assinou! Ele não hesitou: levou a questão para ser tratada de diretor para diretor.
Não levar vantagem individual em situações corriqueiras de trabalho é denominado “mortadelonicamente” de “ineficiência” na favela das grandes empresas (báias). Jeferson assumiu algumas atividades de Mário Cesar quando este foi promovido, porém não obteve nenhum benefício adicional. Portanto, foi logo denominado “trouxa”. Ele mesmo se intitula desta forma na seção lamentação dos “HH”(vulgo happy hour – este jargão será trazido na próxima aula de “corporatês).
Incomoda-me muito a maneira como o povinho da empresa encara o“There´s no free lunch”. O termo – que sugere ser utilizado num contexto de negócio mais abrangente- não deveria substituir importantes valores de um bom profissional, tal como coleguismo e lealdade. E é exatamente isto que ocorre. Colegas de báias são vistos, no mínimo, como concorrentes, quando não como inimigos. Não se faz favores a troco de nada, e quando isto ocorre, aquele que recebeu a ajuda será cobrado de uma forma ou de outra e com juros.
Se o Paulinho ficou até tarde fazendo a planilha que a Mari deveria entregar, muito certamente ela pagará em circunstâncias posteriores. Se a Mari sempre atende os telefonemas do Fernando para dizer que ele não se encontra (muito corriqueiro quando o camarada quer fugir de eventuais cobranças), pode ter certeza que ele já está de “rabo preso”.
Decorreremos nos próximos capítulos sobre os reembolsos de despesas, mas é muito pertinente abordar o tema agora para finalizar esta postagem. Alias, este é um dos melhores exemplos de mesquinharia: por mais ínfima que seja a despesa, parece até questão pessoal quando a empresa se encontra devedora em relação à alguém. Quando retornou da “viagem a trabalho” nos EUA, Mário César cobrou TODOS os dias (sem exceção) o Rubão do contas a pagar, a quantia exorbitante de US$ 15,00 que gastou a mais em sua odisséia.
As corporações – principalmente as multinacionais e/ou as de grande porte – são verdadeiras máquinas de criar pessoas pobres de espírito. A sensação de estar sendo enganado ou explorado é sentida com mais intensidade na medida em que os anos passam e pelo contato com os famosos “profissionais viciados”, as verdadeiras âncoras de uma empresa.
Tenho perfeita convicção que um jovem - na noite que antecedeu seu primeiro dia em seu primeiro trabalho – idealizou aquele grupo de pessoas trabalhando mutuamente em torno de um objetivo maior – ou seja, tudo que a corporação de fato deveria ser. E hoje, depois de anos de profissão (entenda, doutrinado pelo mundo corporativo), envergonha-se da suposta ingenuidade daqueles tempos, quando de fato, deveria sentir orgulho de pelo menos um dia em sua vida ter agido ou pensado com nobreza.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Patrocínio de Eventos Grandiosos

A empresa Alfa traz ao Brasil U2 – WORLD TOUR 2009!!!” – É impressionante como essa simples frase mudará o comportamento de todo o Zé Povinho da empresa nos próximos 2 meses. Pessoalmente, acho que essa é uma das situações mais interessantes que podem ocorrer numa empresa. É a sujeira explícita; o pequeno poder no seu estado mais puro; a arrogância; ou, como dizem na quebrada, é o exemplo maior de gozar com o pau dos outros. E tem diversas formas de ser narrada. Prefiro aqui tentar descrever um pouco o que acontece em cada área.

Marketing: área que teve a idéia – se considera, portanto, a dona do projeto.

É o grande evento do ano... É a chance de distribuir dezenas de convites para os amigos da faculdade, da academia, do clube e do colégio (uma distribuição extremamente estratégica, como se pode perceber), com um único intuito: “ver e ser visto”.

O já costumeiramente arrogante povo de marketing se torna ainda mais pedante. Passam a agir como se fossem íntimos amigos de Bono Vox, The Edge e companhia. Mas não percebem que, no fundo, não passam de meros cambistas de luxo, que trocam ingressos por status.

Ouse pedir um convite! Ouse! Se você não for, no mínimo, um gerente sênior, vai passar nervoso com a síndrome de pequeno poder dos cambistas de marketing, digo, profissionais de marketing.


Vendas: premia os melhores vendedores e clientes VIP com ingressos – se considera, portanto, a dona do projeto.

Hahahahaha! Já dou risada só de lembrar como funciona na área de vendas!

Diferentemente da área de marketing, onde é farta a posse de convites, sobram “poucos” convites para a área de vendas:

- 50 convites para os clientes VIP, que normalmente são convidados também pelo marketing;

- 30 convites da “Hot-Area” (aquele espaço onde o você sente o cuspe do vocalista da banda) para o diretor, sua família e amigos dos seus filhos. Afinal de contas, é o diretor. E diretor é Deus, como já sabemos.

- 10 convites do Camarote Especial para os 5 gerentes de área levarem suas esposas. O Camarote Especial é um pouco mais longe do palco. Mas quem é que se importa? Tem coxinha e Red Label a noite toda! Muito “Very Important People”;

- Por fim, 3 convites de arquibancada (onde mal se ouve o som) a serem dados aos melhores vendedores do ano! Olha como a empresa sabe motivar os funcionários! Detalhe: a empresa tem 1.843 vendedores espalhados pelo Brasil. É uma piada. Mas eles são da raia miúda. Não dá para misturar com o diretor, né? Não sabem se portar, são verdadeiros ogros, escória social. Engraçado como na corporação se confunde cargo com personalidade. “Um estagiário que já foi para Paris e eu, o new line products supervisor, não!?!?!?!?” – assunto bom para outro post. Vamos seguir com o evento do ano.


Demais mortais de outras áreas

Como sabemos, a empresa não é formada só de vendas e marketing. Sobraram 30 convites. Como distribuir? Simples: os deuses (diretores de outras áreas) precisam ir. E com quantos acompanhantes quiserem. Sobraram 5. É aí que começa a calhordagem, a baixaria.

Imaginem vocês o poder que a Juliana, do marketing, acha que tem com esses 5 convites que sobraram? Meu Deus! É só patada! Só arrogância! Mas, confesso, acho que um pouquinho de razão ela tem...

Imaginem, por outro lado, a lambição e babação em cima dela?!? É Ju pra cá, Juju pra lá. A Mari ficou melhor amiga dela! Contou até que já deu pro Paulinho! (Pobre Mari... Todo mundo já sabia, pequena...). A recepcionista mal humorada (que ninguém sabe o nome) começou até a dar bom dia à Juliana! O Fernando, de Finanças, não desconta mais nela os brados do seu chefe por causa das diferenças de 0,02% em relação aos números da matriz. E o estagiário que tem todos os discos do U2 e ficou na fila por 18h sem conseguir comprar ingressos vê nela sua última esperança de conseguir o tão sonhado. Mas a Ju é de marketing e decidida! Os ingressos vão para......... Dani, Cami, Maju, Kika e Lili, suas amigas da faculdade.