Luis Fernando Veríssimo, grande escritor disse certa vez: “se você tivesse que identificar, em uma única palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu todo o seu potencial, esta palavra seria “reunião”. Vou lhe mostrar, caro leitor, que o nobre Veríssimo estava errado, e que reuniões são importantíssimas para o sucesso de uma organização. E vou mais além, vou lhe dar as dicas para fazer uma reunião perfeita.
A preparação. Tudo começa pela preparação da reunião. Reserve a maior sala da empresa e peça para a assistente do diretor providenciar pães de queijo. Reforce que os pães de queijo devem ser entregues no máximo 5 minutos antes do horário de início da reunião, de modo a garantir que eles estejam bem quentinhos.
A Convocação. Seja extremamente criterioso ao convocar os participantes da reunião. Os gerentes chamados de “pica-grossa” reparam muito nas pessoas presentes na lista de convocação, antes de confirmar presença. Certifique-se de que convocou todos os diretores e não incluiu nenhum analista jr. por engano. Depois de disparar o email de convocação da reunião, você pode chamar aquele jovem talento, com cargo inferior aos demais participantes (sempre em off). Isso vai garantir ao jovem uma injeção de motivação extra por 2 meses na empresa, uma vez que se sentirá privilegiado por ser o único jr. na reunião.
Tempo. Reserve no Outlook, pelo menos 2 horas como tempo de duração da reunião. Isso vai mostrar a todos que você tem algo muito importante para dividir e que você precisa que cada um contribua com toda sua experiência e visão macro do negócio. E ainda vai impedir que eles agendem coisas na sequência, já que você vai bloquear seus horários.
Material. Todos devem chegar com seus caderninhos abraçados no abdômen e suas canetas à mão, para o caso de ter algo muito importante para se anotar. Mesmo que não tenha nada importante para anotar, anote.
Postura. Encoste na cadeira, e tente envergar sua postura para trás o máximo possível. Em seguida, cruze as pernas deixando a direita paralela ao solo, braço direito paralelo à perna, encostado no abdômen, servindo de base para o esquerdo que vai estar com o cotovelo apoiado nas costas da mão, de maneira que sua mão esquerda fique segurando seu queixo. Resumindo, posição de “fodão”.
Participação. Sempre fale. Mesmo que seja apenas para repetir o que o outro já falou. Neste caso, comece com a expressão “apenas para frisar, concordo com o Almeida”. Isso elimina a possibilidade de te verem como chupim.
Dica do titio. De tempos em tempos, abra seu notebook, e estique ele o mais afastado do seu corpo possível para que os outros possam ver o que está fazendo e não faça nada. Apenas digite cálculos aleatórios no Excel. Podem ser cálculos do tipo: “53x14=742”, “742/35=20,6111111”. O único intuito disso é para que pensem que você é um cara orientado para resultados e que está pensando além dos demais, como aquele grande mestre de xadrez que antevê 12 jogadas, com a diferença de que você não está antevendo porra nenhuma.
Desfecho. Se foi você que organizou essa reunião, faça de tudo para que ela dure o máximo possível. Caso perceba que as pessoas estão começando a ficar desinteressadas, peça a participação delas, como aquele professor de colégio que usa desse artifício para não deixar os alunos dormirem, sabe?
Agindo dessa maneira, tenho certeza de que você será promovido. Agora, pensando bem, concordo com você, caro Veríssimo. Se eu tivesse que identificar, em uma única palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu todo o seu potencial, esta palavra seria “reunião”.
domingo, 4 de setembro de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
CORPORATÊS - AULA FINAL
Na medida em que estamos concluindo a primeira parte de nosso blog, não há nada mais justo, necessário e oportuno do que finalizar o curso nível básico de corporatês. Nesta aula final, não haverá separação entre o business english e as expressões locais; desta vez falaremos de todos os termos juntos em uma aula do tipo telecurso segundo grau 5h30 da manhã (corporativos consideram bizarros tais programas; apenas assistem quando passam a noite em claro esperando a comida do dia seguinte no primeiro horário).
Na primeira aula, já havíamos passeado superficialmente pela síndrome sádico-anal corporativa. Desta vez colocarei o dedo com mais profundidade no tema. Após dois anos ausente do mundo corporativo, resolvi dedicar quatro horas deste último sábado à análise do tema: “por que os corporativos tomam comidas de rabo?”
Meu propósito foi complexo, porém atingi algumas interessantes conclusões; A expressão transcende o sentido mais óbvio, o qual, supostamente, traduziria a dor de ser cobrado e indagado pelo chefinho de forma moral, imoral e amoral! Há um prazer inconsciente! E pasmem: no universo corporativo, esta expressão não é caracterizadamente sádica; ela é verdadeiramente masoquista. Pensem bem! Corporativos contam muito mais histórias em que tomaram comidas, em relação àquelas em que “comeram o toco” do fulano.
Quando o chefinho – vulgo superior direto – está furioso, o corporativo sempre diz: “putz, tomei uma comida daquelas”. Quando é dele a vez da fúria contra terceiros subordinados, então diz:“chamei fulano na minha sala”. Isto ainda desconsiderando as estórias em 3ª pessoa. Um tal de comida de um, “enrabada de outro”! O fato é: muitas pessoas apreciam e se identificam com comidas de rabo nas empresas. Se o sentido fosse literal, certamente, muitos corporativos já estariam usando fraldas geriátricas! Uma análise final me aponta que isto ocorre devido ao inconsciente prazer pela submissão ao poder corporativo! Entretanto, encerro aqui minhas análises e remeto a Freud a continuação do debate. Porém, deixo minha final conclusão: corporativos gostam mesmo de dar o . . .”feedback”!
Lembro ainda a primeira vez em que ouvi o termo feedback! O episódio ocorreu em uma aula de biologia do 3º colegial, quando estudávamos o sistema endócrino humano. Intimamente, sempre considerei a sonoridade do termo um tanto quanto engraçada. Anos mais tarde, Luciana Hauber disse que eu teria um feedback da entrevista na outra semana, tanto positivo quanto negativo.
Na biologia, o feedback negativo está ligado à regulação da secreção de hormônios; No mundo corporativo, à rejeição! Rigorosamente tudo no mundo corporativo inicia e finda com um feedback. Guardo algumas dúvidas se a sonoridade da palavra causa certo conforto corporativo ou o simples fato de pertencer a classe gramatical do business english proporciona algum bem-estar. O fato é que o termo é detentor de gigantesca popularidade nos antros corporativos. Pessoas dão, recebem e aguardam feedback sempre.
Recorrendo novamente aos auxílios da psicologia, acredito que esta dependência do feedback está associada ao universo de máscaras das empresas. Por estarem sempre alienados, corporativos estão muito mais preocupados com opiniões e veredictos de terceiros do que em formar opiniões próprias. Corporativos são, em geral, carentes e dependem sempre de feedback positivos.
É verdade que a escalada de sucesso na vida corporativa está atrelada a uma sucessão de feedback positivos! No entanto, corporativos esquecem que o principal feedback é o próprio, o íntimo. E assim atravessam noites de insônia e agonia, esperando o julgamento final famigeradamente denominado feedback.
Agonia e insônia mesmo, sempre quando o deadline é na primeira hora do dia seguinte. E não há nada mais apropriado do que o termo oriundo do business english deadline. O não cumprimento de obrigações formais no prazo em multinacionais merece a morte! Mesmo que a atividade sido executada de forma esdrúxula e as obrigações não formais e intrínsecas - tais como “não dar marteladas”- não tenham sido cumpridas.
E então o significado prático do termo passa a equivaler àqueles tipos de partidas decisivas de futebol em que o time precisa atingir o resultado nos minutos finais. Paulinho sempre diz que em meia-hora o final report já estará na caixa de e-mail do chefinho; Fernando não responde e-mails, não atende pessoas e ignora piadas sempre aos 45 minutos do segundo tempo da deadline. Xingamentos à sua mãe em alto e brado som são permitidos – para os corporativos, o deadline vale mais que o deadmother!
Ana Fernanda da controladoria - em meio ao seu surto de stress psicótico dos minutos finais antes linha da morte (vulgo deadline) da consolidação do closing – inicia uma série infindável de marteladas de origem nervosas até que o esperado (e não necessariamente verdadeiro) número apareça – equivale ao gol. Closing trimestral: deadline delegado diretamente de Bloomington; O número deve estar na caixa de e-mail de Mr. Simpson ASAP, no mais tardar (para os tartarugas), on time!
O deadline está muito mais atrelado às nuances de poder corporativo, do que à eficiência, rapidez, qualidade, como supostamente deveria e parece ser. Respeitar o prazo, abrindo mão de reports precisos, detalhados e mais úteis soa como um voto crédulo e respeitoso às normas e hierarquias, mesmo que isto custe em resultados menos benéficos. E então, inconscientemente na mente do corporativo, mais vale um número qualquer reportado na hora certa, do que um número certo reportado em uma hora qualquer.
Nem tanto à disciplina, nem tanto ao perfeccionismo! Não faço aqui qualquer campanha a favor da anarquia corporativa ou ausência de prazos. Disciplina com relação ao tempo é necessária, desde que esta não vire um jogo de batata quente – ou seja repasse rapidamente antes de queimar-se, coibindo o trabalho qualitativamente rico. Nas empresas, a atitude ganha o apelido de “dar marteladas.”
Não vou esconder: demorei pelo menos um ano de meu primeiro estágio para entender o que significava o tão proferido e companheiro jargão “martelada”, famoso nos períodos de fechamento. Não sei se chamo este período de desconhecimento das marteladas de ano da inocência, da honestidade ou da bobeira; apenas recordo-me que enquanto todos falavam em dar marteladas, a controller passava pelo departamento para mencionar que não queria saber de marteladas!
Até que o mundo corporativo, reconhecido pelo pró-dinamismo (mesmo que isto infrinja valores como a honestidade), corrompeu-me pela primeira vez. O chefinho dirigiu-se a mim e logo ordenou: “dá uma martelada rapidinho para fazer bater manda para a Helena (controller) com cópia para mim”. Retornando ao início do texto: qualquer erro do estagiário e a trolha da martelada entraria no meu. . .histórico.
A função “atingir meta” do Excel ajudou-me, mas tornou-me uma pessoa acostumada e tarimbada em transgredir valores em nome do “fazer acontecer rapidamente” corporativo. Assim como todos corporativos são convidados a fazer! Peço desde já desculpas ao meu ultra-radicalismo de atitudes “corporofóbicas” e tenho consciência do quão forte é o que vou redigir agora, mas não vou me deter: o príncipio de martelar um número no relatório é o mesmo de forjar algo ou enganar alguém sobre as posses que não são suas. Ou seja, o 171 corporativo, internacional e glamoroso!
E fechando a classe dialética do corporatês da neurose conhecida como pressão por prazos, colocamos o mandamento nº 0 de qualquer ambiente corporativo: tudo é urgente e deve ser entregue sem delay, ASAP e se não for hoje, que seja amanhã no primeiro horário!
Entre as inúmeras teses que pretendo defender sobre o mundo corporativo, tenho uma a respeito da amaldiçoada palavra “urgente” no final de 95% dos e-mails enviados em uma empresa: a palavra urgente é um dos principais fatores para o aumento do nível de stress, nervosismo, hipertensão, suicídio, esquizofrenia, adrenalina e etc. Concordo a respeito da urgência em diversos assuntos, mas não entendo porque a analista Mari considera tudo que solicita urgente. Certa vez, recebi dela um e-mail convidando o pessoal para o amigo secreto, o qual seria realizado no dia 18 de dezembro. O e-mail datava do dia 1º e constava no final: “aos interessados, favor confirmar com urgência a participação no amigo secreto.”Minutos depois recebi um e-mail do chefinho (mais coerente), solicitando para fazer o backtrade da margem antes de entregar o fechamento.
Dado que eu era estagiário, inexperiente e estava em fase de fechamento do mês de novembro, passei por uma crise de valores sobre o que era mais importante naquele momento. Atender prontamente as solicitações do chefinho ou responder urgentemente e portanto diplomaticamente o e-mail da colega de nível hierárquico superior para não me queimar.
O backtrade era mais importante!O pedido de urgência da analista mari me remeteu a quando era criança e fingia estar doente para não ir a escola. Mamãe acreditava, até quando fiquei de fato! Mamãe entediou-se, não acreditou e mandou-me a escola com 39º de febre.
E então passei a ler os e-mails da Mari até a última letra antes da palavra urgente. E no dia seguinte, nos encontramos no estacionamento. Não me cumprimentou; Apenas me disse: "vc recebeu meu e-mail do amigo secreto? Confirma ele ASAP, vai!?!? "
Pior do que urgente! Pior do que as soon as possible! Pior do que tudo isso junto! A utilização do ASAP aqui em terras tupiniquins é uma das coisas mais bizarras, cafonas e esdrúxulas do planeta corporativo!
How é possível utilizarmos uma abreviação de um termo do business english com so many sinônimos in portuguese no meio de uma conversa informal in the Alpha central parking? Exatamente as mesmas conclusões que você tirou a respeito do que acabo de escrever, tiro quando após um e-mail repleto de erros primários de português, Fabrício redige no final:
“Qualquer dúvida, let me know ASAP!
Regards,”
Fabrício, fuck you!
Fechando definitivamente a classe business english desta primeira parte do blog, temos o homem da cadeira, vulgo chairman. Não fale deste homem em vão! Ele é poderoso, imponente, soberano e supremo. Um simples almoço pouco confortável dele com Dilma Roussef e a filial de Camaçari mandará ao mercado pelo menos mil desempregados.
Do seu quartel general, corporativamente denominado headquarter, o soberano toma decisões e todas elas conjuminam em milhares e milhares de comidas de rabo, marteladas, urgências, ASAP em todo o mundo ALPHA!
A expressão todo o mundo pertence a classe gramatical das megalomanias! Bem sei que a Alpha está em 80 países, mas o mundo corporativo é tão intercultural, a marca é tão difundida e a mania de grandeza tão martelada internamente, que os colaboradores ALPHA estão convencidos a respeito do ranking das marcas mais ouvidas no mundo: 1º Alpha, 3º Jesus Cristo, 4º Beatles, 5º Coca-cola. Não há segundo lugar! Nada se compara à grandeza da Alpha!
Algo é fato: 95% das atividades corporativas de médio e baixo escalão são macaquices. Acho inusitado e até mesmo engraçado quando Rubens do contas a pagar diz que no fiscal, o trabalho é macaquice pura! Entende-se por macaquice a atividade maçante, repetitiva, operacional e que demanda quase nenhum esforço intelectual. Ou seja, quase todas em uma multinacional!
Como Rubens pode subjugar a atividade de Rose do fiscal, se a sua função é processar e controlar as notas a serem pagas contidas no sistema, para que os respectivos pagamentos sejam executados?! E neste pequeno detalhe reside o grande truque do mundo corporativo! O cargo de Rubens na Alpha é A/P general expenses supervisor; A Alpha financia 70% de seu curso de inglês e 50 % da sua graduação; O treasure manager o convida várias vezes para almoçar!
Este show de pompa e glamour faz Rubens esquecer que a atividade dele, em linhas gerais, faz dele não mais que um operador barato de algum sistema ERP! Portanto, um macaco! Opa! Mais respeito, por favor! Afinal, Rubens é supervisor na Alpha e paga mais de 10 milhões todos os dias!
Neste mesmo caminho, proponho uma atividade. Faça um corporativo mais vaidoso ainda: convide-o a jogar na PJ, a conta do happy hour! O corporativo é em geral orgulhoso e arrogante por pensar ser uma espécie de célula da Alpha, detentor dos mesmos poderes que a multinacional onde trabalha! Concedê-lo o poder de utilizar da mesma barganha financeira é algo que desencadeia nele uma empáfia gigante!
E caminhando para o fim desta terceira e última aula, deixaremos o mais famigerado e badalados termo da história do mundo corporativo: "Se queimar"! Algo não quer calar dentro de mim! Os corporativos sentem um prazer inconsciente em ver o companheiro se queimar. Iniciamos nossa aula com uma posição masoquista e agora findamos com o lado sádico dos corporativos! Acho impressionante a frieza e a indiferença, quando algum corporativo relata que fulano está se queimando!
As expressões idiomáticas e as gírias fazem parte da linguagem informal e figurativa e é a forma de expressar o inconsciente coletivo de um agrupamento de pessoas semelhantes (tribo). Pelos jargões do corporatês, consigo perceber pessoas cada vez mais agitadas pressionando e sendo pressionadas com metas em prol da manutenção de um poder corporativo superficialmente fantástico e moderno, no entanto, intimamente alienante e massacrante.
Na primeira aula, já havíamos passeado superficialmente pela síndrome sádico-anal corporativa. Desta vez colocarei o dedo com mais profundidade no tema. Após dois anos ausente do mundo corporativo, resolvi dedicar quatro horas deste último sábado à análise do tema: “por que os corporativos tomam comidas de rabo?”
Meu propósito foi complexo, porém atingi algumas interessantes conclusões; A expressão transcende o sentido mais óbvio, o qual, supostamente, traduziria a dor de ser cobrado e indagado pelo chefinho de forma moral, imoral e amoral! Há um prazer inconsciente! E pasmem: no universo corporativo, esta expressão não é caracterizadamente sádica; ela é verdadeiramente masoquista. Pensem bem! Corporativos contam muito mais histórias em que tomaram comidas, em relação àquelas em que “comeram o toco” do fulano.
Quando o chefinho – vulgo superior direto – está furioso, o corporativo sempre diz: “putz, tomei uma comida daquelas”. Quando é dele a vez da fúria contra terceiros subordinados, então diz:“chamei fulano na minha sala”. Isto ainda desconsiderando as estórias em 3ª pessoa. Um tal de comida de um, “enrabada de outro”! O fato é: muitas pessoas apreciam e se identificam com comidas de rabo nas empresas. Se o sentido fosse literal, certamente, muitos corporativos já estariam usando fraldas geriátricas! Uma análise final me aponta que isto ocorre devido ao inconsciente prazer pela submissão ao poder corporativo! Entretanto, encerro aqui minhas análises e remeto a Freud a continuação do debate. Porém, deixo minha final conclusão: corporativos gostam mesmo de dar o . . .”feedback”!
Lembro ainda a primeira vez em que ouvi o termo feedback! O episódio ocorreu em uma aula de biologia do 3º colegial, quando estudávamos o sistema endócrino humano. Intimamente, sempre considerei a sonoridade do termo um tanto quanto engraçada. Anos mais tarde, Luciana Hauber disse que eu teria um feedback da entrevista na outra semana, tanto positivo quanto negativo.
Na biologia, o feedback negativo está ligado à regulação da secreção de hormônios; No mundo corporativo, à rejeição! Rigorosamente tudo no mundo corporativo inicia e finda com um feedback. Guardo algumas dúvidas se a sonoridade da palavra causa certo conforto corporativo ou o simples fato de pertencer a classe gramatical do business english proporciona algum bem-estar. O fato é que o termo é detentor de gigantesca popularidade nos antros corporativos. Pessoas dão, recebem e aguardam feedback sempre.
Recorrendo novamente aos auxílios da psicologia, acredito que esta dependência do feedback está associada ao universo de máscaras das empresas. Por estarem sempre alienados, corporativos estão muito mais preocupados com opiniões e veredictos de terceiros do que em formar opiniões próprias. Corporativos são, em geral, carentes e dependem sempre de feedback positivos.
É verdade que a escalada de sucesso na vida corporativa está atrelada a uma sucessão de feedback positivos! No entanto, corporativos esquecem que o principal feedback é o próprio, o íntimo. E assim atravessam noites de insônia e agonia, esperando o julgamento final famigeradamente denominado feedback.
Agonia e insônia mesmo, sempre quando o deadline é na primeira hora do dia seguinte. E não há nada mais apropriado do que o termo oriundo do business english deadline. O não cumprimento de obrigações formais no prazo em multinacionais merece a morte! Mesmo que a atividade sido executada de forma esdrúxula e as obrigações não formais e intrínsecas - tais como “não dar marteladas”- não tenham sido cumpridas.
E então o significado prático do termo passa a equivaler àqueles tipos de partidas decisivas de futebol em que o time precisa atingir o resultado nos minutos finais. Paulinho sempre diz que em meia-hora o final report já estará na caixa de e-mail do chefinho; Fernando não responde e-mails, não atende pessoas e ignora piadas sempre aos 45 minutos do segundo tempo da deadline. Xingamentos à sua mãe em alto e brado som são permitidos – para os corporativos, o deadline vale mais que o deadmother!
Ana Fernanda da controladoria - em meio ao seu surto de stress psicótico dos minutos finais antes linha da morte (vulgo deadline) da consolidação do closing – inicia uma série infindável de marteladas de origem nervosas até que o esperado (e não necessariamente verdadeiro) número apareça – equivale ao gol. Closing trimestral: deadline delegado diretamente de Bloomington; O número deve estar na caixa de e-mail de Mr. Simpson ASAP, no mais tardar (para os tartarugas), on time!
O deadline está muito mais atrelado às nuances de poder corporativo, do que à eficiência, rapidez, qualidade, como supostamente deveria e parece ser. Respeitar o prazo, abrindo mão de reports precisos, detalhados e mais úteis soa como um voto crédulo e respeitoso às normas e hierarquias, mesmo que isto custe em resultados menos benéficos. E então, inconscientemente na mente do corporativo, mais vale um número qualquer reportado na hora certa, do que um número certo reportado em uma hora qualquer.
Nem tanto à disciplina, nem tanto ao perfeccionismo! Não faço aqui qualquer campanha a favor da anarquia corporativa ou ausência de prazos. Disciplina com relação ao tempo é necessária, desde que esta não vire um jogo de batata quente – ou seja repasse rapidamente antes de queimar-se, coibindo o trabalho qualitativamente rico. Nas empresas, a atitude ganha o apelido de “dar marteladas.”
Não vou esconder: demorei pelo menos um ano de meu primeiro estágio para entender o que significava o tão proferido e companheiro jargão “martelada”, famoso nos períodos de fechamento. Não sei se chamo este período de desconhecimento das marteladas de ano da inocência, da honestidade ou da bobeira; apenas recordo-me que enquanto todos falavam em dar marteladas, a controller passava pelo departamento para mencionar que não queria saber de marteladas!
Até que o mundo corporativo, reconhecido pelo pró-dinamismo (mesmo que isto infrinja valores como a honestidade), corrompeu-me pela primeira vez. O chefinho dirigiu-se a mim e logo ordenou: “dá uma martelada rapidinho para fazer bater manda para a Helena (controller) com cópia para mim”. Retornando ao início do texto: qualquer erro do estagiário e a trolha da martelada entraria no meu. . .histórico.
A função “atingir meta” do Excel ajudou-me, mas tornou-me uma pessoa acostumada e tarimbada em transgredir valores em nome do “fazer acontecer rapidamente” corporativo. Assim como todos corporativos são convidados a fazer! Peço desde já desculpas ao meu ultra-radicalismo de atitudes “corporofóbicas” e tenho consciência do quão forte é o que vou redigir agora, mas não vou me deter: o príncipio de martelar um número no relatório é o mesmo de forjar algo ou enganar alguém sobre as posses que não são suas. Ou seja, o 171 corporativo, internacional e glamoroso!
E fechando a classe dialética do corporatês da neurose conhecida como pressão por prazos, colocamos o mandamento nº 0 de qualquer ambiente corporativo: tudo é urgente e deve ser entregue sem delay, ASAP e se não for hoje, que seja amanhã no primeiro horário!
Entre as inúmeras teses que pretendo defender sobre o mundo corporativo, tenho uma a respeito da amaldiçoada palavra “urgente” no final de 95% dos e-mails enviados em uma empresa: a palavra urgente é um dos principais fatores para o aumento do nível de stress, nervosismo, hipertensão, suicídio, esquizofrenia, adrenalina e etc. Concordo a respeito da urgência em diversos assuntos, mas não entendo porque a analista Mari considera tudo que solicita urgente. Certa vez, recebi dela um e-mail convidando o pessoal para o amigo secreto, o qual seria realizado no dia 18 de dezembro. O e-mail datava do dia 1º e constava no final: “aos interessados, favor confirmar com urgência a participação no amigo secreto.”Minutos depois recebi um e-mail do chefinho (mais coerente), solicitando para fazer o backtrade da margem antes de entregar o fechamento.
Dado que eu era estagiário, inexperiente e estava em fase de fechamento do mês de novembro, passei por uma crise de valores sobre o que era mais importante naquele momento. Atender prontamente as solicitações do chefinho ou responder urgentemente e portanto diplomaticamente o e-mail da colega de nível hierárquico superior para não me queimar.
O backtrade era mais importante!O pedido de urgência da analista mari me remeteu a quando era criança e fingia estar doente para não ir a escola. Mamãe acreditava, até quando fiquei de fato! Mamãe entediou-se, não acreditou e mandou-me a escola com 39º de febre.
E então passei a ler os e-mails da Mari até a última letra antes da palavra urgente. E no dia seguinte, nos encontramos no estacionamento. Não me cumprimentou; Apenas me disse: "vc recebeu meu e-mail do amigo secreto? Confirma ele ASAP, vai!?!? "
Pior do que urgente! Pior do que as soon as possible! Pior do que tudo isso junto! A utilização do ASAP aqui em terras tupiniquins é uma das coisas mais bizarras, cafonas e esdrúxulas do planeta corporativo!
How é possível utilizarmos uma abreviação de um termo do business english com so many sinônimos in portuguese no meio de uma conversa informal in the Alpha central parking? Exatamente as mesmas conclusões que você tirou a respeito do que acabo de escrever, tiro quando após um e-mail repleto de erros primários de português, Fabrício redige no final:
“Qualquer dúvida, let me know ASAP!
Regards,”
Fabrício, fuck you!
Fechando definitivamente a classe business english desta primeira parte do blog, temos o homem da cadeira, vulgo chairman. Não fale deste homem em vão! Ele é poderoso, imponente, soberano e supremo. Um simples almoço pouco confortável dele com Dilma Roussef e a filial de Camaçari mandará ao mercado pelo menos mil desempregados.
Do seu quartel general, corporativamente denominado headquarter, o soberano toma decisões e todas elas conjuminam em milhares e milhares de comidas de rabo, marteladas, urgências, ASAP em todo o mundo ALPHA!
A expressão todo o mundo pertence a classe gramatical das megalomanias! Bem sei que a Alpha está em 80 países, mas o mundo corporativo é tão intercultural, a marca é tão difundida e a mania de grandeza tão martelada internamente, que os colaboradores ALPHA estão convencidos a respeito do ranking das marcas mais ouvidas no mundo: 1º Alpha, 3º Jesus Cristo, 4º Beatles, 5º Coca-cola. Não há segundo lugar! Nada se compara à grandeza da Alpha!
Algo é fato: 95% das atividades corporativas de médio e baixo escalão são macaquices. Acho inusitado e até mesmo engraçado quando Rubens do contas a pagar diz que no fiscal, o trabalho é macaquice pura! Entende-se por macaquice a atividade maçante, repetitiva, operacional e que demanda quase nenhum esforço intelectual. Ou seja, quase todas em uma multinacional!
Como Rubens pode subjugar a atividade de Rose do fiscal, se a sua função é processar e controlar as notas a serem pagas contidas no sistema, para que os respectivos pagamentos sejam executados?! E neste pequeno detalhe reside o grande truque do mundo corporativo! O cargo de Rubens na Alpha é A/P general expenses supervisor; A Alpha financia 70% de seu curso de inglês e 50 % da sua graduação; O treasure manager o convida várias vezes para almoçar!
Este show de pompa e glamour faz Rubens esquecer que a atividade dele, em linhas gerais, faz dele não mais que um operador barato de algum sistema ERP! Portanto, um macaco! Opa! Mais respeito, por favor! Afinal, Rubens é supervisor na Alpha e paga mais de 10 milhões todos os dias!
Neste mesmo caminho, proponho uma atividade. Faça um corporativo mais vaidoso ainda: convide-o a jogar na PJ, a conta do happy hour! O corporativo é em geral orgulhoso e arrogante por pensar ser uma espécie de célula da Alpha, detentor dos mesmos poderes que a multinacional onde trabalha! Concedê-lo o poder de utilizar da mesma barganha financeira é algo que desencadeia nele uma empáfia gigante!
E caminhando para o fim desta terceira e última aula, deixaremos o mais famigerado e badalados termo da história do mundo corporativo: "Se queimar"! Algo não quer calar dentro de mim! Os corporativos sentem um prazer inconsciente em ver o companheiro se queimar. Iniciamos nossa aula com uma posição masoquista e agora findamos com o lado sádico dos corporativos! Acho impressionante a frieza e a indiferença, quando algum corporativo relata que fulano está se queimando!
As expressões idiomáticas e as gírias fazem parte da linguagem informal e figurativa e é a forma de expressar o inconsciente coletivo de um agrupamento de pessoas semelhantes (tribo). Pelos jargões do corporatês, consigo perceber pessoas cada vez mais agitadas pressionando e sendo pressionadas com metas em prol da manutenção de um poder corporativo superficialmente fantástico e moderno, no entanto, intimamente alienante e massacrante.
Afinal, não podemos considerar saudável um ambiente onde pessoas são queimadas e tomam comidas de rabo", têm como atividade principal algumas macaquices, dão marteladas e são pressionadas a todo momento pelo preciosismo muitas vezes desnecessário daqueles que cobram urgência na esperança de impor um poder que na verdade não os pertence!
sábado, 5 de fevereiro de 2011
A hipócrita primeira pessoa do plural
Eu, tu, ele, nós, vos, eles! É muito peculiar a forma como o mundo corporativo manipula e explora uma questão semântica tão banal quanto à utilização dos pronomes pessoais em favor da manutenção de imagens e máscaras. E tratando-se de teamwork em terras tropicais da América do Sul, o pronome nós é uma instituição no ambiente corporativo local, tanto quanto nas teorias.
Jamais se começa uma exposição verbal formal sem a primeira pessoa do plural, seja ela uma entrevista, uma reunião ou, até mesmo, em uma rápida conversa no café. De fato, seria um hábito saudável, caso a atitude não fosse tão manipulada e distorcida, sempre conforme a legislação de Gerson, vigente neste país desde a mais remota idade.
Fernando do planejamento estratégico, sempre diz que "NÓS estamos envolvidos em um projeto de 10 milhões de dólares". Disse ainda que "NÓS estamos em uma joint-venture com a Beta, na exploração de um mercado gigantesco." Declarou “in off” no happy-hour, que "NÓS estamos nos preparando para adquirir a joãoson&joãoson!!!" Com ar de imponência, ainda diz que "NÓS faturamos 1 bi este trimestre!"
Fico admirado com a nobreza e o senso de coleguismo do colaborador Fernando, assumindo em conjunto as vitórias da Alpha. Sei o quão irrelevante o leitor possa considerar tal fato, bem como o que o mesmo deve pensar a cerca de meus devaneios e minhas implicâncias baratas, entretanto a minha frenética e psicótica perseguição ao corporativo resolveu ser implacável com Fernando.
Percebo que Fernando utiliza sim a terceira pessoa do plural, porém sempre quando sua participação é nula ou tendendo a zero e, simultaneamente, quando verbo + objeto direto seja algo extraordinário e esplendoroso, do tipo “faturamos 1 bi este trimestre”. Provavelmente, sua colaboração no referido faturamento seja menos de 0,001%! Sendo assim neste caso, meus valores, princípios e minha cara que já não é de pau me proibiriam terminantemente de gozar tão descaradamente do mérito.
É possível que os leitores – principalmente os corporativos – estejam estupefatos e revoltados com o meu radicalismo pontiagudo e maldoso, neste momento. Desculpo-me com o leitor corporativo, se isto é como um balde de água fria no refrigério que a suposta participação em um faturamento tão significativo proporciona, uma vez que o fato em si - além de extraordinário – confere um sentido e uma razão para sua vida e existência.
No entanto, não posso perdoar Fernando, uma vez que quando é o principal sujeito na execução de algo fabuloso e extraordinário NÃO utiliza, em hipótese alguma, o pronome NÓS. Sempre menciona que “EU fui responsável pelo projeto x”; “EU consolidei os números em menos de uma semana”, “EU liderei o processo de unificação dos departamentos”, “EU enviei e-mail com cópia para todos os gerentes questionando Mr Homer Simpsons (Homer.simpsons@us.alpha.com) da filial de Dallas (segunda principal da Alpha).”
Perceba que todos estes expedientes não são executados isoladamente e tampouco sem suporte de uma equipe. Tenha certeza de que a execução do projeto x precisou de pelo menos dois estagiários e um analista Junior; A consolidação dos números depende de uma série infindável de reportes interdepartamentais, com muitas pessoas envolvidas, até que o número apareça.
Até mesmo o e-mail para o Homer Simpsons! Fernando é egocêntrico, mas não louco! Certamente, não faria isto a revelia! Provavelmente, havia uma ebulição na filial brasileira contra Mr. Simpsons e um clima favorável para que ele tivesse o respaldo político em questionar alguém da filial de Dallas. Então porque ele não usa o pronome NÓS neste momento, já que contou, em todas ocasiões, com o respaldo de uma equipe? Sinto que o melhor adjetivo não é coleguismo, mas sim, oportunismo! Manipula-se o sujeito de acordo com o fato!
E, então, o perfil de liderança voltado para o teamwork vai por água abaixo. Caso isto ainda não tenha sido assimilado, proponho então uma nova situação. Os verbos+objeto direto de fatos desfavoráveis! Ele jamais se inclui como sujeito, mesmo quando há sua participação direta ou indireta. O pronome NÓS é evitado a qualquer custo. Repare que, segundo Fernando, "O PESSOAL DE SISTEMAS não atualizou as configurações do novo ERP, o que conjuminou nas inconsistências do fechamento!""A EQUIPE DO LACERDA (mesmo departamento do Fernando) não reportou os números três dias antes do deadline, conforme acordado." "CULPA DO FISCAL que sempre enrola com as notas fiscais."
Em casos de insucesso, a fórmula de Fernando é a 3ª pessoa do singular e do plural! Ele jamais está envolvido em algo mal-sucedido! Mesmo quando está! Neste caso, ora omite o fato, ora altera o pronome! Inconsistências no fechamento são responsabilidades dele, pois quem reporta, se responsabiliza pelos números! Não cumprimento de prazo não deixa de ser problema de quem atrasa, mesmo quando há atrasos na cadeia de reportes! A culpa é de NÓS, e não apenas deles!
Sinceramente, não haveria motivos para implicação com os corporativos, se houvesse em todas ocasiões e fatos, espírito de grupo e hombridade coletiva na responsabilização da equipe, tanto nos méritos, quanto nos deméritos, conforme pressupõe as teorias norte-americanas de gestão, os quais de fato são muito efetivas, cabíveis e pertinentes, quando o assunto é formas de se trabalhar em um contexto econômico, corporativo e de mercado cada vez mais dinâmico e competitivo.
Se esquece Fernando, assim como 95% dos corporativos brasileiros que o grande líder tem como principais qualidades a nobreza em assumir derrotas pessoais e o discernimento em conhecer os pontos em que precisa evoluir. Resta dúvida se podemos responsabilizar a cultura corporativa, a qual valoriza ao extremo os sucessos e reprime e condena implacavelmente o insucesso e o fracasso, pressionando os corporativos a assumirem apenas vitórias em seu discurso.
No entanto, algo é inquestionável em qualquer sociedade. Os valores, os princípios e a atitude nobre são as principais bandeiras de luta de um grande homem, mesmo que o uso indevido dos pronomes incomode ou desagrade os ouvidos corporativos de alguém! E então não apenas condeno, mas repudio totalmente Fernando, quando diz estar adquirindo junto com a Alpha a “joãoson&joãoson” ou participando da joint-venture com a Beta. Afinal, se ele exclui totalmente o mérito do grupo quando principal responsável de uma atividade, deve também excluir-se totalmente dos méritos da Alpha, uma vez que sua participação é ínfima.
Jamais se começa uma exposição verbal formal sem a primeira pessoa do plural, seja ela uma entrevista, uma reunião ou, até mesmo, em uma rápida conversa no café. De fato, seria um hábito saudável, caso a atitude não fosse tão manipulada e distorcida, sempre conforme a legislação de Gerson, vigente neste país desde a mais remota idade.
Fernando do planejamento estratégico, sempre diz que "NÓS estamos envolvidos em um projeto de 10 milhões de dólares". Disse ainda que "NÓS estamos em uma joint-venture com a Beta, na exploração de um mercado gigantesco." Declarou “in off” no happy-hour, que "NÓS estamos nos preparando para adquirir a joãoson&joãoson!!!" Com ar de imponência, ainda diz que "NÓS faturamos 1 bi este trimestre!"
Fico admirado com a nobreza e o senso de coleguismo do colaborador Fernando, assumindo em conjunto as vitórias da Alpha. Sei o quão irrelevante o leitor possa considerar tal fato, bem como o que o mesmo deve pensar a cerca de meus devaneios e minhas implicâncias baratas, entretanto a minha frenética e psicótica perseguição ao corporativo resolveu ser implacável com Fernando.
Percebo que Fernando utiliza sim a terceira pessoa do plural, porém sempre quando sua participação é nula ou tendendo a zero e, simultaneamente, quando verbo + objeto direto seja algo extraordinário e esplendoroso, do tipo “faturamos 1 bi este trimestre”. Provavelmente, sua colaboração no referido faturamento seja menos de 0,001%! Sendo assim neste caso, meus valores, princípios e minha cara que já não é de pau me proibiriam terminantemente de gozar tão descaradamente do mérito.
É possível que os leitores – principalmente os corporativos – estejam estupefatos e revoltados com o meu radicalismo pontiagudo e maldoso, neste momento. Desculpo-me com o leitor corporativo, se isto é como um balde de água fria no refrigério que a suposta participação em um faturamento tão significativo proporciona, uma vez que o fato em si - além de extraordinário – confere um sentido e uma razão para sua vida e existência.
No entanto, não posso perdoar Fernando, uma vez que quando é o principal sujeito na execução de algo fabuloso e extraordinário NÃO utiliza, em hipótese alguma, o pronome NÓS. Sempre menciona que “EU fui responsável pelo projeto x”; “EU consolidei os números em menos de uma semana”, “EU liderei o processo de unificação dos departamentos”, “EU enviei e-mail com cópia para todos os gerentes questionando Mr Homer Simpsons (Homer.simpsons@us.alpha.com) da filial de Dallas (segunda principal da Alpha).”
Perceba que todos estes expedientes não são executados isoladamente e tampouco sem suporte de uma equipe. Tenha certeza de que a execução do projeto x precisou de pelo menos dois estagiários e um analista Junior; A consolidação dos números depende de uma série infindável de reportes interdepartamentais, com muitas pessoas envolvidas, até que o número apareça.
Até mesmo o e-mail para o Homer Simpsons! Fernando é egocêntrico, mas não louco! Certamente, não faria isto a revelia! Provavelmente, havia uma ebulição na filial brasileira contra Mr. Simpsons e um clima favorável para que ele tivesse o respaldo político em questionar alguém da filial de Dallas. Então porque ele não usa o pronome NÓS neste momento, já que contou, em todas ocasiões, com o respaldo de uma equipe? Sinto que o melhor adjetivo não é coleguismo, mas sim, oportunismo! Manipula-se o sujeito de acordo com o fato!
E, então, o perfil de liderança voltado para o teamwork vai por água abaixo. Caso isto ainda não tenha sido assimilado, proponho então uma nova situação. Os verbos+objeto direto de fatos desfavoráveis! Ele jamais se inclui como sujeito, mesmo quando há sua participação direta ou indireta. O pronome NÓS é evitado a qualquer custo. Repare que, segundo Fernando, "O PESSOAL DE SISTEMAS não atualizou as configurações do novo ERP, o que conjuminou nas inconsistências do fechamento!""A EQUIPE DO LACERDA (mesmo departamento do Fernando) não reportou os números três dias antes do deadline, conforme acordado." "CULPA DO FISCAL que sempre enrola com as notas fiscais."
Em casos de insucesso, a fórmula de Fernando é a 3ª pessoa do singular e do plural! Ele jamais está envolvido em algo mal-sucedido! Mesmo quando está! Neste caso, ora omite o fato, ora altera o pronome! Inconsistências no fechamento são responsabilidades dele, pois quem reporta, se responsabiliza pelos números! Não cumprimento de prazo não deixa de ser problema de quem atrasa, mesmo quando há atrasos na cadeia de reportes! A culpa é de NÓS, e não apenas deles!
Sinceramente, não haveria motivos para implicação com os corporativos, se houvesse em todas ocasiões e fatos, espírito de grupo e hombridade coletiva na responsabilização da equipe, tanto nos méritos, quanto nos deméritos, conforme pressupõe as teorias norte-americanas de gestão, os quais de fato são muito efetivas, cabíveis e pertinentes, quando o assunto é formas de se trabalhar em um contexto econômico, corporativo e de mercado cada vez mais dinâmico e competitivo.
Se esquece Fernando, assim como 95% dos corporativos brasileiros que o grande líder tem como principais qualidades a nobreza em assumir derrotas pessoais e o discernimento em conhecer os pontos em que precisa evoluir. Resta dúvida se podemos responsabilizar a cultura corporativa, a qual valoriza ao extremo os sucessos e reprime e condena implacavelmente o insucesso e o fracasso, pressionando os corporativos a assumirem apenas vitórias em seu discurso.
No entanto, algo é inquestionável em qualquer sociedade. Os valores, os princípios e a atitude nobre são as principais bandeiras de luta de um grande homem, mesmo que o uso indevido dos pronomes incomode ou desagrade os ouvidos corporativos de alguém! E então não apenas condeno, mas repudio totalmente Fernando, quando diz estar adquirindo junto com a Alpha a “joãoson&joãoson” ou participando da joint-venture com a Beta. Afinal, se ele exclui totalmente o mérito do grupo quando principal responsável de uma atividade, deve também excluir-se totalmente dos méritos da Alpha, uma vez que sua participação é ínfima.
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